Porque o mundo está acabando

Enquanto temos chance, vemos um mundo em formosa desconstrução. Tão formosa quanto a certeza de que ele não acabará, já que passam-se anos e continuamos a ver edificações, bairros e cidades serem levantados. Por outro lado, crescemos sob a anunciada expectativa de que um dia tudo terá um fim, muito mais por interpretações religiosas do que pela própria ciência ou consciência humanas. Talvez por isso não tenhamos pensado em evitar a desordem mundial. Ou pensamos?

Sem ousar apontar quem está certo, se céticos ou religiosos, há que se admitir que a visão sacral teve mais tempo para se expandir do que a outra. E considerando o fim como algo “sagrado”, o ser humano pouco teria a fazer além de salvar a si próprio. E não importa se cremos ou não, o que parece ter permanecido no inconsciente coletivo foi apenas essa última idéia: salvar a si próprio.

Independente de religião – ou mesmo não tendo uma – estamos todos muito preocupados com todos, mas claro, um por si e cada qual também! (isso generalizando). E qual é o mal nisso se cada um é responsável apenas por si? O problema é que neste planeta tudo se materializa.

Pegue uma nota de R$ 10,00 e reconheça uma fração do trabalho de alguém, materializado em um papel. É isso que temos ali. Ouça os sinos da igreja de sua cidade; eles soam de um prédio que é a materialização da fé de milhares de pessoas. Faça um simples passeio de carro e participe materialmente do sonho capitalista da Revolução Industrial a muito mais que a todo vapor.

Continue no carro e aproveite o passeio. Passe pelas regiões centrais das cidades e se espante com o crescimento de edificações que mudam a paisagem sempre para melhor. Agora siga às periferias, contabilize as vítimas das drogas e não se assuste se as vidas dessas pessoas já fossem lastimáveis antes mesmo de a lástima se materializar na drogadição.

Isso mesmo, quando aposto que aqui tudo se torna material incluo-nos nesse processo de destruição maquiada de progresso. E me bati, por anos, para pensar numa mensagem que chegue aos ouvidos de quem escolhe mal os nossos representantes e passe facilmente tímpanos adentro. Outro dia a resposta chegou!

Os ricos já têm carros, casas, saúde de qualidade, acesso às faculdades (públicas), enfim, já têm tudo que um ser humano precisa para viver. Logo, quem precisa do governo são os pobres! Certo? Então, duas perguntas fecham esse parágrafo. O que leva um pobre a acreditar que os ricos lutariam por ele com competência se a maior parte deles nunca sentiu na pele o sofrimento dele? E se quem precisa de hospitais públicos, escolas públicas, empregos e uma enorme lista somos os pobres, porque haveria um rico de lutar por isso?

Pode parecer algo claro, porém tão óbvio quanto pouco explorado. Muito simples, mas pode se alastrar por entre as massas e desarticular o verdadeiro problema do Brasil e do mundo: quem comanda jamais precisou sobreviver e também não é exatamente isso o que eles comprovadamente almejam. Votar em alguém de nossa classe social – em todos os cargos – pode ser um bom começo, não acham?