ONGs Laranjas

     Infelizmente, nosso país é um país da vergonha e que sempre se arruma um jeito para a corrupção. Não é à-toa que se diz que o Brasil é o país do jeitinho. Este jeitinho tanto pode ser o jeitinho que o brasileiro luta para sobreviver, como também é jeitinho que o brasileiro dá para burlar as leis e roubar. 

     Nós que atuamos no Terceiro Setor – acredito que a maioria das entidades – e somos honestos, precisamos passar por uma burocracia imensa para regularizar a entidade e assim, ficar na esperança que pode ter uma contribuição financeira do governo, já que na verdade, somos seus auxiliares no que tange a diversas áreas sociais, culturais, etc. No entanto, mesmo dentro das normas, das regulamentações que é pedido pelo estado, ficamos com o pires vazio na mão. 

     Agora começamos a ver a mídia vindo trazer atona – alias aquilo que nós todos que atuamos no Terceiro Setor sabemos – as falcatruas que existem, onde ongs são criadas, não percorrem o tempo, nem a burocracia necessária e nelas são depositadas inúmeras quantias em dinheiro para a corrupção. 

     O episódio que está havendo tem dois lados; um negativo e um positivo. O negativo é que, quer queira ou não as entidades do terceiro setor honestas acabam sendo maculadas por estas desonestas. A grande parte da sociedade infelizmente, não consegue fazer a distinção entre a honesta e a desonesta. Desta forma, muitas entidades poderão sofrer as conseqüências desta roubalheira generalizada das ongs. 

     O fato positivo é que de certa forma estas entidades constituídas para a corrupção sendo desmantelada – isto é, se for – acaba trazendo mais idoneidade e transparência para aquelas que são honestas e de fato cumprem seu papel. 

     Infelizmente, esta realidade da corrupção existe e já passei por esta experiência o qual quero relatar. 

     Sou filiado a um partido – estou desfiliando deste partido e não vou filiar a mais nenhum – e já fui candidato a vereador em 2002. Certo dia, recebi uma ligação de um dirigente do partido me fazendo uma proposta. Primeiramente, ele veio com  uma conversa para se dar conta da pessoa o qual estava conversando – na conversa preliminar ele não sabia que era diretor de uma entidade. Ele me fez duas propostas uma era para assumisse a presidência do diretório municipal do partido em minha cidade, outra que saísse como candidato a vereador novamente e, para que tivesse a eleição garantida me pediu que fundasse uma ONG para ajudar os pobres. Em sua conversa me disse que tinha muitos amigos no governo, e assim poderia repassar verbas com facilidade. Disse ainda que no governo não falta dinheiro para as entidade o problema é que, se não tiver alguém infiltrado lá dentro não consegue nada. Ainda disse que devido as leis atualmente, sair recursos para pessoa física não é possível, no entanto, para ongs a coisa mais simples que tem. 

     Como não concordei, ele não voltou a entrar mais em contato, e acredito que nem sou presidente do diretório municipal do partido, porque nossa conversa cessou em 2 ou 3 telefonemas. 

     Narrei isto para dizer que esta é a realidade das ongs. O que ocorreu comigo, ocorre com varias entidade e muitas delas cedem a estes bandidos por dois motivos. Um talvez porque estão em busca de interesses pessoais, outras porque é a forma que conseguem para poder tocar adiante suas ongs, porém, com um detalhe, acabam vendendo a alma para o diabo vivendo presos à estes políticos e no final se corrompem também. 

     Finalizando, esta é a triste realidade. Enquanto 90 % das ongs que são honestas sérias vivem sob fiscalização, sob a interminável burocracia apenas alimentando a ilusão de receber algum tipo de recursos governamentais outras vivem mamando no governo e servindo-se  de laranja para a corrupção.
Ataíde Lemos
Enviado por Ataíde Lemos em 06/12/2006
Reeditado em 07/12/2006
Código do texto: T310789