REJEIÇÃO MATERNAL

Há quem não acredite peremptoriamente que exista alguma genitora que possa rejeitar ou abandonar seus filhos que vieram de suas entranhas. É caso raro, mas existe. Sempre existiu.

Essa rejeição pode ser prática ou teórica. Prática, quando a mãe abandona literalmente um filho à “beira da estrada” ou nos caixotes de lixos das ruas. O abandono teórico, porém real, é quando a mãe age com indiferentismo em relação a esse filho. Um gelo glacial eterno. O que é horrível!

Certa mãe não queria a gravidez da filhinha. A Segunda, de uma prole que se constituiu de quatro.

A meninazinha nasceu sem pele. Sua mãe, estando grávida dela, brigou de “rolar no chão”, na grama do quintal, atracada com a cunhada desafeta.

A menina crescia e, ao longo do tempo, se sentia rejeitada pela malsinada mãe. Virtuosa em seus afazeres, talentosa nos serviços, mas fraca na compreensão e no amor! Tudo que mandava a filhinha fazer, só servia se fosse bem feito e depressa, do contrário ganharia umas varadas.

Esta mãe só elogiava a filha mais velha. (Ela era a mais inteligente, a mais dedicada, a mais esperta e tudo o mais!) E a rejeitada se sentia então, um estorvo, quando ouvia os elogios excessivos dirigidos à sua irmã. Sempre humilhada e “escanteada”. Desde o nascimento, atravessando sua infância e juventude, sempre se sentindo rejeitada.

Por este motivo, então, sempre procurou mais os carinhos e a aproximação do pai e até hoje procura. Nos programas do pai ela sempre está inserida. Ele sempre a inclui. Basta um telefonema e tudo sai conforme combinado: ela “voa” para a casa paternal. E, em seus planos, sempre inclui a família de origem, principalmente o papai querido!

Os anos se passaram. Mais de vinte anos de casada. Só agora é que a dita cuja mãe passou a valorizar a filha rejeitada. Sempre que o marido (marido da mãe rejeitadora) vai ver a filha rejeitada pela mãe, esta faz questão de ir junto, para suprir a falta que nunca soube preencher. Foi-se, embora tarde o carinho que nunca dispensou. Foram-se embora os gestos que nunca foram estendidos, em favor de quem sempre sentiu sua falta.

Essa vida é assim! A rejeição pode ocorrer dentro do seio familiar e culminar com uma horrível intolerância dos não participantes da mesma família (os de fora) que não sabem compreender e suprir as carências humanas, a começar da rejeição maternal.

Muniz Freire, 21 de maio de 2.003

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