Divagações fenomenológicas- Prosa Poética e Texto

I - Néctar*...

divagações fenomenológicas

virgínia vicamf

" O ser humano é um pequeno pedaço de terra, com um pequeno pedaço de céu sobre si; e todas as leis desta terra e deste céu visível são repetidos nele numa escala maior.” (John Burroughs- ensaista e naturalista EUA cuja obra antecedeu a do renomado e bem mais conhecido Henry David Thoreau )

Auspicioso és fruto e identidade, da beleza que seduz ao aroma conduz às sutilezas do oriente. Em delicado sabor às delícias do seio materno conduz... No âmago mistério, semente que retirada, cautelosamente revela o enraizado mistério das cavidades que geram candidamente . Fruta, és cálice e ápice.

Pêssego lânguida doçura entregue ao prazer desejante...

Encobres sob textura aveludada líquida promessa de transmutações... Na fruta descortinam-se amanhãs´entes ...

Regidos pelos sentidos religamo-nos ao inevitável e sublime destino de sermos o que somos; nada além e tanto... Co criadores de flor´ações !

Simbologicamente o néctar( amrita, do sânscrito "imortal"),no Hinduismo, Taoismo, Budismo e outras escolas esotéricas é associado à sabedoria, iluminação espiritual bem como a cura e renovação da vida. Este precioso líquido na mitologia greco-romana foi o alimento dos deuses do Olimpo assim como a ambrosia.

“Na iconografia, o néctar é o líquido precioso da compaixão que verte do vaso dos bodhisattvas, ou seres já iluminados, como Kuan Yin, que assumiram o compromisso de ajudar os que ainda sofrem na Terra.”( John Blofeld in A Deusa da Compaixão e do Amor. O Culto Místico de Kuan Yin. Trad. Antônio de Pádua Danesi e Gilson César Cardoso de Sousa. SP, Ibrasa, 1995)

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/416776

II– Identidade...Devires ..

“O homem que vê mal vê sempre menos do que

aquilo que há para ver; o homem que ouve mal ouve sempre algo mais do que aquilo que há para ouvir". ( Nietzsche )

Aprendemos com Paulo Freire que temos escolha entre a necrofilia da guerra e a biofilia fundada no diálogo, para que este ocorra cabe priorizarmos o compartilhar desde idéias, pontos de vista, perspectivas incluindo bens materiais que favoreçam novas formas de vida mais simples sem que para tanto necessitemos

recorrer a ideais transcendentes,místicas, religiosas já que estas fomentaram mais guerras que entendimento... Ou não ? ...

De forma muito simples podemos experimentar a alegria de compartilhar, emprestar fazer circular, o bem que não estamos utilizando ao que dele necessita.

Dar o que já não me serve, parece obvio, entretanto se bem olharmos e, é preciso ver melhor com urgência, há uma enormidade de bens não compartilhados, desde saberes trancafiados nas “cabeças/corações” até os sabores visões de mundo fenecendo, apesar de estarmos vivendo um momento espetacular no que concerne a facilidades de comunicação.

Despertar o interesse, a importância do diálogo, da leitura e releitura do mundo creio uma atitude pela paz, beleza e maior compreensão de si, da diversidade e possibilidades infinitas da criatividade humana, característica que nos difere das demais criaturas.

Uma retomada da ciência do belo, da consciência da capacidade de ver e a liberdade para escolher ver, ouvir e compartilhar visões, leituras e escutas de mundo e, debruçar sobre as mesmas e as recriar , recriando-nos, afetando e nos deixando afetar...

"Para muitos, pensar e escrever é uma tarefa fastiosa. Para mim,

nos meus dias felizes, uma festa e uma orgia." (Nietzsche)

Quero ler o mundo como Abelha de tudo recolher doçura,transformando, digerindo criando e recriando ...

Borboletas e abelhas seres de metamorfoses, uma em si mesma outra em dadivosa arquitetura, ensinamento e produtora de alimento em abundância: riqueza energética, dourado nectar...

Os insetos pertencem ao imaginário nosso de cada dia, espantos minús/culos extraordinária força, seguem seu instinto, labutam cooperam, coletivamente sobrevivem .Nós com grandes músculos, MAIÚSCULAMENTE denominamos-nos orgulhosos, “fulano de tal...”, como se fossemos cada qual um deus, causa incausada e não uma multiplicidade, uma parte da coletividade, como que pudéssemos sobreviver separados da natureza e dos demais.

Nesta condição demasiada humana, desprezamos talvez,demasiadamente as formigas/abelhas/ em nós, os " devires insetos, instintos e desprezamos a criança criativa como lembrou-nos

Nietzsche...

Penso que através da palavra, quem sabe...quem sabe...avançaremos, reaprendendo-nos, indo além, recuperando sentidos, não num retrocesso, mas como em acontecimentos inusitados descobrindo-nos, afirmativamente indo além, além homem, além sujeito isolado da natureza...além medo das experimentações acre/doces. ...

“Os leitores extraem dos livros, consoante o seu carácter,

a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores

retiram, uma o mel, a outra o veneno".(Nietzsche}

É preciso seguirmos experimentando o saber/sabor de nos constituirmos como seres de palavras/. Instinto/razão/emoção comunicabilidade, promovendo sinapses/coletivas, transformações significativas em nossa Sócio/Idade .

O homem faz-se verbo, dá sentido à própria vida, sentidos derivados das relações estabelecidas, recria-se como poeta...

“A identidade do sujeito é o produto de um agenciamento que faz ressoar níveis, fases, estágios. De repente, ao ver uma criança, uma súbita vontade de subir numa árvore nos invade. Nosso corpo não é o mesmo de um minuto atrás. Trata-se de um devir-criança, que o Ocidente racional teima em fazer calar em nome da permanência do homo economicus. Mas não é só ele: devir-planta, devir-mulher, devir-nômade, devir-cósmico, etc” *

Desejo que Poesia, as Artes, as Filosofia de mãos dadas nesta ciranda de conscientização da importância das vozes sensíveis, capazes de traduzir sentimentos comuns a todos seres humanos, entretanto distintos em grau, tonalidades infinitas, capazes de despertar composições as mais diversas.

Desejo que as Ciências ouçam os Poetas/Artistas e que os devires produtores de nossa sociedade decolem como “Pássaros Poetas” !

Um brinde à Poética no sentido grego; Poésis =ação de fazer- criar criando modos mais afirmativos de existência, amorosidade que liberta dos padrões autoritários, necrófilos e paralisantes...

Brinde às melhores escolhas, aos melhores devires !

virgínia vicamf
Enviado por virgínia vicamf em 18/03/2007
Reeditado em 08/12/2012
Código do texto: T416776
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