O POÇO COLETIVO DO AMOR

A Poesia sempre é fruto do amor, é o topo do lirismo, é o cimo do fraterno, é o poço coletivo. Quando se chega a um verso com Poesia, bebemos da mesma taça do Cristo. Imolamo-nos pela causa da humanidade.

A maioria dos versos que conheço não contém poesia, contém apenas, quando muito, uma espécie de beleza, de ardor, que não tem confraternidade. São meras expressões formais - bonitas - mas avaras de humanidade. Não interpenetram o humano com o seu irmão.

Fernando Pessoa, o grande português da Poesia que chega com fôlego a este momento da humanidade, em língua portuguesa, intuiu isto, no século passado (morreu em 1935, com 47 anos) e, com a sua verve filosófica lapidarmente construiu, em relação ao amor: Ninguém ama senão o que de si há no outro, ou é suposto!

Chegado, pela graça de Deus, à maturidade dos 58 anos, percebo que a Poesia nunca é o confessionário íntimo de amor do autor e o eventual amar da amada ou vice-versa. Isso é muito pequeno para essa vestal nua e sacrossanta!

Nunca poderia o verso de amor destinado a uma pessoa ser Poesia (com "P" maiúsculo), porque isso seria apenas transferir a angústia da perda ou a imensa alegria do encontro para o outro pólo, o leitor. E este é imensamente egoísta, ele briga com o autor que está feliz e ele não. Mesmo que este encontre similitude entre o que ocorre nas situações de seu fazer pessoal, enfim, no seu viver.

A destinação da Poesia é fazer a humanidade feliz, porque a Felicidade parece ser o bem maior que a criatura humana necessita para cumprir a passagem por este plano terreno. E só a reflexão madura sobre o “ser feliz” poderá preparar o homem para a chegada aos portais de sua derradeira morada.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2008.

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