A FÁBRICA DE TECELAGEM JAPY: Cem anos de Desafios e resistência de um patrimônio jundiaiense

O Senador Antonio de Lacerda Franco, fazendeiro, dono de fazendas de café, sócio de uma empresa de exportação de produtos brasileiros na França, dono de um banco, um dos construtores da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, entre outros atributos. Onze anos antes da Lei Áurea, libertou os escravos nas suas fazendas. Empreendedor, trouxe para Jundiaí uma fábrica de grandes proporções, justamente ao lado da Estação Ferroviária de Jundiaí, na época San Paulo Railway( Brazilian) Company Ltd., que fazia o transporte ferroviário de Santos a Jundiaí. Num empreendimento grandioso Lacerda Franco investiu numa fábrica de têxtil em Jundiaí, ao lado da Estação Ferroviária de Jundiaí, a Fábrica de Tecelagem Japy, que começou as suas funções em 1912, fundada oficialmente em 18 de novembro de 1914 como Fábrica Japy S.A, Diário Oficial do Estado de São Paulo.

Visionário, foi um dos pioneiros na construção fabril do Estado de São Paulo, criando a Tecelagem Japy, na rua homônima. Uma construção imponente, com estilo inglês, com uma chaminé que dava energia à toda a produção, num galpão erguido numa área de mais de 24 metros quadrados, com uma construção com tijolos de barro maciços, cobertura de telhas francesas, e tijolos à vista.

Durante quarenta anos atravessou diversas dificuldades econômicas que envolviam o País e o mundo. Atravessou dificuldades da Primeira Guerra Mundial, da fase da guerra civil paulista, fez parte do movimento dos operários em 1917, da Revolução Constitucionalista de1932, a ditadura de Vargas de 1930, a crise da Bolsa de Nova York de 1929, das greves dos trabalhadores em 1930, dos lucros após a Segunda Guerra Mundial de 1940/45, entre outras.

A Fábrica Japy teve desafios, principalmente, sendo uma das mais lucrativas fábricas têxteis do Estado de São Paulo na década de 40. Após a com a morte de Lacerda Franco em 1936, sofreu dificuldades administrativas internas e da economia do País.

Na década de 50 passou para a empresa J. J. Abdalla S/A, um dos acionistas com mais cotas e foi mudada a razão social, ampliando a empresa têxtil, para agropecuária e comércio. A empresa J.J. Abdalla S/A empregou diversas operárias mulheres. Os maus patrões pagam os salários baixos e atrasam muito, o que criou movimentos operários, greves, ações na justiça do trabalho, e a criação de um Sindicato têxtil, que ainda hoje é presidido por uma mulher que foi operária da Fábrica Japy, Sra. Hilda Latance, que é ainda a presidente do Sindicato em Jundiaí. Um dos seus empregados foi o compositor e cantor paulista Adoniran Barbosa, conhecido pela música ‘ Trem das Onze”.

A indústria Japy sofreu o embargo do fisco, e ficou inativa com dívida à União.

Depois da década de 1980 a 1995 foi locada ao supermercado Paes Mendonça, que durante quinze anos a ocupou o local.

Há uns dez anos, o local foi comprado por duas empresas jundiaienses, e adquiridas, recentemente, em 2010, por uma empresa carioca, que pretende construir no local, um condomínio com quatro torres, com dois subsolos e vinte e um andares de apartamentos residenciais, descaracterizando o espaço de uma indústria têxtil do início do século XX.

Durante cem anos, o conjunto resistiu a toda sorte de desafios e dificuldades, testemunha da segunda fase industrial do País, foi a segunda fábrica industrial de tecidos erguida no interior do Estado de São Paulo. Merece tornar-se um patrimônio municipal, tanto pela sua própria história, marco de um passado importante para a cidade, deve ter um destino mais honroso do que ser apenas uma memória do passado e que faça parte também da história atual, dessa grande cidade, como diz no seu brasão: ‘ETIAM PER ME BRASILIA MAGNA”( Também por mim o Brasil é grande).

Vamos tornar esse patrimônio de Utilidade Pública municipal e usar seu espaço para a comunidade. Senhor Prefeito, poderá juntar seu nome à da Fábrica de Tecelagem Japy, como já o fizeram alguns dos seus antecessores, adquirirem para a Cidade imóveis que hoje fazem parte de todos nós, a exemplo do Teatro Polytheama, Utilidade Pública da Fabrica Japy ( Decreto 4460/1977 (Pedro Fávaro), reconstrução do Teatro Polytheama ( André Benassi), a Argos Industrial S.A. ( Walmor Barbosa Martins), o Complexo FEPASA ( Miguel Haddad), a FATEC ( Ary Fossen), e ‘O Complexo Japy’ no mandato do atual Prefeito Municipal Pedro Antônio Bigardi.

( REGINA DRAGIÇA KALMAN – Outubro de 2014)