OLIMPÍADA EMOCIONAL

A olimpíada no Brasil tem sido a grande chance de se reavaliar uma realidade que sempre foi gritante: somos um país de grandes talentos, mas, como se não bastassem os investimentos escassos, a logística precária e passageira e os interesses escusos e prejudiciais de cunho político empresarial, cada um de nossos atletas tem um adversário ainda mais terrível: trata-se dele mesmo.

Temos assistido a grandes apresentações dos atletas deste país, mas constatamos a cada dia, que nos momentos cruciais - aqueles que testam o equilíbrio emocional e a temperatura do sangue -, reservados os fenômenos ou as exceções, o desempenho cai. Uma falha, um momento extremo, a recuperação do lado oposto desestabilizam nossos atletas e, na maioria das vezes a recuperação é impossível. O próprio fato de atuar no seu país, ou em casa, é um peso a mais nos ombros do atleta brasileiro, contrariando a ideia de que aqui é melhor; é mais fácil. O apoio barulhento da torcida pressiona, mesmo carinhosamente, criando a obrigação de vencer, e a obrigação gera medo; insegurança; rouba o chão.

Já é notório que o Brasil precisa melhorar muito em relação a seus atletas, no que tange os investimentos oficiais, o apoio do poder público, além do interesse, a confiança e o patrocínio bem mais generoso da iniciativa privada, sabedora de que os nossos talentos não perdem tanto para os maiores talentos do mundo. Mas havemos de ainda reconhecer a necessidade urgente de um megainvestimento na autoestima e na estrutura emocional dos atletas deste país.

É necessário que o próprio Brasil se torne um país melhor, para que o seu reflexo acenda o nosso orgulho de ser atleta, torcedor, escritor, leitor, artista, cultor, profissional de todas as áreas... e povo. Acho que a vergonha de sermos representados por um poder público podre, ganancioso e desonesto, eleito por nossa pálida cidadania destreinada é uma das razões da impotência olímpica brasileira.