APRENDENDO A SER PAI

Cometi alguns erros de criação com a Nathalia, minha filha mais velha. Nunca lhe dei uma surra, fosse por que fosse, mas caí na tentação de acreditar no tapinha pedagógico na batata da perna, tão logo chegássemos em casa, quando ela fazia, geralmente na rua, daquelas birras mais acirradas. Era um, no máximo dois tapinhas, mas havia o requinte cruel de fazê-la saber, antecipadamente, que assim seria.

Isso não durou muito tempo. Foram alguns meses. Logo me dei conta de que o tapa era violência, e se continuasse, logo viriam as surras, e consequentemente, os tapas em outras partes do corpo. Depois, como que para compensar os tapas, comecei a dar, de vez em quando, alguns berros com ela, pelas mesmas razões dos tapinhas de outrora. Os gritos também não duraram muito tempo, porque do mesmo jeito, vi que se tratava de outra forma de violência, mesmo considerando que não havia xingamento; era o grito pelo grito, como forma de me impor.

Bater, ainda que moderadamente, e gritar, são demonstrações de força e poder. Faz isso, quem tem carência de se notar maior e mais forte, o que se torna uma lei que sempre regeu a sociedade, de forma distorcida e cruel. A lei do mais forte, ou do maior não educa, e sim, amedronta; oprime. E não poucas vezes, forma cidadãos sonsos, que aprontam na ausência da força e do poder que os coíbe, além de fazê-los também violentos com os mais fracos, ao longo de toda a existência.

Quando a Júlia, minha filha mais nova nasceu, fazia tempo que a minha mentalidade já era oura. Eu já era um homem que acreditava no diálogo; na educação paciente; no pedir desculpas e reconhecer meus erros. Já sabia ser firme sem ser duro; tentar ser justo e confessar as próprias fraquezas. Ter forças para não me dobrar às birras cedendo às mesmas nem perdendo a linha ou a compostura para não ceder.

A Nathalia, hoje com 24 anos de idade, é uma filha da qual me orgulho: honesta, trabalhadora, justa ética e carinhosa, o que não quer dizer que não tenha lá seus defeitos de temperamento, como gênio forte. A Júlia, que este ano completa 12 anos, tem as mesmas virtudes da Nathalia, e já dá sinais do mesmo gênio forte. Quero dizer que ambas são parecidas, embora uma delas tenha tido, por algum tempo, um pai mais durão. A Nathalia não precisava ter levado os tapinhas pedagógicos nem ter ouvido voz alterada em determinados momentos de minha inexperiência como pai.

Creio que posso me orgulhar de haver percebido minha fraqueza e reconhecido meus erros ou excessos, mesmo com a justificativa de que era por bem. Acho que a grande sacada foi ter aceitado que eu precisava crescer, junto com Nathalia. No mesmo processo da Júlia. Pai e mãe que não crescem, e não o fazem a tempo, não criam cidadãos completos, preparados para o mundo; a sociedade; a vida.

Tomara que eu continue aprendendo. Certamente, ainda cometo muitos erros como pai.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 14/02/2017
Código do texto: T5912519
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