ANÁLISE DO FRAGMENTO – MOCIDADE E MORTE DE CASTRO ALVES

PROSA E POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA

MATOS, Josefa Santos

ANÁLISE DO FRAGMENTO – MOCIDADE E MORTE DE CASTRO ALVES

A análise do fragmento abaixo deve ser feita levando em conta a natureza e estrutura do poema, a partir dos aspectos presentes nos versos, com elementos metafóricos, dicotômicos e sonoros dos quais o autor se utiliza divinamente para trazer à tona sua mensagem.

Oh! Eu quero viver; beber perfumes

No flor silvestre, que embalsama os ares;

Ver minh’alma adejar pelo infinito,

Qual branca vela n’amplidão dos mares.

No seio da mulher há tanto aroma...

Nos seus beijos de fogo há tanta vida...

- Árabe errante, vou dormir à tarde

A sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma voz responde-me sombria:

Terás o sono sob a lájea fria.

Podemos perceber neste fragmento do poema escrito em uma oitava e um dístico, que há uma dicotomia entre a vida e a morte, entre a liberdade e a prisão, que a própria natureza do poema trata de dar sentido na amplidão do curso natural da vida, quando se refere à vida em êxtase nos quatro primeiros versos; e em seguida traz à tona, a sinestesia sóbria e enclausurada da morte, não sem antes passar pela apreciação do fogo do amor da mulher, valorizada no quinto e sextos versos.

Em seguida, o autor mostra-se cansado e deseja repousar para refletir, como mostra o sétimo e oitavo versos, e finalmente é chegada a triste hora conclusiva da morte, representada nos dois versos do dístico.

A análise do fragmento apresenta os seguintes aspectos: dicotomia – entre vida e morte, (com a rima “pobre” de dois substantivos; ares e mares; sinestesia – sombria e clausura; sonoridade- no fonema (i) pelos sonoros “ responde-me”, “sombria”, “lájea”, e “fria”.

De acordo com a característica de metrificação, o fragmento do poema apresenta uma oitava (octassílabo) e um dístico (dissílabo). Na oitava, podemos perceber quanto à rima, (AA-BA-CC-DC) que podemos denomina-las de rimas opostas, enterpoladas ou intercaladas, já no dístico, as rimas são (AA) emperalhadas.

Sobre o autor: Antonio Frederico de Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847 na fazenda Cabaceiras, próxima à Vila de Curralinho, hoje cidade de Castro Alves no Estado da Bahia, e morreu em 6 de julho de 1871. Era filho do médico Antônio José Alves e de Célia Brasília da Silva Castro. Por volta de 1853, mudou-se com a família para Salvador e lá estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas, onde foi colega de Rui Barbosa. Ainda adolescente, já demonstrava vocação para a poesia. Castro Alves é considerado um dos mais brilhantes poetas românticos brasileiros, é chamado de “cantor dos escravos” pelo seu entusiasmo diante das grandes causas da liberdade e da justiça – a Independência da Bahia, a insurreição dos negros de Palmares, o papel da imprensa, e acima e tudo isso luta contra a escravidão. Castro Alves é o patrono da cadeira nº. 7 da Academia Brasileira de Letras, pertence a 3ª fase do Romantismo no Brasil.

Os poetas românticos usavam e abusavam das metáforas, palavras estrangeiras, frase diretas e comparações. Os principais temas eram: amores platônicos, acontecimentos históricos nacionais, a morte e seus mistérios. No “fragmento” citado, podemos observar tais características.

Atingido desde cedo pela moléstia que acabaria com a vida, Castro Alves mostra grande preocupação com a morte, encarada como amargurada expectativa face à sua pouca idade e um empecilho às grandes realização que se julga capaz.

DI MATOS
Enviado por DI MATOS em 03/02/2018
Reeditado em 22/10/2023
Código do texto: T6244173
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