O MUNDO DO FUTEBOL

Confesso que torci bastante pela seleção brasileira na copa do mundo, mesmo sabedor de que os jogadores lá presentes ganham milhões de reais aos quais muitos não fazem jus, por seus resultados. Isso é clichê inevitável, com o qual terei de conviver, cada vez que desejar ver o Brasil mais uma vez campeão da copa do mundo.

Quase quarenta países participam da copa, e os povos de todos os países torcem muito; sofrem; gritam; se emocionam. Os esquentados latino-americanos, os educados europeus, os sábios e disciplinados orientais, todos vivem as mesmas emoções; cometem os mesmos arroubos e até desatinos, na torcida pelos representantes de seus países. Ou seja; multidões incontáveis de ignorantes contra pequenos grupos "inteligentíssimos" que os desprezam ou amam com piedade, por serem "pessoas inferiores".

Devo dizer que em nenhum momento de minha torcida pela seleção brasileira de futebol me esqueci dos sofrimentos do povo brasileiro e das mazelas políticas que geram esse sofrimento. Em momento algum deixei de saber que a miséria medra, que a operação lava jato é um engodo e que durante a copa muitas ações escusas são realizadas pelos políticos do meu país.

Culpa do Neymar, do Tite ou do Felipe Coutinho e companhia? Não. Culpa minha, sua e deles, não como profissionais do esporte ou da educação entre outros ofícios, e sim, como cidadãos que votam sem a devida consciência política e cidadã e depois não cobram eficientemente de seus eleitos, até porque, falta moral para tanto.

Se avaliarmos as muitas oportunidades que os políticos aproveitam para praticar desmandos, veremos que a copa do mundo não é a única camuflagem perfeita para eles. Tudo serve: da copa do mundo ao Oscar; das bienais à olimpíada; do Grammy ao Rock In Rio, Criança Esperança e por aí vai. E tudo isso tem torcida. E ninguém chama essas torcidas de "um bando de ignorantes" ou "pobres coitados que merecem nossa compreensão e piedade".

Agora que a seleção brasileira perdeu para os belgas, vêm aí as eleições presidenciais. Elas viriam, mesmo se o Brasil alcançasse o "hexa". E o candidato ditador, machista, direitista, retrógrado e preconceituoso que vem crescendo na preferência popular, continuará crescendo no país "pé no chão" depois da derrota. Nosso problema é bem maior do que sermos o país do futebol, como o mundo, pelo menos neste período, é o mundo do futebol.

Digo ainda: considerando o time de jogadores políticos que roubam quantias intermináveis do povo sem fazer nada por ele, torcer pela seleção brasileira é um ato mais cidadão do que votar e acreditar no poder público deste país. Isto vale pra todas as esferas do poder.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 07/07/2018
Reeditado em 07/07/2018
Código do texto: T6383925
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