BÍBLIA SANGRADA

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Nem de longe penso em desqualificar a Bíblia Sagrada como livro de regra e fé, que não é para mim; porém, respeito que seja para milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, as afirmações esdrúxulas e algumas tentativas de criação de leis pelo governo e seus ministros bizarros, para desqualificar e proibir livros de grande riqueza literária me fizeram chegar ao texto que ora publico. Trata-se apenas de um chamamento à reflexão, por comparações duras, mas que podem servir como espelho à hipocrisia crescente neste país que retrocedeu alguns séculos em pouco mais de um ano.

Foi na Bíblia Sagrada que visualizei as primeiras cenas de violência e terror em minha trajetória como devorador de livros: A matança divina dos primogênitos e as demais pragas do Egito... a disputa macabra entre Deus e o Diabo, sobre as desgraças de Jó... a condução de Abraão, do próprio filho ao quase sacrifício. Na Bíblia, Caim matou seu irmão Abel; Deus exterminou a humanidade com um dilúvio... Josué e seus homens invadiram cidades e dizimaram os resistentes. Sansão massacrou os inimigos, Dalila o traiu e os inimigos massacraram Sansão. O menino Davi matou Golias, arrancou sua cabeça e a exibiu ao povo. Mais tarde, um rei mandou matar os recém nascidos do reino, para Jesus não nascer... Pedro apóstolo cortou a orelha de um soldado... Judas traiu Jesus, depois se matou, e Jesus foi crucificado após carregar a cruz e sofrer barbáries a caminho do calvário.

Também fui aterrorizado pelo Apocalipse com seus monstros de chifres, fogo, enxofre, a destruição da terra, o caos e a incerteza sobre merecer salvação. Tudo coroado pela imagem do inferno, do Diabo e seus anjos. Evidentemente, não tenho como citar todas as cenas de violência e terror, porque são tantas; não teria como fazê-lo sem tomar tempo excessivo e requerer muito esforço dos leitores.

Ainda falta falar de outro aspecto que deveria fazer muito santinho corar. Não faz, porque ninguém é santinho. Refiro-me ao apelo erótico, até pornográfico em algumas passagens bíblicas. Em uma delas, homens que “levitam de tesão” tentam estuprar os anjos hospedados em Sodoma e Gomorra. Lá nos Cantares de Salomão, há poemas tão picantes (e de grande beleza, devo dizer), que me deixavam bem excitado, na adolescência, quando meus hormônios eram puro êxtase.

Bolsonaro, Weintraub, Damares, talvez Regina Duarte, parlamentares e admiradores governistas hipócritas defensores da censura literária, nunca prestaram atenção na Bíblia. Leem teleguiados por líderes e decoram versículos sem interpretar contextos históricos ou observar épocas e culturas. Se não fosse assim, sequer pensariam em censurar livros consagrados devido ao grande valor literário e cultural, com alegações absurdas de violência e/ou imoralidade. Em última instância, censurariam a Bíblia ou pelo menos recomendariam aos pais o não acesso aos filhos menores.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 12/02/2020
Código do texto: T6864770
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