O BEZERRO DE OURO DOS CRISTÃOS BRASILEIROS

Demétrio Sena - Magé

Se a maioria dos cristãos deste país baniu de suas vidas o Novo Testamento, o cristianismo deixou de fazer sentido, pois o fundador do cristianismo é Jesus Cristo. Quando ele veio até nós, foi para fechar um ciclo de fúria, tirania e vinganças divinas que não deram certo, no Velho Testamento. Justo porque não deram certo, Jesus Cristo escolheu inaugurar um novo tempo, o da graça, pois o tempo da lei era muito duro e sangrento. A Mão Divina pesava excessivamente sobre o ser humano. Deus precisava de ajuda e, por isso, recriou-se na figura de um filho que faria tudo diferente... com palavras conciliadoras, humildade, mansidão e, sobretudo, com a instituição definitiva do livre arbítrio, que no Velho Testamento era cheio de ameaças e retaliações a quem se permitia usufruir.

A rejeição prática, estrutural do Novo Testamento pelos cristãos, especialmente os evangélicos, maioria real neste país, reinaugurou aquele tempo da lei. Um tempo que O Próprio Deus pusera em arquivo morto, apenas para consultas que levem a compreender o Novo Testamento e todos os esforços na trajetória divina para conscientizar a humanidade... não do quanto ela precisa, exatamente, louvar a Deus, mas do quanto precisa viver em união, fazer o bem, amar, aceitar diferenças, tornar o mundo habitável. No entender deste ateu que ora utiliza a Bíblia para falar aos supostos cristãos dentro do contexto e da visão de fé que deveria pautá-los, O Deus da Bíblia nunca ligou para ser louvado. Já no livro de Êxodo, comecinho da Bíblia, o que Ele queria mesmo era que o ser humano deixasse de escravizar o ser humano. Que ninguém se reconhecesse ou se declarasse superior ao outro. Queria o fim do racismo, da ambição desmedida e a impiedade que geravam a escravidão.

Deus errou na dureza, na brutalidade, nos meios duríssimos e sanguinários de se impor como Senhor de tudo, para forçar a humanidade a viver melhor... e ninguém vive melhor por força e ordem... foram tempos e tempos, que humanamente não há como contar, até que Deus reconhecesse os equívocos de sua gestão da humanidade, para se reinventar na figura de Jesus Cristo e criar uma nova constituição, no caso, o Novo Testamento. O tempo da palavra... do amor como recurso de vida em sociedade... a liberdade... o livre arbítrio... o tempo da graça. Se a humanidade aceitasse esse tempo, ela mesma construiria o seu céu, assim entendo, e do contrário construiria o seu inferno. Concebo céu e inferno como estado, estágio de espírito e consequência de atos.

Cresci ouvindo minha parentalha falar de Um Deus que sempre me horrorizou. De Mão Pesada, Vingativo, Terrível, Fogo Consumidor, Tirano e, como se não bastasse, que ainda criou a figura do diabo, para estabelecer um conflito eterno e nos fazer escolher das piores formas entre um e outro. Ao crescer e finalmente ler a Bíblia com o meu discernimento e minha liberdade... sem nenhuma interferência especializada, manipuladora e parcial, compreendi o quanto há, na Bíblia, de crendices, lendas, traduções equivocadas, distorções épicas, manipulações históricas, filosóficas e geográficas, além de adulterações visando poder... preconceitos... lucro... política e segregação da mulher no protagonismo das múltiplas religiões no mundo.

Mas também compreendi que há, com todo esse porém, uma mensagem central de liberdade, amor e bem viver que não foi compreendida pela humanidade. Mensagem esta, que sangrou e se contorceu no Velho Testamento, até chegar ao Novo, pela graça de um ser humano especial (como vejo a figura de Jesus Cristo). Um homem que se preocupou, mais do que todos os outros, com questões relacionadas a justiça social, o amor capaz de promover essa justiça, o reconhecimento da igualdade, a não escravidão e a liberdade de pensamento, ação, escolha, culto e não culto. Tudo no Novo Testamento aponta para o amor, a mansidão, o perdão, a igualdade de gêneros, etnias e culturas no contexto de sociedade, sem nenhuma cultura ter que ser banida, derespeitada ou considerada como inferior.

Vejo com profundidade, a distância entre Cristo e o nosso cristianismo. Houve um tempo recente, no qual conheci alguns cristãos, bem poucos, mas conheci, que pregavam e viviam dentro do contexto de cristianismo verdadeiro, embasado no Novo Testamento. Mas isso é realmente raro e cada vez mais, pois o temperamento do ser humano tem mais a ver com o Velho Testamento, o Deus raivoso, mais Odin (o pai raivoso de Thor) do que Deus, propriamente. Foi esse apego brasileiro à ira... à intolerância... à vingança e ao preconceito... ao desejo de castigo, tortura e morte... às armas e à tirania (dos que rejeitam de todas formas o cristianismo de Cristo e do Novo Testamento), que fecundou e pariu o novo presidente Brasileiro. Bolsonaro é o bezerro de ouro dos cristãos brasileiros.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 31/01/2021
Reeditado em 31/01/2021
Código do texto: T7173178
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