DESIMORTALIZADO
Demétrio Sena - Magé
Academias de letras, prioritariamente, seriam para fomentar a prosa e a poesia, em sua essência. Mas priorizam fardões; roupas glamourosas; homenagens a juízes, empresários e parlamentares. Nas letras, a essência da poesia não tem a menor importância, porque os holofotes estão voltados para rimas, métricas rígidas e outras futilidades desmascaradas na Semana da Arte Moderna. Quanto à prosa, mais vale chamar tristeza de lugubria do que discorrer um texto fluente; gostoso de ler.
E quando "o filme queima" perante sociedade, a ostentação de ações pseudo sociais descontinuadas promove a necessária cortina de fumaça. São ações mais midiáticas do que sociais, no âmbito fácil da não necessidade de um corpo a corpo constrangedor para os "deuses do verso e da prosa".
Membros pobres entram como bolsistas que logo são situados sobre ali não ser a sua praia. Não importa o talento nem sua desenvoltura. Bolsistas têm que saber o seu lugar e ter sempre nos olhos a promessa de que jamais se destacarão sobre os pagantes e mecenas. Bolsistas precisam saber que são meros imortais mortais; ocupam os guetos das elites, o que já é um favor prestado pelas elites das elites.
Não é texto frustrado de quem não conhece ou nunca entrou numa A não sei o que L. Tomei posse em três, convidado por pessoas a quem não quis magoar, porque sim, existem "membros mandachuva" diferentes, acolhedores, afeitos ao talento e aos propósitos culturais de fato. Conheço alguns e poderia citá-los, porém ficariam desconcertados. Foi nessas ocasiões que dei às entidades a chance de me provarem que não são como são.
Nunca mais compareci a uma reunião para discutir estética e glamour literários ou contribuir com decisão sobre qual figura social (mecenas e futuro membro honorário) será homenageada. Enfim, academias de letras despoetizam; desliteraturalizam. Dizem que o imortal de academia não deixa de ser. Digam isso em minha cerimônia fúnebre.