A COMIDA COMO CONTINUÍSMO ESCRAVOCRATA

Demétrio Sena - Magé

A falta, escassez ou qualidade precária da comida continua sendo a mais contundente forma de humilhação. Funcionários ou servidores (da iniciativa pública ou privada), bem como alunos das redes publicas e pessoas pobres que dependem das doações de cestas têm a dimensão exata - mesmo quando não se dão conta ou concebem - de como nunca se aboliu (não de fato) a escravidão.

Nos locais de trabalho que oferecem almoço, a humilhação vem da não exigência, em escala hierárquica, de refeições bem preparadas, ainda que simples, mas com os nutrientes necessários e/ou os cuidados básicos de higiene de quem a prepara (e também é vítima)... nas cestas básicas que certos empresários disponibilizam aos trabalhadores e alguns órgãos públicos a famílias necessitadas, a realidade se mostra com agravantes: produtos com validade vencida ou a vencer logo... muitos com broca, pelo mau armazenamento nos locais inadequados de onde chegam, além da ausência de alimentos comuns muito necessários à mesa. Cestas incompletas e sofríveis.

Os alunos (principalmente os do ensino fundamental) das escolas públicas, dos quais muitos não têm o basico em casa, são as vítimas mais vulneráveis em toda a sociedade. Estes nem reclamam para si mesmos, de como são tratados. Alimentam-se de comidas aguadas, mal cozidas e precárias na variedade nutricional, como se fossem banquetes. Tudo à base do "é isso e lambam os beiços". É a mesma comida que professores e demais funcionários comem, quando sobra; mas estes, pelo menos têm o minimo em casa e podem levar para o trabalho, se desejarem não sofrer a mesma humilhação.

Empresário, fazendeiro e poder público (sempre com a convivência dos capatazes de confiança ou chefia) não têm consciência, decência e coração. Usam vários recursos, abertos ou velados, de reproduzir Casa Grande e Senzala. Em tudo isso, de todas as formas de reprodução desse cenário, a comida é o que há de mais eficiente, profundo e simbólico.

... ... ...

#respeiteautorias É lei