O poeta e as estrelas — na voz de Ísis Rígoh

O poeta e as estrelas

(Todos os dias milhões de estrelas desaparecem,

muitas nem têm a oportunidade de mostrar

seu brilho; muitas que poderiam ser salvas se não

houvesse tanto egoísmo... e a humanidade definha

na solidão)

O poeta profetiza

Em misterioso afã.

Conta estrelas, perde as contas,

Pois o dia que desponta

Apaga todas que conta

Com os raios da manhã.

O poeta vive estrelas.

Brilha, efêmero, e em vão;

É dúbio, soturno e triste,

Amiúde nele existe

Lampejo de quem insiste

Na embriaguez da emoção.

O poeta sabe coisas

Que vão além da razão.

Nem sempre sabe dizê-las,

Pois no seu contar estrelas

Pra ele basta sabê-las

Na sua constelação.

O poeta é um adivinho

Como os homens todos são.

Toma posse sem ser dono,

Depois lança ao abandono...

Poeta?... todos nós somos

Quer nós queiramos ou não.

Todos nós fomos poetas

Ou seremos amanhã.

Contamos estrelas prontas,

Mas quando o dia desponta

Logo desfaz nossas contas

Dissolvendo-as na manhã.

Todos nós somos poetas

Quando pulsa o coração.

E pulsa confuso e triste,

Pulsa com dor, mas insiste,

Pois nesse pulsar existe

A embriaguez da emoção.

Todos seremos poetas

Quando estendermos as mãos:

Milhares, juntas, parelhas,

Num facho de mil centelhas,

Então seremos estrelas

Da mesma constelação.

E, estando juntos, seremos

Estrelas, querendo ou não...

Se alguém for fazer as contas

Verá que o dedo que aponta

Possui uma estrela pronta

Na palma da própria mão.

Todos nós somos poetas

Movidos pela emoção!

Por isso nunca entendemos,

Mas muita estrela perdemos

Sempre que nos escondemos

Na hora de dar as mãos...

Embu-SP, 23 de junho de 1995 – 1h44min da madrugada