Pesa-me no peito a dor que outros carregam, pesa-me como se a minha cruz fosse carregar a cruz dos outros… Pesa-me tão intensamente que tenho a alma rasa de sangue, os pés gastos pelo pó da estrada por onde caminho, já me pesam muitas cruzes em cima da minha, sendo a minha já de si tão pesada!
Não sei porquê!? Não entendo, nunca entendi, porque teimo em ser doce para quem é amargo, porque teimo em dar tanto a quem me não dá nada, porque teimo em brilhar como estrela – guia para quem apenas me conduz à derrota.
É mais forte que eu, é assim que sou e não sei ser de outra forma, por muito mal que me façam hei-de sempre perdoar, por muito mal que me queiram hei-de sempre entender, ou pelo menos tentar… faz parte de mim ser assim transparente como a água que corre caindo suavemente da nascente, ainda pura, ainda genuína, serei sempre assim simples como a maresia que nos bate contra a face e nos desperta para sonhos ou de sonhos, serei sempre aquela menina já tão mulher que ainda carrega dentro de si o coração de uma criança… a que grita baixinho para não desassossegar quem está sossegado, a que cala o que deve para não incomodar os que falam, a que escreve o que sente tão intensamente quanto o vive… serei sempre assim, eu, assim eu verdadeiramente eu.