TERMO DE DECLARAÇÃO
 

Inquirida, DISSE:
 Nasci sem pudor algum, nua aos olhos de todos. A primeira dose de moralina me foi dada quando o médico me acusou injustamente de “ser menino”. A princípio chorei, e depois fui golfando essa acusação de forma bem peculiar, já engasgada por essa obsessão em dizer “verdades” sobre os corpos. Fui abordada por instituições que me observariam por toda uma vida como faustosos abutres.
 Como falar de mim, atribuindo identidades sem que estas venham a me limitar? Bom, lanço os dados. Arrisco. Sou uma mulher trans que tem como esporte preferido o flerte com todas as áreas do saber. Se escrevo contos ou poesias? Eu os componho, como se fossem sinfonias impróprias a um espírito do meu tempo. Acerca de mim enquanto autora, bom, posso dizer que “o deus de quem é o oráculo de Delfos não diz nem oculta nada: significa”.
 Eis que eu me tornei aquela rachadura que dá na parede, e que todos ignoram, até que o teto caia - uma verdadeira dinamite!



P.S.: também aceito convites para tomar um chá, ou comer pastel com caldo de cana.