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Perfil

Eu sou minha história

Sou Ricardo Olah, com minha esposa somos voluntários a mais de 12 anos em Grupos de Apoio de pessoas que saem da negação e querem se recuperar em alguma área em sofrimento na vida.
Sou  portador de TDAH Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Estou em recuperação de distração crônica, falta de focalização, desorganização

Já tive 15 acidentes de carro. Três acidentes, quase fatais: uma vez sozinho, outra vez com esposa e minhas duas filhas ainda pequenas e outra vez ainda com filhos de amigos em idade escolar nas caronas para a escola. Faço acompanhamento médico regularmente: medicamentos, estruturação e um Grupo de Apoio.

Saí da negação com ajuda da minha esposa Lilian, e literatura específica, Fomos juntos para a recuperação e crescimento através de Grupos de Apoio. Descobrimos outras áreas a serem tratadas, eu saí da negação do meu TDAH religiosidade, Lilian saiu da negação da ansiedade, codependência e perfeccionismo.

Não me envolvi mais em acidentes de carro e minimizei outros prejuízos sérios e crônicos nas diversas áreas da vida que não havia percebido ainda devido a minha negação e em parte por causa do TDAH. Para se ter uma ideia, não conseguia compreender uma leitura simples e nem terminar de ler um livro completo por falta de concentração, por causa da distração crônica e falta de focalização.

Com medicação e estruturação ensinada por orientação médica e terapêutica agora consigo ler adequadamente, ser preletor e apoiar pessoas a lidar com seus complexos e dificuldades. Apoiar familiares que necessitam conviver com pessoas portadoras de TDAH.

Lilian trabalha na área de acessibilidade, é tradutora e intérprete de
LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais. Se dispôs a ser voluntária desde que viu pela primeira vez surdos se comunicando em Libras, sentiu amor pelos surdos e desejo de se comunicar.
Lilian queria saber dizer em Libras pelo menos um "olá", ser uma amiga ouvinte deles. Queria servir em amor o próximo surdo, como servia o próximo ouvinte.Sabia que não poderia sem aceitar a língua deles, a cultura dos surdos.

Lilian não só foi aprender Libras para se comunicar com os surdos, decidiu dali para frente ensinar em casa nossas filhas a amar os surdos ensinando a língua materna deles, Libras. Treinava e ao mesmo tempo ensinava Libras em casa, na época nossas filhas com 4 e 2 anos. Sinal de "oi", foi o primeiro a ser aprendido. Depois sinal de "olá", "quero água","arroz", "feijão", "quero ir ao banheiro", "eu te amo queridas filhas","eu te amo mamãe", "eu te amo papai', Sinal de "como posso te ajudar?' Ocorreu que depois de terem aprendido a se comunicar com os surdos começando com o sinal de "olá" nunca mais deram "tchau" para os surdos nem para Libras e sua cultura tão peculiar.

Com 6 para 7 anos minha filha já ia com amigos surdos treinar Libras na padaria da esquina pedir “refri” para eles, na farmácia do quarteirão explicar que tipo de dor estavam sentindo e que remédio estavam querendo comprar. Tão bonitinha!! rs Já adolescente, a pedido deles, ajudava no telefonema, ligar para parentes e avisá-los que estavam bem, passar um recado, avisar de um possível atraso de chegar em casa, avisar que iriam dormir na casa de outro amigo, avisar que encontraram o endereço que estavam procurando e tinham chegado ao destino.

Coisas da vida de qualquer um.
Eu via minha filha falando ao telefone e ao redor um dos surdos fazendo Libras para ela, "mandando ver',...rs literalmente, "ver" seus sinais e ela traduzindo para pessoa do outro lado da linha. Imaginava o coração do outro ouvinte, uma mãe, um pai, um irmão, uma tia, uma avó, um responsável por aquele surdo que estava ali prestando contas.
Talvez a pessoa do outro lado pela primeira vez tinha deixado o seu querido filho surdo sair com amigos, e estivesse com o coração na mão de preocupação, de ansiedade, de culpa talvez, de dúvida de ter deixado o filho ir sozinho, já era a hora? ou mais uma vez eu deveria ter ido junto? "para não ele não se perder", afinal como meu filho voltaria para casa se não tem alguém que fale sua língua.

A voz da minha filha no telefone foi muitas vezes um bálsamo de alívio para o coração da pessoa que estava do outro lado da linha. Uma voz. Não a voz da minha filha em sí, ali era a voz do surdo! Minha filha era só o amor no lugar certo...para pessoa certa...pela razão certa.

Na família aprendemos na prática que aprender a "linguagem do outro é aceitar o outro" se tornou um meio prático de amar o próximo surdo e ensinar os ouvintes a amar os surdos através da sua linguagem. Nossas filhas cresceram convivendo com surdos, com a cultura surda.
Conviveram com o amor e o voluntariado entre os surdos, de ajudar quem pedisse ajuda, quem de fato precisasse de ajuda. O amor pelos surdos se tornou uma missão familiar, apoiar o surdo a ter acesso a toda informação que todo ouvinte tem.

Lilian hoje em dia como profissional presta serviços em instituições, empresas, ONG´s, escolas, congressos, teatro, agências de publicidade. A vida entre os surdos a capacitou para sensibilizar quem quer aprender Libras a amar o surdo aprendendo sua cultura.

Uma de nossas filhas, Lidiane 24 anos, hoje casada, por ter aprendido desde criança Libras, pode se comunicar com surdos, pode ajudar os surdos a ter acesso a informação quando é necessário no dia-a-dia. Formada em Educação Física quando no trabalho aparece um surdo por lá, eles podem contar com minha filha para ter acesso a informação através do amor que a Libras nos ensinou a comunicar.

Nossa outra filha, Naiane casada hoje com 26 anos, decidiu ser Intérprete-Tradutora, se formou em Letras-Libras pela UFSC. Hoje é uma profissional atuando em múltiplas áreas, interpretando e traduzindo para os
surdos adultos e surdos crianças, dando a eles acesso a informação em teatros, filmes, museus, faculdades, contação de histórias, música erudita, poesia, fóruns, musicais, hospitais, desfile de moda. Elaborando textos, e participando de discussão para apoiar os surdos e grupos de minoria a terem acesso ao direito de amarem e serem amados. E por aí vai!
A partir do ano de 2013 eu e Lilian decidimos servir integralmente como voluntários para recuperação de pessoas. Levantamos recursos para o nosso sustento através de doações de amigos, conhecidos e pessoas como você que se quiser é só entrar em contato com a gente.

Que pé estamos?
No 12º passo do programa de grupos de apoio, servindo voluntariamente:
o texto do passo diz:  "tendo recebido um despertar, através do exemplo e palavras levar a mensagem a outros"
E a prestação de contas?
Moramos em Osasco-SP e estivemos apoiando em 2016 a implantação de Grupos de Apoio nas cidades de Salto-SP e Jacareí-SP. Também acompanhamos diversas pessoas desses grupos que se formam como "padrinho" e "madrinha" , que são os termos utilizados no programa de 12 passos, com encontros individuais.