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"Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugia e como um furacão,

Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó -
Ah, que dor!
Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu:

Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.
- Esta pouca cinza fria"
(Epígrafe - Manuel Bandeira)

DE MIM PARA COMIGO:

Não sou escritor.
Não sou poeta.
Mas escrevo mesmo assim.
Escrevo para livrar-me do que me angustia.
O que escrevo é catarse.
Catarse para salvar meu espírito... Limpar as chaminés da minha alma.
Escrevo cartas para um amigo que já morreu, embora ele jamais tenha existido de fato.
Essas cartas são o que há de mais explícito na minha alma. Elas denunciam meu desespero, minha dor, minha angustia, minhas tristezas, minhas falácias e meus enganos e desenganos.
Minhas crônicas e contos são a antítese das minhas cartas. O que essas tem de genuíno, aqueles tem de ficção. Com gotinhas de uma loucura disfarçada e com pitadas de excessos generalizados, eles possuem, geralmente Mares de Hipéboles, infinitos de exageros, monumentos de fantasias:
São os meus desvarios.
São os meus boleros bem dançados com pernas de pau
Minhas operetas de picadeiro de circo
Meus tiros de festim
Minhas lantejoulas de carnaval.
Em comum entre as Crônicas e os Contos e as Cartas, existe apenas os erros numerosos e uma solidão sem propósito, sem começo nem fim.
Qualquer outro texto que eu tenha feito e que não seja cheio de melancolia ou desvario;
Qualquer texto meu, onde se respire o ar puro das montanhas e denuncie belezas viridentes de um campo em primavera;
Qualquer texto romântico de minha autoria cheio de belezas radiantes e alegrias benditas:
Deverão ser considerados pura falsidade ideológica! Um acesso ilegítimo do meu consciente tentando apagar o fogo inapagável do meu inconsciente.

Verumtamem voluntas Tua fiat. Sed non mea fiat, Domine.