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Vivo numa sociedade onde se mascara a culpa apontando os erros dos outros; sociedade que oprime, que explora o pobre, que enriquece a custa dos trabalhadores, deixando-os sem ter como curar suas feridas. Esta mesma sociedade, onde quem enriquece a custa do pobre não tem compromisso com os mesmos, virando-lhes as costas quando não vencem sustentar suas famílias com o baixo salário que recebem, porque no mês se acumulou gastos também com remédios, com acidentes, com aprimoramento profissional, que sai do seu próprio bolso, mas não resulta em melhoria do seu salário, etc., – esta sociedade é que pousa de vítima quando o oprimido se volta contra ela já acuado pela necessidade, pelo vexame e pela indignação de ver os corruptos e exploradores a darem-se bem e ainda manipulando a lei e as forças para reprimir o pobre quando este reclama seus direitos legítimos, apenas o reconhecendo como marginal, como desordeiro e como terrorista, para ainda aí negar-se a olhar para si mesma e admitir quanto tem sido hipócrita, mentirosa, arrogante e injusta.
Sou um membro desta sociedade, que vê o mundo a deteriorar-se e nega-se a tapar o sol com a peneira, pois assiste a escalada da miséria e da injustiça social, o caos econômico, o caos social, o caos político e o caos moral, sem contar a catástrofe iminente da natureza que, exaurida, dá o troco aos poucos. Sou desta sociedade que não consegue conter a guerra, mas insiste em mentir para si mesma que os homens estão no controle. Sou desta sociedade doente e irrecuperável, onde o pus (a secreção purulenta da doença sócial) se torna superior ao corpo doente e nos filmes se gloria a polícia e a violência que ela usa produz com o pretexto de combater a violência, ao invés de gloriar a inteligência do bem, não a frenética fuga do homem do mal que ele mesmo não cessa de produzir e provocar. Sou desta sociedade onde, em breve, quem preza pelo direito, pela liberdade, pela privacidade, pelo amor, pela misericórdia, será confundido com aqueles que agridem o povo com seus salários profanos, que roubam a população com salários profanos e corrupção, que produzem insegurança, pois empobrecem o povo, que afundaram o Brasil nos últimos 500 anos, mas posam de moral prendendo corruptos, raptando bandidos, sem dizer que são tão participantes da corrupção e do banditismo quanto os que agora são presos, quanto os bandidos que agora os afrontam, respondendo vivamente ao roubo que os pobres sempre sofreram, os trabalhadores e os meio-ricos têm suportado da parte dos poderosos, que publicam as notícias, que pagam os políticos, que controlam os legisladores, decidem os juízos dos julgadores, dando diretrizes para os policiadores para que sufoquem as reivindicações da nação, garantindo aos privilegiados mais altos seus privilégios.
Este sou eu, esperando a volta de Jesus e o resgate que fará aos que choram e gemem com as barbaridades deste mundo, com o roubo, com a morte e com a injustiça.