ÚLTIMAS HORAS DE FERNANDO PESSOA

Canto a tua noite de glória,

a tua última noite!...

A noite que finalmente

traria Luz à tua história,

para passares a brilhar

intensamente!

Havias dito:

"E-xis-tir! Eu vou existir"!

Quiseste despedir-te condignamente:

O Manacés veio fazer-te a barba;

O Trindade serviu-te um último trago

e - apesar do torpor -

saudaste o aniversário da tua irmã,

em singelo telegrama, qual flor.

Para além de notável poeta,

eras um versátil actor

("Um fingidor"

- confessavas na tua poesia),

que raramente dava a perceber

qual dos papéis estava a representar

num qualquer dia.

Mas, naquela noite, estavas perante

um acto determinante:

O epílogo de uma vida...

A tua própria vida!

O monólogo do homem solitário,

que sempre sorrira interiormente

da náusea que a humanidade lhe causava:

"Raios partam a vida e quem lá ande"!

Fracassado - enquanto homem,

ignorado - enquanto poeta,

(como tantos grandes poetas afinal,

deste minúsculo mas imenso Portugal,

a quem só a morte trás a Vida),

suportaste esta vida,

como se ela apenas fosse

uma doença incurável,

com um sabor agridoce

intragável.

Ah, nobre actor dramático...

"O drama em gente"!

Tantas personagens numa só!...

Ao cair o pano da derradeira cena

- Na certeza de ires ver algo de novo -

e, para confirmares a sua veracidade,

soltas num último murmúrio:

"Dá-me os óculos"!...

E assim tombou no pó o Ibis,

para se erguer na Eternidade!

No ar,

ainda parece ecoar,

essa gloriosa profecia:

"Vou existir!... E-XIS-TIR"!!!

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

A MINHA SINGELA HOMENAGEM, AO AUTOR MAIS VERSÁTIL DE PORTUGAL!

OS ELEMENTOS AQUI APRESENTADOS FAZEM PARTE DE DADOS BIOGRÁFICOS!

Henricabilio, 07/08/2005