Carmem Miranda

Primeira homenageada do Sarau Literário Piracicabano do dia 16 de Março de 2010 no Teatro MUnicipal Drº Losso Netto em Piracicaba:

A Pequena Notável. The Brazilian Bombshell. Nome mágico. Mito. Hoje, apenas uma lembrança. Mas lembrança em tudo que nos cerca. Sua influência é sentida não só na música popular brasileira, como em outros ritmos do resto do mundo. A moda lançada por ela dos turbantes, dos sapatos de plataforma, das coloridas jóias de fantasia (os célebres balangandãs), coberta de plumas e paetê, mas de barriga de fora — tudo isso é hoje copiado pela juventude feminina e pelos gays e travestis, que sequer a conheceram. Carmen morreu, em 5 de agosto de 1955.

Quem foi, afinal, essa artista tão diferente, tão revolucionária para a sua época e até para a atual? A nossa maior sambista nasceu em Portugal, na aldeia de Marco de Canavezes, perto do Porto, no dia 9 de fevereiro de 1909. Vinda para o Brasil ainda bebê (um ano de idade), Maria do Carmo Miranda da Cunha (seu verdadeiro nome) foi aluna de um colégio de freiras em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, mas não completou sequer o curso ginasial porque, por necessidade financeira da família (o pai, barbeiro; a mãe, servindo refeições em uma pensão), a menina precisou começar a trabalhar muito cedo, primeiro vendendo gravatas, depois, como balconista de uma loja de chapéus...

Quando os artistas hollywoodianos;Tyrone Power e Sonja Henie a viram se exibindo no Cassino da Urca) , já com a primeira fantasia de baiana idealizada por ela própria, ficaram tão encantados que a recomendaram ao empresário Lee Schubert, que não hesitou em contratá-la para ser uma das principais intérpretes da revista musical "Streets of Paris" (Ruas de Paris).

As lojas da luxuosa Quinta Avenida substituíram as criações de Dior e Chanel pelas fantasias de baiana de Carmen, seus turbantes, sapatos e balangandãs, com bons "royalties" para a cantora brasileira, já, então, carinhosamente apelidada pela imprensa nova-iorquina de "The Brazilian Bombshell". Ao contrário de diversas traduções, "bombshell" não quer dizer "bomba" em português — na gíria americana, "bombshell" significa uma "explosão", mas no sentido de uma grande surpresa — então, a tradução certa seria "A Grande Surpresa Brasileira" ou "A Explosão Brasileira". No Brasil, anos antes, recebera outro apelido, A Pequena Notável, que lhe fora dado pelo locutor César Ladeira, da extinta Mayrink Veiga, e que pegou de tal maneira, que ela passou a ser assim apresentada nos seus shows.

Tinha apenas 46 anos. Já contratada pela 2Oth Century-Fox pelo prazo de sete anos, Carmen vai a Hollywood para filmar Uma Noite no Rio com grandes nomes da época, como Alice Faye e Don Ameche. Desta vez, não era apenas cantora, mas uma verdadeira atriz, com cenas de amor duplas com Ameche, que fazia o papel de um cantor americano e seu sósia, um barão brasiíeiro. Então, repetiu-se o fenômeno: ela, que jamais havia tido aulas de canto ou dança e que se tornara mestre (ou maestrina) nos dois setores, acabou se saindo muito bem como atriz, embora nunca tivesse recebido lições de arte dramática. No seu funeral, no Rio de Janeiro, em 12 de agosto de 1955, o famoso carrilhão da Mesbla, na Cinelândia — perante quase um milhão de pessoas acompanhando o féretro— tocou o dia inteiro Taí, Adeus Batucada, Boneca de Piche, O Que é Que a Baiana Tem? e diversas outras músicas de Carmen, terminando com a tradicional Ave Maria de Schubert (uma das favoritas dela), que era executada todas as tardes, às 18 horas.

Textos extraídos do livro "O ABC de Carmen Miranda",de Dulce Damasceno de Brito Companhia Editora Nacional, 1986