ÂNSIA DE BUSCAR O NOVO

"Amigo Joaquim Moncks

Saúde e paz em primeiro lugar! Gostaria imensamente que você prefaciasse meu Livro Virtual: “Glosas Virtuais de Trovas XXX”. Seria uma honra ser prefaciada por você. Se aceitar, enviarei o material: 55 Glosas. Vou imprimir e enviar pelo correio, se preferir, ou via e-mail. Pode enviar o prefácio por e-mail.

Gislaine Canales, em Balneário Camboriú/SC, 2005. “

Amadinha Gislaine! Sobre a solicitação acima, cujo excerto fiz questão de inserir no corpo deste, peço que examines minhas razões. Temo que não te possa atender no prazo que necessitarias.

Da mesma maneira que em minha poesia, mexo e remexo na criação original – isto é a tônica em tudo o que escrevo – incluindo evidentemente prefácios e apreciações analíticas. Todo o texto necessita de um prazo para decantar a poeira e os detritos, como ocorre para se obter água límpida...

Assim que – como estás no ritmo da modernidade, célere como convém a uma internauta – deve ser tarefa pra ontem e não gostaria de te criar inquietação, pois que a angústia da espera é mofina.

Além do mais estou a finalizar um livro que está atrasado para ir ao prelo aos cuidados da Alcance, a editora do Rossyr Berny, o qual vive a me cobrar o acabamento final, no que trata da chamada fortuna crítica, algumas opiniões de terceiros para as orelhas da obra, logomarcas de entidades associativas, etc.

Como ando com problemas de diabetes, variam o humor e a vontade de fazer as coisas, perdendo o interesse, por vezes, naquilo que inicio com aparente gana de terminar. Também não quero me comprometer e depois ficar a me inquietar por não conseguir terminar a tarefa.

Há, ainda, outra questão que inspira cuidados de mérito: não sei escrever trovas, apenas as aprecio, sinceramente.

Sou um inveterado modernista, brigo com a contemporaneidade literária, tentando espaço histórico no pós-modernismo, porque pretendo lutar no sentido de que a minha obra não contenha a mesmice que vejo por aí...

Mas, em Poesia, até o pleonástico, o rebarbativo, tem algo que me agrada. Se mais não fosse, como negar o exercício dialético, a antítese? Só assim se poderá apreender o verdadeiro sentido da proposta explicitada no signo, na palavra!

Tomo como exemplo os nossos vates Zeferino Paulo Freitas Fagundes, meu mestre de humanidades, Mario Quintana, Cassiano Ricardo, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond, Cecília Meireles, Lila Ripoll, Lara de Lemos, Lia Luft, José Paulo Bisol, Dante Milano, que transitaram livremente em todas as expressões de forma, passado e presente.

Busco o Futuro, mas não tenho pressa em publicar freqüentemente. Pra mim, escrever é penoso, dolorido. É parto sofrido, mesmo que aparentemente não se note.

Quanto à Poesia, não a sinto como fruto de diletantes exercícios ou de sobejos literários, e sim como o desafio emocional e intelectual em que pesam nitidamente a linguagem conotativa, o ritmo, a sugestionalidade, a imagística e a transcendência, buscando, sempre que possível, a contemporaneidade formal. Leva tempo pra que eu sinta o poema andando pelas próprias pernas, que são muitas, tal como a Medusa ou um polvo.

O que fazer? Cada louco com a sua mania! Afinal, já se escreveu tanto por estes séculos de gesto gráfico que, se não se buscar o novo, nada se fará que possa vir a entrar no seleto grupo dos que ficam na memória poética. Alceu Wamosy não ficou só por um único soneto? Fala-se nele e o que acontece? DUAS ALMAS, o texto lapidar. E o restante de sua obra segue de esguelha, degraus abaixo.

E há tantos outros poetas que ficaram graças a uma única obra... Percebo que não há uniformidade estética na obra poética. Algum poema bate em nossos ouvidos numa melopéia, numa forma de declamação agradável ao gosto dos aficionados. E permanece como obra referencial...

Fico com Fernando Pessoa, condenado a conviver com os seus heterônimos, pseudônimos, alter egos, os seus amigos íntimos, em quem pode confiar tanto como em si mesmo, mas que têm nuanças próprias, valores, costumes, práticas diferenciadas, enfim, o alter mundo pessoal, o seu universo, a gaiola louca em que está preso, enclausurado. Lembro Ortega Y Gasset: – Eu sou eu e minhas circunstâncias!

Ainda mais que a nominata dos teus prefaciadores tem nomes que sei do valor intelectual, tais como Hugo Ramirez, Gisele Bueno Pinto, Giselda Medeiros, Miguel Russowsky, Arlindo Tadeu Hagen, Flávio Roberto Stefani, Fernando Vasconcelos, enfim...

Precisaria entender muito mais de poesia clássica para poder me atrever a prefaciar uma obra que vai lidar precisamente com estes cânones. Por mais que admire a tua obra – por me parecer inusitada e louvável – seria apenas a singela opinião do amigo.

E tu deves saber que os afetos são péssimos críticos, porque suas vozes só balbuciam doçuras, carinhos, loas.

Dá-me um tempinho, deixa que eu estude um pouco mais, esteja mais livre ou menos ocupado, que voltaremos a conversar sobre este assunto.

Perdão, se não te dou a resposta afirmativa. Sei de minhas limitações.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Poesia e a Prosa, 2006.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/1110692