Querido amigo, meu Princípe Lusitano....

Sem data para ser eterna...

(desejei responder seu email de modo digno, com algum teor poético para que não pareçatão dramático embora seja. Este é meu último texto e dedico a você...)

Você está quase certo, meu Príncipe Lusitano...

Sou extremamente sensível... Esse é o espinho de minha carne!

Linda... Sim, bem mais do que a foto pode mostrar!

Eu revelo meu hoje e digo que é meu passado... Revelo meu passado e digo que é hoje! Porque minha tamanha sensibilidade se cansou de sentir tanta dor.

Eu sou a filha de Pessoa, que ainda me diz: - Queres mesmo ser poeta? Ensino-te o ofício... Mas o poeta é um fingidor!

Eu admito, sou poeta! Mas não finjo! Apenas tenho uma enorme incapacidade de falar sobre mim mesma, então falo do que vejo ao meu redor! Apenas tenho mil mulheres dentro de mim que se debatem numa eterna batalha que decidirá quem vai dominar este corpo que definha.

Sou uma ostra que contém mil pérolas em seu interior!Sou um corpo cansado, que ainda jovem vai se extinguido de vida, tendo ainda assim mil vidas habitando em mim!

Não sou a mulher de mil faces... Sou mil mulheres em uma só!

Meu coração não está carente... Meu coração buscou em uma vida o amor de todas as vidas!Os melhores homens que conheci foram amigos e irmãos. Eles não me olham como uma mulher, me olham como alguém sem sexo... Hemafrodita...Assexuada...Olham-me apenas como uma alma!

Fora isso, todos os homens que conheci roubaram um pouco do melhor em mim! Só me resta o que vejo nas pessoas, pois em mim nada mais há para oferecer... Muito menos para criar poesias!

Me preparei uma vida inteira para ser o melhor que alguém que não existe teria!

Eu sou a moça de óculos escuros que Saramago cantou! Tento lembrar a mim mesma e a todos ao meu redor de que existe algo que mora dentro de nós que é quem somos! Neste mundo, sou apenas uma cega! Não enxergo o valor dos bens materiais, não enxergo o valor da aparência, não enxergo! Não entendo como o ouro, o diamante ou um pedaço de papel pode ser tão valioso! Um dia, alguém disse que todos os bens que se possuía, seriam trocados por esse pedaço inútil de papel e que ele valeria algo! Essa foi uma das maiores mentiras contados no mundo! Se você pegar o pedaço de papel que possui o maior valor e for a um banco troca-lo por ouro, não te darão! E todas as desgraças do mundo acontecem por esses pedaços de papel!

Estou tão cansada, meu amigo Príncipe...

Hoje estou ardente em febre, meu estomago parece ser comido por algo e eu não consigo comer! Também não consigo dormir: quando o corpo não reclama dor, eu tenho pesadelos. Estou morrendo aos poucos... E morro por amor! Por um amor que não tenho!

Conheci vários homens em minha vida, e não havia buscado por nenhum! Eu era jovem virgem que se guardava para o sonhado amor! Houve vários pretendentes... Não senti encanto por nenhum! Eu preferia viver só, em meio aos meus amigos do que me render a ilusão! Não queria me enganar, não queria errar... Sabia que a vida me traria meu desejo!

Um certo homem uma vez, autoridade, colocou uma arma de fogo em minha boca e me roubou a única prova da minha sinceridade! Eu ainda lembro como se fosse ontem as longas horas de angustia. Não sei exatamente o que aconteceu. Saí de meu corpo, me coloquei nas nuvens e pedi perdão a minha mãe!

Depois deste, outro surgiu! Ele também me roubou! Viu que eu já havia sido saqueada e levou mais um pouco! É assim que conheço homens! Ladrões que vem sugam uma boa parte do meu melhor, e me lançam fora feito um trapo, sem eu jamais ter consentido que me olhassem, que me tocassem, que me desejassem!

Não sofro por essas lembranças... Acostumei- me a sentir dor... O que passa, passa! Sou tão fria quanto sensível: quando não quero sentir, não sinto! Quando não quero me importar, não me importo!

E até hoje, assim sou vista: a melhor meretriz das fantasias mais sórdidas! Aquela que causa a cobiça e o desejo insano! O pedaço de carne suculento que precisa ser pelo menos degustado!

E ainda há mulheres que sentem algum prazer sendo vistas desse modo... Há algumas que ainda chamam de poetisas! Tão simples descrever um ato sexual que apenas existe em uma mente que habita um corpo reprimido. Tão difícil falar de amor...

Não tem muito tempo, eu havia decidido me tornar lésbica... Tenho amigas lésbicas. Quem sabe meu grande amor estaria escondido num corpo de mulher? Desprezo tanto a animalidade selvagem num eterno cio dos homens, que não seria difícil. Mas eu não poderia amar outra mulher, eu nasci para um homem!

Só que esse homem não existe! Pode ser que exista em outra dimensão... Ou ainda me espera em algum lugar do passado, sentado em um banco de praça com flores roubadas que nunca murcham!

Eu venho me despedir meu amigo...

A Morte tem passado por mim, e ri! O meu corpo está se entregando porque se doa constantemente!Está fraco! Minha Alma não quer mais ficar aqui e não ajuda! Anseia que o corpo sucumba para ser livre de vez!

Eu pensei que falando do amor que via nos outros, poderia atraí-lo para mim. Nem sempre falar de amor quer dizer te-lo. Minha mãe é Vênus. Não posso continuar acreditando que nasci apenas para o Amor Universal: este sacia minha alma! Eu tenho um corpo humano, e este corpo precisa do tal amor para viver.

Faz algumas semanas, eu estava à janela namorando as nuvens... Eu amo as nuvens...Senti um resto de ar! Senti meu corpo cair... Ainda podia ver as nuvens e havia uma certeza de que alguma coisa se escondia entre elas e podia me ver. Eu não tinha forças, mas conseguir estender o braço e implorar:- Me dê, por favor, alguma coisa pra que eu possa me apegar, e ter forças de continuar!

No outro dia, este meu eterno céu negro ganhou cor e vi luz!O sangue correu mais rápido e grosso nas minhas veias. Senti coisas como nunca senti. Eu entreguei tudo de melhor e mais bonito que me sobrou!Para ter a chance de saber o que é esse tal de amor! E fui rejeitada! Porque sou filha de Pessoa, mostro meu passado como se fosse hoje, e meu hoje como se passado fosse.

Eu me enganei Príncipe...

Embora eu tenha me visto nele, ele não conseguiu também me ver como sou! Não havia ninguém escondido nas nuvens me olhando cair...

Não consigo mais escrever...A febre arde, os olhos pesam, a dor lateja...

Só vim me despedir...

Eu ainda sou grata a Força Maior por eu ter vivido com intensidade todas as emoções ruins: na presença delas eu enxerguei as boas. Fiz meu melhor para que meu caminho não fosse uma mera passagem... Deixei algo para este mundo! Dediquei toda a minha vida ao cumprimento de uma missão.E a abandono sem medo da punição,porque não pude ser apenas humana.

Vou me deitar, tentar ver se ainda me resta paz, para seguir.

Pela milésima vez meu amigo... Eu vou morrer!

Adeus, meu amigo...

Até quando eu voltar a viver! (de novo)

Não posso mais escrever... Poesia é vida, e não tenho mais nenhuma!

Não aprendi ainda a voltar atrás!

Shimada Coelho A Alma Nua
Enviado por Shimada Coelho A Alma Nua em 18/10/2008
Reeditado em 18/10/2008
Código do texto: T1234759
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