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AMIGA RECENTE

 

   Todos dormem, estou na casa de meu filho em Brasília, meu lar é a vida e minha casa sou eu. A empregada hoje não está e aos finais de semana quem cozinha é  meu filho, como estou aqui de bobeira, acordo cedo mesmo, fui fazer café, por frutas na mesa,  abri o lap top, emails... Achei você, a amiga recente. Como uma banana, mas não resisto  e venho escrever ,como não resisti ontem.

 

    Aprendi desde menina, que somos mais do que temos, e que a sabedoria é Deus e somente Ele é quem pode nos dar. Infelizmente aos poucos distância disso tomei e faz pouco tempo, que comecei andar devagar para emparelhar com os outros, embora use um veículo, muitíssimo rápido,  consigo parar e sentar  no meio fio e analisar , depois por meu corpo em pé novamente e fluir.

 

   Foi assim ontem, parei naquele recanto florido ao lado do manacá de jardim , e o banquinho na porta da sua casa fez minha alma descansar breves minutos, qual não foi minha surpresa, vejo passar um amigo, cumprimento e mando lembranças para a terrinha de meus pais, sem mais nem menos desfere algumas palavras, que nem de longe pensava poderia dele ouvir um dia.

 

    Poetas são mais humanos, têm alma sofredora, porque sofrem por si e por mais os que estão à sua volta. Não nego, levantei do meu descanso e comecei a falar do que minha alma pacata via na sua porta.

 

   Pendurado estava um pergaminho com todas as palavras que muitas queriam escrever, de sorte, que eu podia ler, mas outras nem isso podiam fazer, não sabem o endereço, ou mais grave nem sabem ler... Reservo-me o direito de usar meus apetrechos não só de mulher, mas de cidadã livre e sem muito rebuscar na hora e na bucha desembainhar a espada e lascar.

  

    Eu não penso muito nas análises críticas literárias, observo sim, com os olhos de quem hoje pára no meio da estrada e colhe frutas para comer, não carrego mais malas , ando de mochilas, a maquiagem não cobre mais as rugas e as manchas que o tempo deixou, e cá pra nós, são as medalhas conquistadas.

 

     Não me custa mais parar. Nessas paradinhas, para além de ver muitas coisas, aprendo outras tantas, uso e abuso de meu senso de escolha, há muita gente cansada sabe? Que pára na estrada porque não pode andar, ou as vezes fala do que não viu, nem por isso são fofoqueiros , são pessoas frustradas queriam ,mas não conseguiram , sinto muito por elas, mas nada posso fazer, acreditaram mais nelas do que na Sabedoria.

 

   Bem, a conversa esta ótima, mas os pergaminhos lá da sua porta precisam ser trocados sempre viu? Capricha, que quando voltar desta caminhada passo lá, desviei a rota só um pouquinho, meu veículo ultra-rápido permite, para ver e falar com você na outra casa sua.

Despeço-me na certeza de que, fui compreendida e sabe a amiga que nem os transeuntes etéreos podem fazer calar o som da verdade que emite o pergaminho ultra moderno pendurado  no seu recanto lindo.

 

   OBS, amo meu amigo, ele é meu amigo, mas nem de grandes e profundos pensamentos  vive o rio,ele passa também no areal, mas sempre deságua no mar.

                                                                

 

 

  Denise Figueiredo.

 

In cartas I
Coleção 2008