CARTAS V

Minha filha,

Hoje desembarcando do autocarro que me levou a Lisboa,vinda de Santarém,senti que alguma coisa estava faltando.Parei procurei um local, sentei-me.Como eram horas do café, pelas quinze horas, busquei pedir algo para acompanhar o cafezinho. Qual não foi minha surpresa, a jovem ofereceu-me um pastel de santa clara e uma bomba de creme que por aqui chamam simplesmente de éclair

.

Na mesma hora percebi o que faltava, saboreei o pastel delicioso, e o éclair levei e enquanto o saboreio no quarto do hotel, escrevo para você.

Do café que fica nas cercanias da Praça do Marquez do Pombal, aonde sempre venho matar saudades, fui visitar uma amiga no bairro da Graça, ela esteve doente e desde que cheguei não estivera com ela. Fui de Metro, até a Praça do Chile e dali por diante subindo até lá.As calçadas e as ladeiras são o charme de Lisboa e toda hora vem a lembrança de vocês, a maneira que os criei é bem o jeito de ser desse lugar que sempre que volto parece-me que nunca saí daqui.

Amanhã sigo para Pombal,o castelo é o que menos importa, quero é ver as hortênsias do quintal, cada ano mais viçosas ficam.Não sei se é o êxtase por vê-las.

Espero mandar notícias quando chegar à Trás-os- Montes, onde encontrarei os primos. Imagina, catar nozes, castanhas e avelãs, pena chego depois da vindima, mas o vinho novo ainda não saiu das pipas.Por isso o Magusto ainda pego.

Penso que deve estar curiosa para saber do que senti falta, uma vez que disse na mesma hora ter percebido e não foram os deliciosos doces que tanto amas que me deu saudade, não precisava desse fato, para sentir saudades.

De todas as vezes que aqui estive não passava em qualquer lugar sem levar cinco ou seis coisas para todos da casa, hoje consigo ver, fotografar e até mesmo conversar com pessoas da cidade sem nunca as ter visto, provar as delícias da terra muitas vezes por essas pessoas indicadas. Lembra como eu chegava com as malas entupidas ao Brasil todos os anos?

Hoje me alegro com a mochila nas costas, apenas um casacão que me orna os lombos para o frio não consumir os ossos.

Foi o que eu senti filha, a leveza da liberdade, é maravilhoso ser leve , não carregar peso em excesso,apenas o necessário na mochila ,porque a mala fica em pombal.Na volta ao Brasil só levo um Xale branco com franjas, como o que perdi há treze anos.

Um beijo no meu neto, carinho para todos,e saibam que o tempo quando debulhado como fazemos com as espigas de milho, se cozido ainda tenro, faz-se salada fresca, ele moído faz-se bolos e pães, mas se deixado na lavoura seca e apodrece

Estou debulhando meu milharal, está muito bom!

Da Mamy, livre, leve e solta.

Obs; Quando volto?

Não sei.