A Próxima Última Batalha

"Até certa idade vivemos a vida, adoidados como se fossemos eternos... Nos permitimos tudo e tudo o que é possível, e por vezes até o impossível vivemos... A partir de certa idade, deixa-se de viver e passa-se fazer uma contagem regressiva..."

Eu sinto medo pelo fim de meus dias que insistem em avisar-me que se aproximam... Não sei se medo é a palavra certa... Talvez remorso por tantas vezes desistir da vida... Por tantas vezes invocar a morte...Por tantas vezes ser negligente... Não sei...

Eu tenho pressentido faz um bom tempo... Meu corpo não disfarça e me grita o tempo todo que algo não está bem... Há um mal dentro de mim e meu corpo reage, não desisti, insiste e não cansa... Luta para expulsar o que não deveria estar aqui... Minha sustentação sempre foi conseguida na marra, brigando... O mal evidente em nosso corpo é reflexo de outros males interiores... Na verdade, penso que nunca consegui ficar realmente de pé... Na verdade, eu nunca sai realmente do lugar... A dificuldade de um passo sempre refletiu o receio em dá-lo...

Não é o receio pela batalha intensa que se aproxima... É receio de em dado momento perder as forças e desistir... Eu sei o que está aqui... Eu sei contra o que devo lutar... Eu sei a dor que isto me causará... Sei que precisarei perseverar...

Ficou marcada na minha alma a frase: "Põe-te em pé e falarei contigo..." É difícil ficar de pé... É difícil permanecer de pé... Tão difícil que meu corpo quer se render... Meu corpo não agüenta o peso da própria cabeça... Não agüenta sustentar-se... Talvez eu nunca me sustentei...

A vida de repente ficou tão curta... Os sonhos, os projetos, os desejos passaram a ser tantos... A consciência de que a eternidade não se vive aqui me amedronta... Este mundo sempre me foi tão belo... Os encantos do mundo tentam cada vez mais me aprisionar...

Eu sei, nada é acaso... Eu sei, tudo tem uma razão de ser... Eu me perdi na noção dos dias e das horas... Eu já não sei onde exatamente estou... Quando tudo parece ir de mal à pior, fica pior ainda... Mas nada é acaso...

Cada dia é uma prova intensa... Para provar a mim mesma em que acredito... Cada prova que vem é mais árdua... E já estou cansada... Viver para uma missão e perder o sabor mais adocicado da vida... E diante da última prova perceber que a missão serviu apenas para mim mesma... Não existem problemas, existem lições para serem aprendidas... Depois de cada uma delas as provas para nos certificarmos se a lição foi realmente compreendida... Eis a prova final... Depois dela virá o prêmio... Eu não sei se aqui ou em outro lugar... É daí que vem o receio...

A vida foi uma vivência seqüente de dor... Aprendi a conviver com ela... Aprendi com ela... Mas não sabia que era para me preparar para a maior delas...

Em um dado momento da vida, temos que encarar o fato que deixaremos de existir... E ninguém sabe em toda totalidade o que é isso... Eu já joguei coisas no lixo, paradas ali no mesmo lugar por tanto tempo, para descobrir o que é algo existir e deixar de existir...

Certa vez, na minha adolescência eu me perguntei porque não conseguia ver a luz no fim do túnel... A luz mais cedo ou mais tarde vem... Hoje estou diante do túnel escuro novamente e não vejo a luz... Mas eu sei, ela virá... Aqui ou em outro lugar...

Ninguém pode sentir nada por mim... Ninguém pode viver minha vida por mim... O que a vida me oferece, somente eu posso receber mesmo que as mãos não estejam estendidas... Recolha as mãos e ela jogará aos teus pés como uma oferenda...

Eu me arrependi de meus erros, e hoje me arrependo do que pensava ser acertos... Olho para meu nome em letras garrafais no cabeçário dos exames... Seguido dele meus dados em letras menores... E tudo parece estar tão longe como se eu me afastasse... Parece-me estranho ver meu nome... É como ver o nome de alguém, seus dados e não saber quem é essa pessoa...

Não reconheço a pessoa cujo nome se destaca sob porcentagens e nomes estranhos... Eu já não sei mais quem sou...

Quando criança eu tinha medo de me afogar ou sufocar... Memórias estranhas de mim mesma me afogando me atormentavam e não aprendi nunca a nadar... Eu na verdade nunca me afoguei... Pensei que o maldito cigarro iria me matar e talvez ele só vá auxiliar no processo... Já não me bastavam as tantas cicatrizes que meu pulmão conseguiu antes que ele surgisse em minha vida... Não tinha medo do meu pulmão doente, mas de descobrir o que é me sufocar... Meu fôlego melhora a cada dia...E hoje... Eu já sei faz anos o que os médicos ainda não conseguem ver... Minha medula não está bem... O centro de minha vida possui um mal...

E eu não escrevi tudo o que queria... Não desejei sucesso, a glória da fama, meu nome destacado nas livrarias, mas também não queria ver meu nome como o vejo agora... Pois queria mesmo é continuar viva de algum modo quando o inevitável para todos nós, viesse... Meus filhos precisam de mim... E quero estar com eles mesmo quando não estiver aqui...

Mas agora, acho que devo parar de escrever, lustrar minha armadura usada em tantas batalhas, concentrar-me em reunir forças... Pois não estou preparada para o que virá e não sei o que há de vir... Não há nenhuma estratégia preparada...Só sei que devo enfrentar, mesmo com medo... Mesmo noe scuro...Pois de um modo ou de outro, vencerei!

"Nenhum dos acontecimentos da vida é acaso."

Sem data para ser eterna, pois sei que estou no Hoje e é mais um dia que estou viva! -=Graças à Deus!=-

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"Quando tudo parece perdido, basta amor...No amor não existe medo, antes o verdadeiro amor lança fora o medo...

Quando tudo parece não ter sentido, basta sair para o quintal, sair de dentro de casa, da sala, de trás da mesa, de dentro de si... Então se percebe que as rosas não são todas vermelhas, mas há as amarelas, rosadas, brancas e mescladas... Que árvores não fazem apenas sombras nem servem apenas para os ninhos de passarinhos, os gatos também repousam nelas... Que as nuvens não são lindas apenas quando parecem-se com gigantescas bolas algodão, mas quando também são cinzas, alaranjadas e negras, pois há beleza onde ha cor... Que alegria, contentamento e satisfação em certo momento acabam, e dores, sofrimentos e angustias também!"

-= Rita Shimada Coelho=-

Não estou triste, nem decepcionada, nem desesperada por problemas, só estou doente... E doenças vão assim como vêm... Fico um pouco preocupada, nada mais...No fundo, estou bem... Eu sempre utilizo de todas as experiências e oportunidades para escrever algo... E neste momento...Só quero dar um tempo de escrever...

Ps: vou morrer pela milésima vez... Eu morri tantas vezes nesta vida...

Shimada Coelho A Alma Nua
Enviado por Shimada Coelho A Alma Nua em 04/02/2009
Reeditado em 05/02/2009
Código do texto: T1421891
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