Conclusões Assumidas

"Um ao outro ajudou e a seu companheiro disse: Esforça-te!" - Isaías 41: 06

"A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver”.- (Paul Klee)

"A maior infelicidade para um artista é ter um adversário sem talento”.- (Denis Diderot)

IV Epístola - Conclusões de Shimada a Calixto

Meu eterno amigo, irmão de alma...

Nestes dias estive refletindo e fazendo minhas pesquisas... Fiz meu 'laboratório' sobre o comportamento humano, sobre as emoções, sobre os enganos da mente, sobre os equívocos humanos quanto ao que se concluí... E fico feliz que estejas trabalhando muito, pois nada pode ser mais recompensador para um artista do que fazer o que mais ama. Também estive analisando mensagens que recebi, referente a nossas cartas e ao receber sua última carta refleti sobre tudo que li até o momento.

Esta minha 'mania' de buscar uma boa leitura segundo o reflexo da personalidade nos textos me permite encontrar pessoas que desenvolvem maravilhosamente bem, possuindo a capacidade de transformar sentimentos em letras. Não que tecnicamente uma coisa deva ter relação com a outra, mas pelo meu gosto pessoal, estética e métrica demais sufoca a manifestação dos sentimentos nas entrelinhas, e ler deve ser um ato intensamente prazeroso e que nos cause emoção, seja ela qual for. Nem tudo está perdido: assim como nosso amigo Eurípides há outros que tenho enorme admiração, não levando em conta se enquadrados ou não nas regras - pois nem sou apta a julgar sobre esse ângulo - mas pelas emoções que me permitem sentir e que sou deveras grata por esta oportunidade.

Eu reli mais uma vez sua carta, para entrar em estado de profunda meditação e poder respondê-la. Não são as amarras da Censura ou a sombra da falsa Liberdade de Expressão que tentam limitar minhas palavras. Mas penso que sendo estas as últimas cartas sobre o assunto, devo expressar minhas conclusões sobre sem perder minha real identidade, e dizer o que deve ser dito, sem ser arrogante: a arrogância é sinal de insegurança.

Uma das mensagens que recebi me chamou a atenção pra um detalhe: há algo em mim que dá medo nas pessoas. Muitos de meus textos não são compreendidos, pois muitos dos leitores fazem a leitura no tom de voz que usariam para dizer as mesmas palavras. Não podem ainda assimilar minha tranqüilidade em dizer tudo isso, sem ser preciso que me altere: ser intensa, não é ser desequilibrada. Quando falo ou escrevo, me baseio em meu conhecimento pessoal, que passa a ser minha crença. A maioria das pessoas interpreta o mundo segundo o que acreditam, sem possuírem conhecimento de si mesmos, muito menos do outro. E o que essa maioria acredita, foi imposto de alguma maneira, não foi resultado de uma profunda reflexão.

Eu compreendo o medo que sentem... Eu percebo aqui entre meus vizinhos... Eles têm receio até de me olhar, e me cumprimentam formalmente, de cabeça baixa, tentando erguer apenas os olhos. Quando passo, se estão conversando eles ficam mudos. Eles sabem que eu digo o que penso, que não meço minhas palavras, mas pior que isso: eles sabem que algumas vezes eu faço isso sem demonstrar nenhuma emoção. Isso me torna imprevisível, e ninguém neste mundo pode estipular uma postura diante do que não pode ver ou prever. E eu compreendo... Pois essa grande maioria está confusa quanto aos próprios sentimentos, quanto à própria vida, estão vulneráveis, são frágeis... Eu meço minhas palavras não por repreensão de qualquer tipo de censura, mas pela consciência que tenho de que as palavras têm poder. Muitos anos atrás, eu vi uma pessoa chorando diante de mim depois de ouvir minha posição diante de um assunto que dizia respeito a vida daquela pessoa. Essa minha frieza pode ser nociva para quem me lê. A mesma capacidade que tenho em entrar em uma pessoa e fazê-la sentir tantos sentimentos bons, eu também tenho em fazê-la sentir todos os seus demônios interiores. Sim, eu me importo com as pessoas, só não me pergunte o por que... Talvez, eu nunca poderei dar esta resposta a ninguém... Importo-me com elas, não que eu me importe com o que desejam de mim ou como me julgam... Importo-me com o ser humano. Abomino os atos humanos, não os humanos.

Uma das mensagens que recebi perguntava por que discutimos. O sentido da palavra discutir ganhou um outro significado predominante. Discutir em minha opinião sempre foi debater, contestar, questionar, e tentar encontrar em pontos de vista diferentes pontos em comum. Mas o que vejo a minha volta é que entendem a discussão como brigar, se atracar, trocar ofensas, censurar. É por isso que sempre digo que na verdade, o mal só existe no modo como as pessoas manifestam as coisas. O ser humano pende em transformar tudo em negativo, e isso mais cedo ou mais tarde se transforma em atitudes. O modo como cremos, cria vícios silenciosos que condicionam. Eu reli todas as cartas, e busquei onde exatamente posso ter passado a impressão que temos inimizade. Vi muitos de meus textos em vários trechos, onde é reafirmada minha convicção. E assim sendo, questione-me qual então é o significado que dão a palavra 'amigo'... Amigo hoje significa aquele que diz tudo o que você quer ouvir? Que nunca diz um não? Que sempre se mascara com bom humor e nunca fala sobre nada ruim? Nada disso pra mim é sinal de amizade, mas de mentira e falsidade. Aborreço-me com pessoas que falam comigo como se eu fosse do tipo que só espero ouvir o que me agrada ou o que quero... Fosse assim, eu seria hipócrita! Não gosto de mentir pra mim, nem para as pessoas. Não gosto de viver de enganos... Permitir que as pessoas se dirigissem pra mim acreditando que só quero ouvir o que me agrada é mentir pra mim mesma.

Expressar uma opinião formada é bem diferente de tentar convencer o outro a pensar igual. Expressar opinião é bem diferente de ofender. Expressar opinião é compartilhar um ponto de vista e se permitir ver a mesma coisa sobre outro ângulo. E entendo como é fácil a pessoa se sentir ofendida diante da Expressão de idéias, opiniões e tudo mais. Elas não compreendem... E expressar opinião também teve alterações no significado e passou a ser 'contrariar'. Quem recebe a opinião alheia sente-se contrariado. E ai, meu querido, a culpa não está em que expõe opinião, mas em quem a recebe.

Bem...Recebi um pedido para expressar minha opinião em um grupo que participo, onde a discussão era se Adão e Eva foram 'criados' ou 'colocados' na Terra. Examinei tudo... E não disse absolutamente nada! Meu entendimento sobre é só meu assim como cada um ali tem sua própria teoria a defender de acordo com a própria crença ou limites. Expressar o que penso iria desencadear respostas que iriam contradizer o que penso. Fosse apenas isso estava bom, mas alguns me tentariam convencer de que estou errada, e o orador do momento, certo. Meu 'expressar' seria atacado por uma afirmação pessoal. Nada contra, não fosse um detalhe: odeio quando alguém tenta me convencer de algo contrário do que já acredito. Odeio que me imponham as coisas em que devo acreditar, pois minha vida é só minha, só eu posso viver e assim também minha mente que terá que conviver com o que penso e creio. O maior valor concedido ao homem depois da vida é o dom de pensar - para uns, maldição. Cada reflexão minha exige tempo, anos, obrigações que são colocadas de lado... Eu prezo e respeito meus momentos de reflexão para qualquer um chegar e dizer que estou errada, pois quando concluo não pretendo ser certa. Tentar convencer a outra pessoa de que se está certo não é discussão propriamente dita, é batalha de egos, e essas só fazem perder um tempo precioso.

Assim é todo mal deste mundo: ele na verdade não existe: as pessoas criam o mal. A sinceridade, a honra, o caráter, a decência entram cada vez mais em extinção e ao primeiro sinal da existência do fragmento de qualquer uma dessas coisas, é logo repudiado. Penso que as pessoas não se lembram mais o que é alguém sincero, honesto, honroso... Não enxergam mais a intenção por detrás de tudo. O desconfiômetro sempre está ligado, mas também pende para o lado negativo de tudo. As pessoas pendem e criam tanto o mal, que uma sugestão benéfica e estimuladora passa a ser agressão e ofensa, pois uma série de conceitos pré-estabelecidos no interior da pessoa vai criando um efeito 'dominó' que vicia em manias de perseguição, orgulhos feridos e sapos entalando na garganta. Ninguém espera nada de bom de ninguém, e se algo de bom parece partir de alguém, até o santo desconfia. O mal de se prender em termos, frases feitas sem o uso da reflexão e conclusão própria. Há o dito popular muito usado que diz: “De boas intenções o inferno está cheio’. Não percebem que a cada vez que essa frase é usada, o cérebro processa defesas para que ao se perceber alguma intenção a reação imediata será: desconfiar! Dado o alerta da mente condicionada, a primeira reação diante da intenção é negativa para defesa própria. É como criar anti corpos.É o que chamamos de robô: movimentos pré-programados, previsíveis e limitados. Quando aperto o botão maior no meu CPU eu estou dizendo ‘ligue’, e ela liga! Jamais ele irá espirrar, me dar bom dia, fazer birra ao apertar este botão. E toda vez que eu tocar este botão, só posso esperar uma coisa: um ‘ligar’”.

Eu não gosto de satisfações sobre o que faço, pois isso exige falar de mim e não gosto disso. Dar satisfações também significa pra mim 'se justificar', e à partir do momento que sou convicta, não tenho que me justificar em nada. Então, meu prezado amigo, continuaremos expressando a Arte da maneira que nos foi concedida, e cada um pode interpretar como bem quiser, pois a Arte está nisso! Não precisamos colocar notas que justificam por que foi dito ou feito isso ou aquilo, pois desse modo, passaremos a oferecer o que as pessoas querem ouvir e ver, nós estaremos mentindo pra nós e para os outros e seremos hipócritas. Conseqüentemente, não mereceremos o posto de artistas. Oscar Wilde traduziu muito bem essa reflexão quando escreveu: "No momento em que um artista descobre o que as pessoas querem e procura atender a demanda, ele deixa de ser um artista e torna-se um artesão maçante ou divertido, um negociante honesto ou desonesto. Perde o direito de ser considerado artista”.

Uma outra mensagem chamou-me também a atenção, e pelo visto deve se referir a pessoa que você menciona. Veja que se combatemos a hipocrisia, a censura, não podemos ser hipócritas! Mas vivemos em um mundo onde ninguém confia em ninguém... As pessoas acreditam que quando afirmo isso estou mentindo. Enviei uma resposta longa e penso que até enfadante, mas necessária para não haver sombra de dúvidas: você não conhece as pessoas que cito, assim como não sei quem você cita.Não costumo fazer esse tipo de coisa, mas até os fatos que ocorrem em nosso dia a dia são valiosos e repletos de lições. Hoje, ao meditar para respondê-lo, imagino quem seja... Esse nosso sigilo mútuo que não cita nomes entre nós é duvidoso para a maioria das pessoas! Pois o respeito também está em extinção. Você considera sensato não dizer de quem se trata, assim como eu respeito e vice e versa. Simples assim... As pessoas julgam umas as outras tendo como base aquilo que elas mesmas são capazes de fazer.

Embora eu tenha certa consideração - não sei explicar o porque - pela pessoa que entrou em contato comigo, eu não posso ser hipócrita e mudar minha opinião formada sobre tudo isso apenas pela consideração que lhe tenho. As pessoas não sabem discernir nem separar as coisas... Se meu irmão tivesse uma discussão contigo, seria certo que eu deixasse de falar com um de vocês por haver desavença entre os dois? Eu não seria hipócrita? Porque devo julgar meu irmão ou você pelo desentendimento que existe entre ambos, mas não entre nós três? Perdoe-me quem pensa assim... Não é nossa culpa que a carapuça aqui tem servido para alguém...

E como que para comprovar tudo o que foi dito até o momento, as pessoas reagem de maneira contraria ao que esperávamos, pois não compreendem... Nossa intenção com tudo isso é combater um mal que existe naquele portal, em nossas vidas, em nossa sociedade, e que prejudica seja individualmente, seja coletivamente. As pessoas citadas fazem parte dos acontecimentos que ocorrem em nosso dia a dia, e se julgam-se ofendidas, o problema não é conosco, mas consigo mesmas.

Sou contra a exigência Literária dentro de padrões, mas prezo Literatura de qualidade, não que eu julgue fazê-la, mas assumo que busco por isso. As palavras ao longo dos tempos vão perdendo o sentido real devido às aplicações. Quando digo que não gosto das regras eu quero dizer exatamente isso: um texto pode enquadrar-se perfeitamente nos conceitos, mas as pessoas continuam tendo problemas de comunicação e continuam desvirtuando o sentido de tudo que é dito e escrito. Então a questão não são as regras pré-estabelecidas. Eu já fiz uma experiência interessante, faça também (não é uma ordem, apenas uma sugestão): de um tema para uma pessoa e peça que ela faça uma definição em uma frase, expressando-a verbalmente. Anote e análise as palavras usadas e aplique a Etimologia. Depois peça para a pessoa justificar o que disse para perceber o que ela verdadeiramente queria dizer e compare as palavras.Muitas pessoas dizem uma coisa querendo dizer outra. A Literatura dentro dos padrões limita quem a cria e perde sua função quando não beneficia as pessoas a desenvolverem a comunicação. É por isso que as pessoas utilizam muito os palavrões e as gírias: não sabem como dizer o que querem expressar! Para alguns não é simples dizer educadamente: Rapaz eu agradeço sua boa intenção e se eu for capaz de tanto, farei! Não, é mais simples te mandar 'pra casa do cacete!'. Cacete seria o pênis, pênis é o órgão sexual reprodutor masculino... Ele mora onde? O que seria essa expressão? E os índios é que são índios? Daqui uns anos teremos que usar quadros de imagens e mímica para nos comunicarmos com as pessoas?

Você me mostrou o e-mail, mas ainda me oculta o nome do autor de tamanha mediocridade, e respeito, pois sei que já me conheces o suficiente. E pelo que posso perceber eu conheço o autor que acredita que até o momento eu sabia ou estaria a par da discussão entre vocês, transformando minhas palavras em ofensas diretas a ele. Eu ainda sei discernir as coisas e separar cada coisa em seu devido lugar. E se essa pessoa julga que minha opinião sobre tudo o que lhe disse quanto ao que escreve mudou pelo simples fato de estar ao seu lado, se engana: não desperdiço minhas palavras e falo apenas do que estou convicta. Mas penso agora que o que te aconteceu poderia ter sido comigo, pois o problema não está no que você disse, mas em como a pessoa entendeu. Mesmo assim compreendo, e não alimento nenhum tipo de rancor... Pois a regra geral, querendo-se ou não, é a seguinte: O que acreditamos são conseqüências de nossas reflexões presentes ou ausentes, assim como também são resultados do que vivenciamos.

Não quero me estender quanto a esta pessoa, nem quanto a nenhuma pessoa que tenha este mesmo tipo de visão sobre artistas. Pois alguém que esnoba o fato de não precisar lucrar em nada com a arte me ofende, quando as palavras esnobes são direcionadas única e exclusivamente a você, que assim como eu tira o ganha pão da Arte. Ser artista é profissão como qualquer outra! Não tenho uma coleção de diplomas e não fiquei pulando de galho em galho e de universidade em universidade porque não quis! E se vender nossa arte é algum tipo de prostituição, ficar trocando de profissão para acertar qual trará mais lucro também o é! Ás vezes, quem brinca com Arte faz o mesmo que 'jogar pérolas aos porcos'. Até no Jardim de infância a Arte serve para desenvolvimento motor, dos reflexos, da criatividade e do pensamento. E quando se vê um adulto 'brincar ' de artista e não evoluir com ela e vejo a nossa profissão ser banalizada e mal vista.

Há mesmo pessoas que acreditam viver em 1950 onde o artista era mal visto como um vagabundo promíscuo! Eu sairia na rua carregando minha arte, parando nas calçadas para vendê-la como faço, sem nenhuma vergonha. O que ganho com minha arte banca a escola de meus filhos, minhas necessidades e meu pão, e faço isso com muito orgulho, sem roubar ninguém, sem ludibriar ninguém e sem esnobar ninguém! Eu não preciso me sentar num monte de dinheiro, de uma coleção de discos de ouro ou diplomas emoldurados, títulos de nobreza, rótulos profissionalizantes para me impor como ser humano, cidadã e indivíduo! Eu e você não precisamos nos escorar em nada para saber quem somos e afirmar isso! Eu tenho muito orgulho de quem sou!

Há pessoas que precisam tanto chamar a atenção... Precisam tanto ser o centro do Universo... Precisam tanto de recursos diversos para ser notado, percebido, se auto-afirmar, representar o que não é ou conseguir um parceiro, que sinto asco! Pois eu tenho visto pessoas se rotulando artistas, escritores e poetas, fazendo de seus atos artífices para preencher seus egos vazios, e nós que fazemos da Arte nosso trabalho é que somos os escrotos da sociedade? Somos nós os inúteis? Considero esse ato uma tremenda falta de respeito não somente para contigo, mas para todos nós que vivemos da Arte! Anais Nin foi feliz quando afirmou: "É monstruoso dizer-se que o artista não serve a humanidade. Ele foi os olhos, os ouvidos, a voz da humanidade. Sempre foi o transcendentalista que passava a raios X os nossos verdadeiros estados de alma."

Não temos bola de cristal para saber quem ali está passando o tempo, ou está seduzindo mulheres, ou está criando um diário virtual como se já fosse um Olavo Bilac... E por não sabermos, nós tratamos ali cada um como igual: nós somos artistas e acreditávamos que ali era um local para artistas, e não para pessoas portadoras de distúrbios psicológicos e transtornos de personalidade!

Um artista não se contenta e não depende de elogios! Quem precisa de elogios são os carentes! Um artista quer o crítico, aquele que é entendido e pode dizer se o que fazemos esta de acordo com arte ou não! Uma pessoa que precisa se auto-afirmar precisa de elogios e desfalece diante de um defeito apontado! Expressar se não gostou é o fim do mundo para essas pessoas. E vamos nós, lidar com todo mundo como se todos vivessem do mesmo que nós, e fazemos a parte que nos é cabível relacionada a Arte... E só vemos dez pedras em nossa direção. E de repente me vem à mente que a Igualdade não tem sido uma causa de realização possível, pois as pessoas insistem em tentar provar que são melhores que alguém ou alguma coisa... Quem está ali e não vive de Arte, dê a cara à tapa e assuma o risco! Pra brincar e se auto-rotular artista é preciso bancar! Se banque e corra o risco de ser criticado como qualquer artista é! Caso contrário, os incomodados que façam as trouxas e procurem os portais de relacionamento da vida!

Certa vez, eu li alguém alertando para o cuidado em que se deve ter em se auto-afirmar diferente, pois ser diferente não é ser melhor. Ora, alguém que tem consciência da diferença que há de fato em cada um de nós jamais se julgará melhor. Quem diz que é diferente está apenas reconhecendo isso em si mesmo, não está 'jogando' uma indireta de que é melhor. Muito se vê 'sabichões' de plantão contrariando-se em suas próprias afirmações, mau interpretando o que vê e o que acredita.

Certa vez, um título me chamou a atenção - o que raramente acontece - e fui ler. Era um discurso inconformista de um rapaz que não era lido. Eu realmente nunca o tinha visto e assumi isso a ele: são tantos ali! Li outros textos e retornei ao discurso e deixei meu comentário acreditando estar diante de um poeta nato, e sua reação iria me provar se eu estava enganada. Então, mesmo correndo o risco de receber uns palavrões, eu sugeri: "Faça uma visita de vez em quando aos outros daqui... Deixe uma mensagem do Mural para ser visto... Somos ou pretensos escritores ou meros leitores, não adivinhos! Agora que já vi que você está aqui, poderei ler seus outros textos! Obrigada pela oportunidade de ler-te, e obrigada por compartilhar conosco!". Quão grande surpresa foi a resposta recebida, ao constatar que minha sugestão foi positivamente aceita. Eu estou certa: ali há um artista! Caso não fosse, você meu amigo, já saberia qual seria a resposta.

Não gosto, amado Calixto, de ser vista e julgada como a maioria, pois só eu sei o quanto me esforcei e o quanto eu tive que enfrentar não somente para me aceitar, mas para impor que sou o que sou, e quem não aceita, dê meia volta e olhe para outro lado. E assim sei que você também é...

Você, meu querido, pode fazer o papel de critico, pois sua experiência profissional o permite... Já eu não, mas posso incentivar quando vejo um talento nato para a Arte. E quando não é talento, mas alguém que sabe como manifestar sentimentos, como em diários, eu elogio quando devo, pois isso que querem quando estão ali, elogios! Tudo o que é escrito tem imenso valor histórico, mesmo as tosquices que muitas vezes vemos... Se não serve para análise socioeconômica, serve para análise comportamental. Um diário virtual, por exemplo, exposto ao grande público cibernético pretende o que narrando seu cotidiano? Um tapinha nas costas, um elogio e um: "Oh! Você é alguém grande e de suma importância para a humanidade!"... "Oh! Sua vida é bem interessante e Oh!". A dependência quanto ao que os outros pensam sobre nós mesmos revela uma falta de autoconhecimento e uma insegurança quanto à própria vida. Muitas pessoas precisam da opinião alheia para sentir-se aceitos e enquadrados, pois não possuem cacife para se impor. Compreensível, pois a escrita é de fato um tipo de terapia que pode levar ao autoconhecimento se quem escreve não se centraliza muito em si mesmo e no ego. O artista, ele entende a si mesmo pois busca compreender tudo a sua volta!

Mas assim como é para todos, para nós também nem tudo é 'digerível'. Aliás, eu só comento o que realmente gosto e não estou ali pra agradar ninguém: tudo vai sempre de encontro as necessidades dos outros quando deve ser.

Sabe... Vou acender meu cigarro maldito... Cada um com seus vícios e enquanto os meus ainda são apenas externos, tudo bem: eu os assumo também! Quero me concentrar para saber se não estou perdendo a compostura... É que eu ainda, infelizmente sou humana...

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Falemos então desse Dualismo... Falar de duas caras faz meu espírito se exaltar em inconformismo... Não quero mais falar da possibilidade da existência de alguém assim.. Não quero, pois preciso eu mesma me autocensurar e medir minhas palavras, não porque me importo se gostam ou não do que digo, mas porque sei que eu tenho o maldito dom de entrar nas pessoas e rasgá-las por dentro... Tanto para bem, quanto para mal... E prefiro continuar do lado do bem... Se é que estou do lado dele...

Fui estimulada a fazer leitura de um livro que já foi lido na minha família, e ainda este ano será lido por meu filho mais velho e assim será com os demais... Mantemos duas tradições: indígenas e japonesas... Da parte japonesa desenvolvemos o espírito do Samurai, nós o somos e nosso sobrenome descende de um cuja história muito se assemelha ao do filme O Último Samurai. O Hagakure, o Livro dos Samurais menciona uma frase que está em destaque num lugar aqui em casa, para evitarmos discussões infundadas:

"As pessoas pensam que podem esclarecer assuntos complexos analisando-os em profundidade, mas elas têm pensamentos perversos e não chegam a resultados positivos, porque suas reflexões são centradas no interesse próprio!"

A maioria das pessoas quando defendem uma opinião, causa, crença o faz por interesse próprio, seja egocêntrico, seja egoísta, seja em orgulho. Não importa quanto mais fundo se possa ir numa discussão, nunca haverá uma conclusão em comum pois dificilmente um dos lados cederá. Uma mesma idéia pode sim ser transmitida de várias formas, mas independente de que idéia se queira passar, cada um vai interpretá-la como bem entender segundo o próprio interesse, geralmente individualista, não coletivo. Não sei o que me acontece, mas muitas vezes durante o sono eu não sonho, eu ouço minha mente raciocinar. Esta noite enquanto dormia eu ouvia ela inquieta: Cada pessoa pode ser um universo paralelo aos demais, onde todas as coisas que geram as imagens da realidade de um é projeção da realidade criada para todos, mas vivida separadamente. Posso estar aqui escrevendo para o Calixto que na verdade pode não saber de minha existência, pois na realidade dele eu sou apenas uma projeção holográfica. Quem está em nossa vida, as situações e acontecimentos na verdade são criados por nós à partir do momento que desejamos que a realidade seja como se manifesta. É assim que a maioria das pessoas vive... Como se tudo em volta fossem projeções holográficas, um sonho gerado para que seja preenchido o vácuo branco e sem forma que há em seu interior.

Interessante citar essa frase: "O bom de ser animal é que se evita a dor de ser homem." Lembrando como há homens neste mundo tentando a todo tempo provar o quanto são homens e como são infelizes nessa tentativa...Bem, hoje eu comentei um texto maravilhoso de um novo amigo, que é vegano e comentei. A questão era sobre a pesca esportiva, e a agonia do peixe que tem o céu de sua boca perfurado pelo anzol, quando não outras partes... Alguém comentou qualquer coisa, mas a parte que me chamou a atenção foi que 'animais não pensam'. O mal do ser humano é pensar! Animais com certeza não pensam, pois se o fizesse, toda a raça humana já estaria extinta! Se pensassem, as Focas do Canadá fariam complôs para vingarem seus bebês, e iria caçar os humanos que assassinaram seus filhos! Não seria assim que os seres pensantes fariam? O homem padece por pensar! A Alma, por exemplo, não pensa, flui! A Alma só gera o bem! O mal está impregnado no corpo e no espírito humano! O que a Alma flui vai emergindo e atravessa as camadas do espírito e do corpo que quando saltam para a superfície já passaram pelos filtros do pensamento humano, e se desvirtua... Por isso, meu querido amigo eu te digo: o foco deve ser o sentir! O sentimento quando explode não para até que o pensamento o freie!

O *leitor* tolo, que passa por aqui por acaso, mas é leitor, sabe de quem estou falando e desde o dia que tive o desprazer de saber da existência do individuo ele deve estar me lendo, pois veio parar "por acaso"em uma das cartas onde justamente ele era mencionado como mero coadjuvante, claro! O personagem principal naquele momento era a escritora que tanto admiro. Se não estou enganada, não creio em casualidade e fico me perguntando o que o sujeito veio fazer na minha escrivaninha se tanto me despreza.. Enfim...

Também não quero explicar as deficiências psicológicas do sujeito, pois minhas palavras seriam tão repetitivas, eu ficaria cheia de tédio - pois se trata de alguém tediante - e o problema que ele teve na infância que hoje reflete sua necessidade de auto afirmar sua masculinidade diante de um sexo 'frágil' nem é interessante. Penso que não devo dar mais oportunidades para que ele se humilhe mais ainda... Sim, em momento algum eu o ofendi, ele fez isso contra si mesmo quando reagiu.

E ele acreditava estar sendo franco! Olha a concepção sobre o próprio sentimento! Olha que mundo louco! Ele acha que esbravejar, demonstrar irritação, deixar evidente que a carapuça serviu, que se ofendeu é franqueza quanto ao meu texto! Ele acreditou mesmo estar opinando sobre o TEXTO! Percebe o abismo que há entre uma coisa e outra? Preciso de tempo novamente.. Vou ter uma crise de riso...

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Enquanto eu ria, eu pensava: estou certa em não depender das regras e conceitos para criar Arte, pois eu preciso antes de tudo ficar lendo e relendo o código civil, penal, os direitos civis, as leis de crimes eletrônicos, para saber se estou ou não infringindo o direito de alguém, mesmo que isso me custe infringir os meus em prol dos direitos alheios... Lembro-me vagamente da igreja católica entrando com processo na justiça contra... Acho que um filme e a acusação era difamação e calúnia... Não sei se você já sabe, amigo, mas há alguns anos atrás foram retirados dos livros de história as histórias que relatavam a Inquisição. Imagine se as novas gerações que surgem cheias de genialidade crescerem à par destas histórias? Até quando relatar um fato é infringir os direitos de alguém? Se eu descrever nos mínimos detalhes que minha vizinha de aparência frágil, que ajuda idosos é a assassina de gatos na minha rua estarei difamando a 'nobre' senhora? E se eu mostrar em rede nacional de tv a cara de uma quadrilha de ladrões de banco estarei também? E será que posso mostrar a cara descarada de cada político que desonra o lugar que lhe concedemos no senado?

Estava observando esses dias meus filhos divertindo-se com um jogo de baralhos chamado Uno. O mais novo é sempre quem sabe menos das regras, pois ainda esta as aprendendo.Quando ele vai jogar com crianças da mesma idade, ele modifica as regras durante o jogo. Ele quer estar certo, para isso modifica as regras. Quando está com os irmãos, tenta fazer o mesmo, mas os irmãos sabedores das regras as impõem, pois não podem ser mudadas. Deve-se haver censura? Ela deve existir em tudo sem exceção. Se há Liberdade de expressão, ela deve ser bem definida. Pois se expressar é manifestar por palavras e gesto sobre algo... É fazer com que os demais passem a conhecer sobre... É dar a entender ou dar um significado! Se há a

Liberdade em Expressar-se, que seja em tudo ou em nada? "Abriremos uma pequena exceção" ou "Se você soltar quinhentinho damos um jeito", ou "Você pode mostrar um beijo e um abraço, mas deve representar isso com um Colibri aproximando-se lentamente de uma flor”.

Estar nu em praça pública para protesto pode? Os ativistas da Peta, Ong de proteção animal de Paul McCartney ficam nus em lugares públicos para chamar a atenção à violência contra animais... As pessoas voltam a atenção para o nu, por isso usá-lo. Na novela das 20, 21, 22 aparece uma cena de sexo picante e ousada para contribuir com o enredo da história... O que pode? Não sei, só sei que há uma lei no Brasil que proíbe o nudismo em lugares públicos e a exibição de certas cenas até certo horário que hoje em dia é exatamente quando a maioria das crianças está acordada, pois aprendem com seus pais a não perderem a novela. Os fins justificam os meios? Não sei, sei que o que deve ser levado em consideração é o efeito para o coletivo, e se a lei existe para o coletivo, deveria ser aplicada sem exceções. Uma Patricinha filhinha de papai que não usa calcinha e vai para as boates com micros saias que permitem que o que há entre suas pernas seja fotografado causando delírio pra muitos, mas as meninas de periferia que aparecem nuas em bailes funk causam horror... Um pai de família é detido e julgado por roubar uma caixa de leite para seu filho, e os políticos desviam verbas públicas para enriquecerem e fica por isso mesmo. Os meios sempre são os mesmos, mas os fins determinam que pode ou não? E ai penso: onde está a Liberdade de Expressão, os direitos do povo, as leis, a censura nisso tudo? Uma coisa vai levando a outra...

Eu fui criada por 18 anos em uma religião evangélica... Era ensinado o que podia e não podia, não importava os direitos que eu tenho por lei. Ali dentro eu vi pessoas sendo discriminadas, ofendidas, humilhadas pelas mesmas pessoas que faziam discursos da Liberdade em Cristo em cima de um púlpito. Eu assistia aquilo tudo, sentindo o peso das correntes em meus tornozelos em perguntando onde estava esta liberdade em Cristo... Certa vez fizeram uma reunião com todos os jovens da igreja e expulsaram mais da metade deles. Eu chorei! Era o único lugar onde eu via uma enorme concentração de jovens saudáveis, estudiosos e trabalhadores livres de vícios e da marginalidade. O motivo para tamanha injustiça? Os jovens quebraram algumas leis da igreja: os rapazes foram pegos jogando futebol de bermudas em um campinho do bairro, as moças estavam namorando rapazes que não eram membros da igreja, outras estavam cortando seus cabelos e por ai ia... Sendo que a lei lhes garantia esses direitos. Eu também fui expulsa de lá, óbvio! Eu fiz uma franja rala e fui parar na secretária da igreja numa reunião com o presbítero e o pastor. Entrei na chamada 'disciplina indeterminada': só teria direito a participar dos cultos públicos e mais nada. A primeira vez que namorei um rapaz da mesma igreja, fui repreendida por ser menor de idade e ele maior. Fizeram-me chantagem e eu só poderia me batizar se terminasse o namoro.

Terminei, batizei e voltei a namorar. Expulsaram-me e eu só teria direito de voltar depois de um ano. Depois de um ano minha mãe me obrigou a voltar, e para isso eu precisava passar por três meses de observação, e depois passar por uma reunião de cúpula onde todos os líderes da igreja se encontravam, formando um círculo e ao centro uma cadeira onde eu deveria me sentar. Ali todas as perguntas inimagináveis foram feitas: você teve relações sexuais com mulheres? Você teve relação sexual com algum homem? Com quantos? Você bebeu? Você fumou? Você roubou? E assim foi... Dependendo dos pecados confessados eu não teria direito de retornar. Meus anos na igreja foram uma seqüência de idas e vindas para a secretaria... E na última vez que ali fui parar eu os questionei sobre o que fizeram com todos aqueles jovens... Os condenaram ao inferno como se fossem Deus! Eles me ameaçaram expulsar-me por desacato! E eu desacatei mais ainda, pois eles não eram Deus e muito menos falavam em nome Dele! Eu falei tudo o que queria, peguei meu cartão de membro e joguei sobre a mesa para nunca mais voltar! Deus usa o curso natural das coisas para que Sua vontade se cumpra! Deus é sabedoria, amor e paz! Deus é liberdade! E o que vi naquele lugar era o oposto de tudo isso!

Quando sai para o mundão onde os 'ímpios' imperam é que conheci Deus e a Liberdade de Cristo... E hoje não posso me calar diante de muitas coisas... É na religião, na política, na Arte, em todo lugar que há pessoas: tudo vai de mal a pior!

Porque as pessoas se condicionaram e usam máscaras para esconder sua real face: um olhar vago e dilatado, estático, a língua caída pra fora por onde a saliva escorre, olheiras e cabelos em pé. Essas pessoas receberam altas doses de substâncias viciantes em seus organismos chamadas de 'coisas da vida' e quando algo como Calixto e Shimada quebra a mesmice rotineira delas que cria um mundinho perfeito e harmonioso elas entram em choque!

Max Eastman disse que "A função do artista é valorizar a consciência”. Não a si mesmos... Nossa tarefa não é invocar as luzes mais brilhantes da ribalta, mas direcioná-las ao que pode nos trazer um bem comum.

É preciso uma auto-análise geral, e a revisão de conceitos para enfim podermos nos abrir ao novo para que todas as possibilidades de mudanças e melhorias sejam possíveis. O desapego ao que nos torna seres superiores e racionais precisa ser revisto. Pois não importa a causa defendida, a crença que se abrace, tudo neste mundo será motivo para o surgimento de conflitos e guerras por ainda existirem muitas pessoas que precisam diminuir as outras para se sobressaírem! É muito simples um país ser melhor que o outro lançando bombas nucleares em cima do país que coloca em risco a supremacia de poder...

Bem... Não sei se respondi a altura tudo o que você citou e que encheu minha Alma de pura satisfação e fé de que ainda é possível acreditar e lutar! Um artista quando luta por si mesmo, está também lutando para os demais. Cada vez que assumimos o que somos, cada vez que reafirmamos isso, cada vez que fazemos nossa contribuição à humanidade através da Arte, as mudanças ainda poderão vir! Muito tempo atrás, aqueles como nós acreditaram e mudaram a sociedade.

Sinto-me honrada de ter minhas linhas encenadas por tão talentoso artista que ainda sei, fará muitas proezas. Faça como quiser: são todas suas! Use-as e se houver algum benefício para a humanidade, ou que seja para nossa sofrida sociedade, defenda e mostre o que é Arte! Não importa como fará, sei que a inspiração que te toma é também sábia e tudo será muito bem direcionado.

Pois sei, que independente de como fará, irá conseguir mostrar se possível ao mundo, que nosso empenho é para a melhoria da maior de todas as Artes: a Arte de Viver!

Muitos beijos na alma

Desta sempre sua amiga, fã e admiradora de São Paulo,

Desta 'coisa' que não consegue deixar de ser a coisa que é...

São Paulo, 10 de Fevereiro de 2009.

Shimada Coelho A Alma Nua
Enviado por Shimada Coelho A Alma Nua em 10/02/2009
Reeditado em 10/02/2009
Código do texto: T1432099
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