Ao amigo artista

No que é limite, no que é conquista, você, caro artista, sem palpite mas na opinião convicta, já está fazendo uma bela apresentação. Não, no seu palco não tem muitos olofotes, não há pirotecnias, seu palco é a cruz, ela é sua forma, sua arte e sua luz. É ela sua inspiração, seu texto, seu ensaio, é bem verdade que algumas vezes quer deixá-la de lado, mas depois logo percebe que na cena você está errado. Quão difícil é admitir o erro, é melhor culpar os outros, mas neles o seu erro é refletido. Mas com humildade sabe recomeçar, e segue plantando sementes, seja no choro ou seja no sorriso.

Sei artista, que o palhaço não pode chorar, seria contradição, eis aí tua angustia e desafio para viver sua vocação. Será e já é o curador, mas que tantas vezes está ferido, um curador ferido. Mas ó artista, não espere se curar para o remédio indicar, pois talvez sua cura é curar.

O palhaço também chora veladamente, talvez sorrindo, mas ao ver ali aquela multidão, tão chorosa e necessitada de um riso, ele se esforça e assume sua identidade, união do que é e do que faz, no circo. O seu dom é partilhado, e quando o faz, recebe muito mais em gratidão. Quando faz sorrir jovens, adultos, idosos e crianças, recebe no seu coração uma dose de esperança, como o maior lucro de tudo, que o fará novamente se apresentar.

Ó artista, sei que para provocar o riso, muito choro lhe é preciso; mas lágrimas são palavras que tem a pretensão de traduzir os sentimentos do mundo a partir do seu. Sendo aquilo que é, você artista, conquista almas e vidas, o riso não é você que provoca, ele é simplesmente resposta ao que as pessoas vêem e sentem.

Há um motivo, e é isso que você deixa definido, é uma Pessoa que você ressoa na apresentação, é Jesus Cristo, o riso que penetra no coração de cada um da multidão.

Grande é sua missão artista, mas grande é o seu dom, é grande por você a Divina predileção. Por isso, não deixe que o mundo imundo, nos ensaios e falsas apresentações (pecado) tirem você dos palcos, do palco da cruz, da luz, de Jesus.

Não deixe jamais que o seu choro seja empecilho, pois ele às vezes é preciso, para cultivar no mundo a alegria e o sorriso. Não deixe que sua inexperiência ou sua "demasiada" experiência defina o que você é, seja sendo, se comprometendo cada vez mais com a Verdade, no reflexo de ser criado à semelhança e imagem de Deus, que dignifica e certifica o seu eu.

Não se preocupe com a máscara, ela é conseqüência do divórcio para com a essência. Você sabe ó artista, a sua essência, se não sabe, sei que a busca com insistência. Não, não vejo máscaras em você, vejo um rosto suado, suor que é esforço de querer, querer crescer, querer aprender. E assim, você vai se perdendo e se encontrando, vai vivendo, vai crescendo, vai amando.

Ó artista, obrigado pela sua amizade, uma cena que me faz tão bem. Você tem o dom de permanecer, e aí também está você, na dor, no desafio, no magistério e no discipulado, mas na felicidade de estar sempre rodeado por amigos, muitos e poucos, mas consegue absorver aquilo que neles acrescenta a você.

Coragem artista pra continuar a cena da vida. Que o lápis do seu desenho, seja você mesmo; a música que canta e toca, seja aquilo que lhe constitui e lhe falta; que a cena do teatro ou do cinema, seja reflexo do querer agradar e seguir os diretores e o grande Autor na obediência da sua essência. Que a sua dança seja elaborada nos passos da esperança, transformando os prantos do mundo a partir dos seu próprio pranto em dança.

Assim é você, caro artista, mais um Alguém que vive a cena da Vida. Sublime por ser você, no dom que é e que partilha.

Hudson Roza
Enviado por Hudson Roza em 20/07/2009
Reeditado em 20/07/2009
Código do texto: T1708790
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