Carta Amassada V "Quando a solidão invadiu meus pensamentos...."

Quando ela entrou a janela ainda estava aberta, o ar fresco espreitava suas frestas e tornava sereno o ambiente. A luz do entardecer emanava ainda seus raios densos que enchiam de rubro a sala e desenhava na parede seus ultimos tons. Soubesse eu que seria o momento ideal para que ela invadisse meus pensamentos não desprezaria a essencia ofertada gratuita, pois seria a última vez que veria antes de mergulhar num vazio solitário onde a luz de uma vela acessa sequer seria capaz de dissipar um pouco da escuridão que cobre minha face.

Seria minhas noites intermináveis, quebradas pelo grito ensurecedor da insônia, agarrando meus pensamentos e jamais cessando sua voz retrocede a todos momentos que queria esquecer. Mas não esqueço e quando vejo meu lençol mais uma vez esta inundado de lágrimas, derramados suplicando a paz de uma noite bem dormida.

Se não fosse pedir muito os sonhos roubados queria de volta. Queria a inocente esperança que jamais cessa. Indiferente aos espasmos de dor suplico sua imagem mais uma vez, não queria desabar diante tamanha invasão, como corpo violado sem o mínimo remorso a solidão invade e faz morada....

Por que tem que ser tão díficil? Lutar, guerrear às margens de um rio de corpos atônitos, toda noite, sem o preparo milhares sucubem aos ataques fatais.

Nem mesmo a voz embargada, suplicando faz cessar a dor, eu não quero mais sofrer, escondo minha face, escondo de mim ou do mundo? Não sei, apenas a escondo. Seria a noite tão escura e fria que jamais fosse novamente visto o amanhecer?

Quando abri os olhos ainda não podia ver nada, meus olhos embaçados pouco a pouco foi reconhecendo minha imagem, um mar derramado aos meus pés se formou durante a noite, foi as lágrimas que não tive tempo de enxugar, cairam e ficaram ali feito gotas desprendidas de um iceberg que descongela pouco a pouco e vai se tornando pequeno até desaparecer...

Sinto estar perdendo essa imensa pessoa dentro de mim, não aquela que roubou a força de meus pensamentos, pois eles nunca foram meus, mas aquela que sou quando olho no espelho. Havia um brilho opaco guardado de esperança prestes a explodir e se encher de milhões de fagulhas para tornar tão forte como das estrelas. Mas ele se perdeu e o opaco agora se empalideceu ainda mais e morreu...

Senti um frio intenso, era madrugada, adormeci novamente após amassar o papel desta carta...

31/01/2010 01h10 da madrugada...