Ensaio de um desabafo último

Do meu diário em 23/02/2005

Vejam quanta ingratidão há na mão que me acariciava. Eu deixei bem claro que tudo era permitido. Eu disse. Eu não chorei. Eu tenho tempo, e não sabia...

Alguém reparou o quanto mentiam aqueles olhos que me observavam? Claro que não! É impossível contrariar aquele semblante, ainda mais em noite tão escura como aquela. Eu ouvia bem, enxergava bem, mas não dizia coisas interessantes. Não posso mais brincar de premonição!

Tudo pode influenciar no andamento (ou desandamento) das coisas. Uma sujeira nos olhos, uma meia furada, unhas encravadas... Por que não? Um tumor de morte no cérebro de pequeno porte de um cachorro forte. Assim é que foi!

Ainda não vi suas... suas calcinhas, e juro que não quis sentir o odor quando estávamos próximos. Eu prendi a respiração. Já os meus instintos dormem. Em você os hormônios fluem e fazem inchar, a cada dia mais, os seios. Qual era a cor do seu sutiã naquela noite?

Gosto mesmo é de ver meninas chorando. Choram por tudo, até por olhos sujos, unhas encravadas e tumores. Estive pensando, será que já fiz uma menina chorar? Será que alguma já chorou por mim? É melhor que eu nem saiba. É melhor que ninguém saiba quantos quilos eu tenho hoje, ou quantos pontos eu marquei na prova. As suas calcinhas... qual o tecido delas?

Não temos mais um trato, portanto, que queimem-se as retinas, atrofiem-se as mãos. Eu não quero saber, chega de segredos absurdos! Você não sabe que eu quebrei o espelho? E mesmo que eu tivesse um tumor, e ainda que meus olhos estivessem sujos, em vinte noites de febre, com uma unha encravada, ele não me fugiria. Nem se eu estivesse com meias furadas.

Eu não quero conhecer seu sexo à força, não quero que me tente. Não quero começar a gostar de odiar o gosto que tinha por lágrimas femininas. É um longo processo: Seus ovários me atraem. Mas veja só, não nos conheceríamos se você não tivesse começado a sangrar todo mês. Mas me diga, suas calcinhas... elas são bastante justas?

Dessa vez foi diferente, sempre conheci garotas que falavam e falavam e falavam... O que você esconde? Qual é o seu segredo? Não tenha medo, suas mãos não atrofiarão, mas suas retinas podem queimar se você me olhar mentindo novamente. Sabe de um coisa? Eu não vou ter barba!

Um dia quando você estiver sorrindo e eu for um alvo verdadeiro. Quando você quiser falar e eu puder escutar com atenção. Quando seu pai não for um velho idiota, e minha mãe fizer valer alguma palavra. Quando em minha cabeça não ecoar a palavra sexo. Quando tudo isso acontecer, vai ser tão perfeito que não precisaremos de mãos, nem meias furadas, nem olhos ou tumores, nem unhas, muito menos retinas. Você não comprará mais calcinhas, e eu não sentirei vontade de ter barba, nem de ver garotas chorando. Seus ovários não mais me atrairão. E você não sangrará nunca mais, nem exalará nenhum tipo de odor. Seus sentidos desvanecerão.

Você acredita?

Em um louco não, não é mesmo?

Eu desejei que você me fizesse acreditar. Minha estrela cadente é um tumor... Cuspa nela se você quiser poder. Mas não deixe eu ver sua calcinha...

Espera um pouco, você usa calcinhas?

Dil Erick
Enviado por Dil Erick em 07/06/2010
Reeditado em 07/06/2010
Código do texto: T2304709
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