O TEMPO

O TEMPO.

Imaruí, SC 05-09-2005.

Prezado Amigo Zulmar:

Até hoje não recebi uma resposta tua para a minha carta, se disseres que é falta de tempo mentirás, porque tempo é uma questão de preferência, por isso já me considero fora das tuas preferências.

Mesmo assim estou a te escrever de novo, pois ainda te considero como uma das minhas preferências, não me é fácil esquecer das pessoas boas que comigo mantiveram um relacionamento sincero e fraterno.

Sou assim mesmo, um eterno questionador das coisas.

Ultimamente estou me questionando profundamente, pois já me considero fora do ambiente reducionista e do palco da luta materialista.

Que suponho uma luta inglória que se trava em busca de amealhar coisas materiais, supérfluas. E que nada somam no sentido de concluirmos a nossa completude existencial.

Graças a Deus estou fora desse campo de batalha, o meu combate hoje se restringe tão somente com a minha individuação, tenho uma grande responsabilidade com esse ser incorpóreo e sutil que anima a minha vida.

Sinto a cada dia que se passa, uma grande presença em mim desse ser inominável.

Em minhas elucubrações identifico nele uma vontade de me arrojar para outros horizontes e, sendo assim, estou a cada dia me desvencilhando das amarras da matéria, do meio reducionista, do meio dos achismos e dos meios dogmáticos.

Esse afastamento não é uma reclusão, muito pelo contrário, com esse distanciamento do “modus vivendi” da maioria das pessoas, eu me sinto um ser mais livre, mais intelectualizado e menos pobre espiritualmente.

A compreensão da vida sob um prisma espiritual nos aponta um outro enfoque para a própria vida, ela deixa de ser efêmera para transformar-se num preparo, um estágio para que possamos galgar outras dimensões.

Existe algo em mim que reclama esse comportamento e, como não sou totalmente ignóbil, dou asas a essa reclamação, e em contrapartida sou premiado com uma elevação da minha psique (espírito) e nesse evento desfruto de um deslumbramento inefável.

Dizem com freqüência certas pessoas que eu sou um místico, na verdade, me faltam qualidades para sê-lo, sou antes de tudo um inquiridor, pois o homem é um ser que sabe e sabe que sabe.

E neste pouco saber que eu tenho mergulho profundamente em questionamentos, procurando alargar as minhas próprias fronteiras do saber que são modestas.

Posso morrer pobre, mas luto em todas as fronteiras para não morrer totalmente ignorante.

Descobri, embora muito tarde, que o meu espírito traz consigo um vasto conhecimento adquirido em navegações etéreas. (encarnações)

E somente agora, abre-se uma pequena janela do meu inconsciente onde reside o espírito, quando vislumbro um mar de verdades que, até então, estavam dormitando em meu ser, mas que desejavam aflorar para a minha vida consciente.

Uma vez possuidor desses poucos conhecimentos, me é reservado um estado de paz, um clima de harmonia comigo mesmo que, às vezes sinto que não sou merecedor dessas benesses existenciais.

Tenho plena convicção de que estou por aqui apenas de passagem, mas ao mesmo tempo tenho completo discernimento que, um dia, voltarei para corrigir certas tortuosidades do meu espírito.

Se assim penso assim será, isso não é invencionice minha, mas sim um evento futuro que me foi revelado.

Josafá, Hellius e Milena, eles muito me têm instruído. Meus sonhos são verdadeiras aulas espirituais.

É que, com a dormência do meu consciente em estado de sono, sou projetado através dos sonhos para dimensões inimagináveis.

Ocasião em que tenho contato com essas Entidades, que já me foram íntimas em vidas passadas. Por isso, elas me instruem para que um dia eu venha a fazer-lhes companhia nessa dimensão inescrutável. Por enquanto!

Existe tanta sabedoria nessas Entidades que, eu fico abismado com a facilidade com que elas me instruem.

Às vezes, sinto que não tenho vontade de voltar à escravidão da matéria, com estes cinco sentidos da percepção. Nessa dimensão em que eu sou projetado através dos sonhos, não me faz falta a inexistência da matéria.

Por isso, sinto-me como que transfigurado e com um domínio completo sobre tudo.

O tempo, o espaço e a matéria nos escravizam, fazendo com que reduzamos tudo aos nossos sentidos. Tendo em vista as minhas experiências oníricas, sou levado a acreditar piamente que somos algo projetado para vivermos uma vida mais sutil - fora dos padrões materiais.

Isto é o que está gravado em meu inconsciente (espírito) e, a essa práxis de vida, tenho dedicado muito do meu tempo em trabalhos onde pormenorizo em detalhes as minhas experiências e os meus anseios.

Esta carta era tão somente para reclamar do teu silêncio e, por uma questão não explicável, transformou-se numa prosa metafísica.

Espero que tenhas paciência com as minhas divagações existenciais.

Eu sei que tu és um perfeito conhecedor dessas possibilidades anímicas, entretanto é muito bom estar sempre lembrando e também é salutar que entre duas pessoas com o mesmo nível de conhecimento troquem idéias para que elas se mantenham vivas.

Pois tudo o que hoje é imaginado, um dia será a nossa realidade.

É muito bom estar te escrevendo, mesmo sabendo que tu és levemente negligente quanto a uma resposta, mas não posso te condenar de todo, pois eu também tenho os meus momentos de obstinação ao silêncio.

Espero que tenhas todo o êxito em tuas atividades financeiras, espero também que estejas de boa saúde, de bem com a vida e de bem com a tua família.

Se achares que eu sou um missivista chato e medíocre, por favor, não me respondas, mas se achares conveniente em me transferires algum conhecimento, por favor, faça-o sem constrangimentos e sem melindres.

Vou terminar esta carta com uma observação de Dante Alighieri que diz o seguinte:

“De todas as idiotices, a mais estúpida, a mais desprezível, a mais condenável das defesas é a que supõe que após esta vida não há outra.”

Assim sendo, não estamos aqui por acaso, não somos um produto do acaso, mas sim somos produto de um evento Divino que, queiramos ou não, a Ele teremos de voltar.

Galgando dimensões diferenciadas segundo o nosso estágio evolutivo, é o finito tendendo para o Infinito. (O ser criado tendendo para o SER CRIADOR).

Homem Deus

Um abraço fraternal.

Eráclito.

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 14/12/2006
Código do texto: T317864