POESIA: AMOR INCONDICIONAL AO COLETIVO

(para Leinecy Dorneles, poetisa, em Rio Grande/RS)

– Referência e mote literário: poema CENÁRIO QUASE DESMEMORIADO, do livro OVO DE COLOMBO, 2005, p. 34: http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdesaudade/41814

Saúde. Paz. Pecados à parte, que nossas orações nos salvem pela permanência no amor do Cristo, ponte de fraternidade. Muitos sons caminham dentro de mim como clarins a acordar os fracos de fé, de esperança.

Muitas saudades de ti e dos amigos do Rio Grande, sempre tão pródigo em desvelos para comigo e Andréa quando vamos até essa “Noiva do Mar”.

O amor aos pagos de infância e adolescência povoa-me de imagens novas e velhas, cenários quase desmemoriados: a longa margem do Atlântico e os molhes da Barra, parecendo aos olhos do menino uma longa embarcação tocada à vela, porque os carrinhos sobre trilhos, movidos a vento e respingos salgados, corriam sobre aqueles longos braços de Netuno que adentravam o mar. Assim me vem à memória a praia do Cassino, nos meus primeiros encontros com o mar grosso.

Pra nós que temos o campo em nossa memória afetiva, que “já não cozinhamos na primeira fervura", o que temos fundamente acumulados é a relembrança da infância e da adolescência: a lerdeza dos bichos, os cochichos a salvo dos ouvidos dos mais velhos e dos padres, nas confissões.

Obrigado pelo comentário sobre o poema acima referido, no Recanto das Letras – Sítio para Escritores, também pela nota máxima atribuída ao poema. Estou contente com a tua apreciação. Sabes que és preciosa ao meu coração.

Tuas observações sobre a minha poesia são sempre estimulantes. É importante que se saiba o que o texto transmite ao seu eventual leitor. Num país que lê muito pouco e em que a crítica literária é rarefeita, pouco se fica sabendo sobre a nossa obra girante pelo mundo. O escritor precisa de parâmetros vindos de leitores exigentes. Eles apontam o caminho, ainda mais em Poesia, que é linguagem cifrada.

Tentei impessoalizar ao máximo o poema, ausentar-me do texto para buscar universalidade, pois que poesia não compactua com memorialismo.

Além disso, é muito derramado em signos e de ritmo dolente, como sempre ocorre com o saudosismo. O uso de algumas interessantes metáforas comuns a todas as historietas de infância, talvez o salve da proscrição crítica. Permanece, no entanto, como memoriais do autor.

A contemporaneidade formal do século XXI não perdoa derramamentos. Aliás, a bem da verdade, os versos com poesia (porque há versos sem Poesia!) nunca contiveram derramamentos, desde a introdução dos textos modernistas no final do século XIX, na Europa e nos EEUU, e a partir da Semana da Arte Moderna, em 1922, no Brasil. Bem, mas isto é pra outro momento!

Que bom tenhas gostado do rescaldo afetivo, que é reminiscência de 1954, meus felizes oito anos. Acabo de lembrar Casimiro de Abreu: “Meus Oito Anos”, o seu celebérrimo poema!

Vês como as coisas caminham bem para a minha poesia, no Recanto? Tudo graças a ti, que me apontaste o caminho do site, o roteiro para vir a ser lido e comentado por pessoas de vários países que falam o nosso idioma. Estou encantado com a ligação do Recanto das Letras com o Google, que é um site de busca. Amigos de várias partes do mundo estão tomando conhecimento de minhas lavraturas em prosa e poesia. Ainda não havia tido esta visão de amplitude.

Há pessoas de meu trato pessoal e várias outras de quem nunca tive notícia, que se debulham em cumprimentos e agrados. Tenho feito alguns amigos graças à interatividade da Internet.

Sempre te agradecerei pelo convite original para vir a colaborar no Recanto, publicando e interagindo como autor – lá pelo inverno de 2004 – sendo que só me senti com coragem no ano seguinte. Tudo para atender a tua insistência. Repito: graças à tua poeticidade, ao amor incondicional que tens aos teus amigos, ao associativismo literário, à confraternidade, ao coletivismo.

Deus te guarde em Sua mão de ânimo e glória.

Ao fim e ao cabo, resta rememorar o apito do trem, o medo do escuro, o mar, gigante interminável, os horizontes a serem palmilhados, a temerosa migração para a grande cidade em busca da luz no fim do túnel.

O que fazer? Somos frutos deste êxodo...

Durante a vida inteira, é poderosa a migração dos afetos. São eles que nos apontam a dimensão do território de viver.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/42416