Carta para o poeta José Estanislau Filho





Querido amigo

 
      Enquanto lia sua DESPEDIDA  pensei que não deve mesmo ser fácil se despedir de lugares que amamos, mesmo quando a despedida é por escolha e decisão nossa,  mesmo que nossa permanência naquele lugar já tenha concluído sua etapa e a gente precise ir.
     Enquanto lia sua DESPEDIDA,  pensei “ a janela esteve aberta, como aberta sempre esteve a alma do poeta” e é pensando nessa alma sempre aberta, nesse olhar se descortinando para  além do óbvio que lhe sugiro que guarde no seu coração não a visão do muro que sobe e sombreia a casa e a alma mas a memória indelével de todos os cheiros, cores, sabores e sons que ela lhe proporcionou por todos esses anos.
      Guarde no coração a lembrança da casa que lhe acolheu e lhe guardou em seu abraço nas idas e vindas, que acolheu sua família, seus amigos e  até aquele passarinho que, de tão confiante, fez um ninho no armário. Lembra da foto que me mostrou?
     Guarde  no coração a beleza das noites estreladas, do cheiro bom da manhã com tantos sons e cores e daquele céu parecendo  pintado a mão por algum anjo traquino, inesquecível céu que fotografei no amanhecer da varanda de Wilma, a amiga querida que me deu colo e abrigo, quando conheci seu  ponto cósmico..
         “As construções de casas avançam. Tudo vai ficando cinza, concreto. Paredes, muros... O verde desaparece.” Realmente, esse lugar não é mais o "seu lugar". Sua alma e seu coração não caberiam mesmo em um lugar que tinha a sua beleza exatamente por ser simples e de natureza exuberante o que, infelizmente, não é o projeto da vida moderna e de muitos.
    
Por fim e mais  que tudo, meu amigo, guarde no coração a alegria do convívio das pessoas desse lugar, porque  presenciei o sentimento da amizade e do afeto que lhe dedicam e que foi estendido a mim, sua amiga que lhe visitava  justamente no “dia da camaradagem”, do café coletivo dos vizinhos e amigos que partilham vida, sonhos, afetos e uma mesa farta, traduzindo a generosidade de todos.
     Vá. O “lugar pra chamar de seu” lhe espera e lhe acolherá com  o mesmo carinho que você experimentou no seu ponto cósmico. Vá ver a vida de outros lugares e paisagens e volte aqui, pra nos contar e encantar, combinado?
     E daqui, do Planalto Central em 15 de maio de 2013,  abraço e faça o favor de ser feliz, Sim?



*O lindo céu de Dummavile, Esmeralda MG.
Leiam a crônica DESPEDIDA
de  José Estanislau Filho
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/4291113