Minha prima de São Paulo

Minha prima Érica...

Tudo bem?

Como andam as coisas aí em São Paulo?

Bom... estou aqui na minha correria, naquele afã de fazer tudo em pouco tempo aqui no Rio. Quisera eu ter um tempinho a mais para mim, mas, diante dessa inviabilidade, o pouco tempo que sobrou serviu para que pudesse escrever para você.

E aí? Como andam as coisas por aí? A sua irmã e a minha tia como andam? Bem?

Pois é... precisava até ir aí em São Paulo conversar com um professor em torno de uma pesquisa que estou fazendo. Mas parece que a situação tumultuada da USP esteja, de uma certa forma, o impedindo até mesmo de exercer as suas funções como professor e pesquisador.

Imagino como a sua irmã está vendo as coisas aí da USP...

De certa forma, prima, estou solidário com os estudantes da USP. Olha só a contradição! Aquele careca tucano, quando era Presidente da UNE antes do golpe, defendia a autonomia universitária, a representação paritária entre os estudantes e professores, dentre outras conquistas. Parece que o tempo passou e, ao invés de trazer mais maturidade e sensibilidade política, fez mal pra ele, atingindo os que fizeram as mesmas práticas que ele, na Presidência da UNE fizera há mais de 40 anos atrás. Trouxe a ele muita miopia. Já que não posso ir lá consultar o professor, queria, ao menos, me sentir solidário com aqueles estudantes, ocupando com maior prazer aquela Reitoria.

Desculpe este desabafo, mas diante de um fato tão presente nas revistas e jornais (inclusive naquela revistinha tucano-fascistóide da VEJA), com mais de 20 dias de ocupação, não podia deixar de me omitir para você, Érica, e falar o que achei de tudo isso, aqui no Rio.

Queria saber a sua opinião em torno desse assunto.

E o seu coração, prima? Como andas? Tem balançado ultimamente?

Pois é... quando o coração balança freneticamente na vida de alguém, é porque vem coisa boa por aí.

O rapaz que estiver com você tem que ser cortês e 10, viu?

Olha... traga mais notícias! Você não sabe o quanto você faz falta entre o pessoal de casa e entre os nossos amigos bem amigos.

Conte com a minha amizade profunda, prima!

Preciso conversar mais com você pessoalmente... talvez, sei lá, a carta possa ser extraviada e alguém queira tomar para si a privacidade deste manuscrito. Para evitar constrangimentos gratuitos, é bom que a gente converse pelo telefone ou pelo msn antes de nos encontrarmos aí em Sampa. Talvez, foi sábio colocar assuntos triviais para despistar os "censores" e curiosos de plantão.

Esse é o preço inconcebível que temos que pagar, Érica, em um "Estado Democrático" que sequer nos garante o direito à privacidade plena e irrestrita.

Conte comigo, prima!

Um grande beijo e um forte abraço!

Do seu primo,