Carta aberta a Carlos Alberto Richa, governador do Paraná

Senhor governador,

Sou professor apaixonado por essa linda profissão e venho a escrever esta carta para lembrá-lo de algumas questões pontuais que provavelmente o senhor tenha esquecido após a suspensão da greve dos professores e educadores paranaenses. Quero lembrar já de antemão que sou professor celetista, contratado PSS, e este fato se refere ao concurso público do Estado para professor e pedagogo mais humilhante de que tive o desprazer de participar. Já ali percebia que o senhor ignora o diálogo, tendo escolhido uma instituição privada, ao invés de pública, para a execução das provas, a qual, em parceria com o seu governo, não respondeu recursos e nem ao menos e-mails, quando pedíamos simplesmente por esclarecimentos. Reprovei na redação, tão injustificadamente que recebi notas as quais nem de longe condiziam com o teor da redação que escrevi, sobre questões muito específicas, como norma padrão, pela qual recebi nota mínima não possuindo erro algum. Sou professor de língua portuguesa, sei do que estou falando. Ou seja, já ali percebia como o senhor trata os professores, com desprezo e ignorância.

Tudo isso deixei para trás. Entretanto, não estou tendo estômago para aturar o seu comportamento hipócrita demonstrado após a suspensão da greve. Em primeiro lugar, o senhor insiste em dizer que nos deu aumento de 60% em nosso salário. Não, senhor governador, o senhor sabe muito bem que isso não foi aumento, mas reajuste, já que o salário estava defasado. O senhor apenas o corrigiu, coisa que era obrigação sua. Sobre a hora-atividade, era o mínimo que poderia fazer aumentá-la, o que ocorreu perante a “grevezinha”, como o senhor a intitulou, à greve do ano passado. E foi o pouco que o senhor cumpriu, enganando todo o funcionalismo da educação naquele tempo. Muitos que, inclusive, ainda acreditavam nas suas mentiras.

Agora, suspensa a greve, o senhor vem a público (depois de ter se escondido durante todo o movimento) para incriminar desonestamente nosso sindicato, dizendo que o que nos motivava ou inflamava eram questões de partidarismo político? O senhor quer dizer que somos burros e fomos enganados como imbecis!? É isso que o senhor supõe de nós!? Não, senhor Carlos Alberto Richa, nós não somos tolos, por isso enchemos as ruas para protestar contra o senhor! E eu lembro-o por que, já que o senhor coloca o modo sujo de politicagem acima do respeito e do bom senso: O senhor mandou para aprovação em assembleia um ”pacotaço” que derrubava direitos dos trabalhadores da educação, os quais se levou anos para serem conquistados. Aí o senhor diz que a greve não teve razões! É incrível como o seu cinismo é grave, quase demoníaco, mentiroso, perverso. Para se firmar no poder o senhor é capaz de fazer chacota de um grande movimento de trabalhadores e trabalhadoras, difamando-nos. Eu o alerto, portanto: os livros de história, futuramente, contarão (bem como nós professores em sala de aula e educadores em todos os lugares) sobre a verdadeira história. Ou seja, seu nome pode estar limpo entre o lixo da politicagem, mas não perante a história, em que constará como lixo junto ao demais.

Não, o senhor nunca dialogou, mas age tal qual ditador, dita normas e impõe sua vontade imatura... Isso ficou a todos claro! Ou supõe que todo paranaense é burro, meu governador! É isso que o senhor supõe?

Agora diz que o Paraná está ok, que não houve nada, que tudo não passou de partidarismo. Senhor governador, pare. Aglomerações de até cinquenta mil pessoas nas ruas de Curitiba (cem mil em todo o Paraná) não se formam por nada! Nem por partidarismo! Me perdoe, mas é muita cara de pau do senhor querer fazer a população acreditar em tais bobagens!

Meu pai, hoje o agradeço por isso, me ensinou muito cedo a ser honesto e a não mentir, sob pena de apanhar quando o fizesse. Me ensinou a respeitar todos na escola, sob pena de levar grande surra se o não fizesse. E seus pais, não lhe ensinaram a mesma coisa? Se ensinaram, como tem a coragem de desrespeitar mais do que um professor em sala de aula, mas a educação paranaense inteira?! Ou o senhor é daqueles que passa por cima de tudo em razão do poder? Eu acho que sim. Importa-lhe o poder! Estar acima! Mandar! Passando por cima de tudo e de todos!

Perdoe-me, senhor governador, mas o que sinto é asco, nojo de ouvir você, nojo de possuir um tal governador tão hipócrita governando meu amado e promissor Paraná. Isso me desgasta e me faz ir triste para a sala de aula. Muito embora essa paixão por lecionar, esse amor pelas mentes ávidas cheias de curiosidade e de necessidade para aprender que temos faz-nos subir das cinzas, como fênix, ou como gralhas a plantar pelo Paraná sementes para uma nova geração melhor. Para que uma dessas crianças quem sabe seja o governador futuro do Paraná e seja justo, sincero, honesto, e não se espelhe jamais no senhor.