Adega e Semente

Silencio-me nas sombras de meus sentidos, sentindo-me só, sabendo que somente a semente de um resgate me basta.

Sofro solitariamente sabendo que sei por que sofro. O simbolismo de quem ama é intenso. Substituir é o verbo escolhido. Como substituir o silêncio de tanto amor? Trocar de corpo é solução sadia. Mesmo que isto fosse possível, minha mente exporia qual tela de cinema o símbolo de quem me trouxe crescimento e sofrimento na semente de um resgate.

Germina-me!

Germine-me!

Plante-me, pois que já morri.

Só da semente morta brota a vida que se renova expondo as marcas de seus dias de sofrimento. Afago do sol que busco e que só encontro na íris do sol de teus olhos.

Subo pela terra, embrulho-me no solo frio da solidão escura que me afaga. Se pedras de verdade encontro enquanto subo, estas foram confrontadas pela fraqueza e fragilidade de quem ama o sol e a brisa da liberdade que busca.

Vi o sol: fresta de luz morna que me aquece a pela fria e suja de quem só quis deixar nascer à completude de dias; encontrei meu sol.

O que senti ao lado de quem possui a luz de meus desejos? Assim como existe a quietude dos gritos de dores da semente que busca o sol, assim grita a semente que tu plantastes na minha alma, terra séquida de meu coração. Silencioso grito de tamanho sofrimento que me faz inerte.

Hoje, eu, só, sofro, sentindo a lembrança da brisa morna do sol que senti: respiração única de desejo acolhedor. Meu quarto escuro: terra fria, terra fértil, recebeu tua semente.

Minha adega? Terra arada por quem mereceu ter, por dias, o afago de tuas mãos sofridas, boca de quem bebeu tuas lágrimas e embebeceu-se embriagando-se silenciosamente.

Encontrei minha melhor versão nascida na semente do sol de teus olhos. Tudo foi revirado, exposto, aberto um buraco que antes seco pelos dias, hoje regado pela água de tuas lágrimas; foi tua pele macia e molhada que me deu o mel que desce morro abaixo da rua dos teus desejos de sangue que cheirei, toquei, senti, provei. Amo teu gosto.

Brotei, é verdade. Mas, não há mais quem me regue. Meu destino? Silenciar-me onde estou e morrer seco, pois que não mais me regam, silenciando-me nas sombras de meus sentidos, sentindo-me só, sabendo que somente um resgate me basta.

Até lá, só o silêncio da brisa de tua respiração...

Se eu pudesse, guardaria um pouco de tua respiração em uma garrafa de Champanhe só pra embeber-me de ti a cada décimo mês de cada ano; mês do frio onde minha adega guarda meus segredos, mês que me recolho ao meu frio. Só neste mês abrir-me-ia vinte e nove vezes ou tantas vezes fossem necessárias, pois que nasceria um pouco mais de ti até o dia de minha morte: luz morna do sol da manhã que me afaga.

Silencio-me nas sombras de meus sentidos, sentindo-me só, sabendo que somente um resgate me basta.

Adego-me em minhas frias paredes que hoje só guarda uma garrafa de ti. Fecho-me, abrindo-me anualmente no símbolo infinito. Abro-me para a doce completude de tua respiração engarrafada, o sol que me faz desejar brotar rumo ao teu sorriso.

Nele nasce a esperança de sofrer em silêncio, crescendo e sofrendo calado como árvore frondosa. Tudo isto, só pra que se você precisar descansar, possas vir descansar à sombra de meus galhos: Eu, árvore inerte sofrida, em silêncio.

Enquanto descansas, te olho. Velaria por ti, enquanto você se prepara para seguir viagem nos dias de nascimento que te esperam.

Eu apenas guardarei as dores de quem cresceu, esperando algum dia que retornes ou fiques de vez. Até lá, morro aos poucos.

Mas, se não puder retornar, apenas fique o quanto quiser, mesmo que seja para um descanso rápido, pois que sempre estarei no silêncio das sombras de meus sentidos, sentindo-me só, sabendo que somente a tua presença momentânea me basta.

By C.J.Maciel

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 29/08/2016
Reeditado em 29/08/2016
Código do texto: T5743453
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