Carta de Nísia Floresta aos Recantistas

Queridos Recantistas,

Talvez não tenham ouvido falar a meu respeito, mas eu me apresento: Meu nome é Nisia Floresta. Sou escritora, educadora e , como sou conhecida, uma das primeiras feministas do Brasil.

Vivi numa epoca diferente da de vocês:mulheres eram educadas para serem otimas esposas e mães de família... No entanto, meu pai era advogado, o que me permitiu que eu tivesse acesso à uma educação um pouco melhor do que as outras da minha época... Como toda mulher da epoca, fui esposa e mãe... mas não fiquei dentro de casa quando meu marido começou a levantar a mão pra mim. O que eu queria falar nessa carta é que eu quis ser mais que mãe e esposa, por isso a sociedade me insultou e até me boicotou... Abri até uma escola (Colégio Augusto) pra educar meninas... logico que ensinava a costurar, a cozer, a bordar, mas também ensinava a ler, tocar piano e falar Francês e Inglês... pois sempre acreditei que o mundo tinha muito mais a oferecer pras mulheres do que simplesmente ser esposa e mãe... Logo depois eu escrevi livros... tanto que meu primeiro livro foi bem instigante ("Direitos das mulheres e injustiça dos homens"). Depois desse, surgiram vários outros como "Opusculo humanitário", no qual eu condenava a educçao recebida pelas mulheres, mas o livro mais famoso foi "Conselhos a minha filha", editado e traduzido em várias linguas. Me correspondi com um revolucionário da epoca: Auguste Comte. No dia doze de setembro de 1954, eu fui chamada pelo Moço daqui de cima ( como diz a Veônica)...

Não fiquem bravos comigo por não lhes dizer datas dos acontecimentos citados, pois só me lembro da data que cheguei aqui... Se você quer saber que contexto politico eu vivi, posso lhe dizer que vivi o Periodo Regencial, inclusive acompanhei a Revolução Farropilha... Tudo o que fiz não era bem visto pela sociedade:sair de casa, escrever livros, casar de novo e abrir o Colégio Augusto ( que fechou em 1856,creio eu), mas eu fui movida por algo que não sei explicar...

a mesma coisa que moveu as mulheres muito tempo depois a conquistarem seu espaço. Isso não quer dizer rasgar sutiãs, nem dizer "não preciso dos homens", mas ter sonhos e lutar por eles...

Por exemplo, o que Marta e companhia fez no Pan foi mostrar que podemos conseguir tudo o que nos propusermos...

Infelizmente, tenho que ir... estou ensinando os anjos a falar Francês... uma cena divertida que vocês precisavam ver. Deixo um agradecimento especial pra Verônica dos Santos, que me deu informações maravilhosas do tempo de vocês para escrever para vocês... Vinicius de Morais, Pavaroti, Boca de Inverno e Florbela Espanca mandam-lhes lembranças.

Beijos de uma defunta escritora

Nísia Floresta