ATIVISMO CULTURAL: O OFICINEIRO LITERÁRIO

(para Denise Bortolini, em agradecimento e louvor ao seu diligente trabalho)

“Caro Poeta!

Perdoe a aridez de minha última mensagem. Podemos recomeçar?

Desde nossas conversas no acampamento tenho pensado em viabilizar cursos e oficinas pensando na qualidade da produção poética local.

Tenho certeza de que este não é um desejo particular e isto é bom, autoriza minhas ações como representante da política cultural desta comunidade.

Já estava bastante inclinada a iniciar este processo com uma oficina ou curso de poesia tradicionalista e as discussões pertinentes a esta temática. Agora recebi novo impulso com o convite de participar da invernada cultural de um dos CTG's locais que vê esta iniciativa como um evento importante e enriquecedor.

Por isso e pela falta de conhecimento do tempo mínimo para realizar um trabalho desta natureza etc. que escrevi a mensagem anterior.

Conversei também com a coordenadora do curso de letras da universidade que é também a presidente (nova) da Academia de Letras. Apresentarei a idéia e vamos estudar parcerias.

Caso contrário, realizaremos o curso ou oficina em conjunto Departamento de Cultura e Turismo e CTG Passo do Ijuí e membros do Projeto Afluências os quais gostaria que se fortalecessem como grupo em torno da idéia central do projeto e que entendessem a necessidade de estar em contato constante com as questões da produção literária.

Gostarias de ser nosso primeiro convidado? Diga qual o melhor período para que comecemos a organizar o encontro e também envie as informações sobre o que tens em mente já que conheces a nossa realidade.

Fica bem. Abraços.

Denise Bortolini”.

Retorno com muita alegria, grato pelo carinho e recompensado por haveres entendido que desejo me incorporar ao processo local iniciado com os eventos do Acampamento da Poesia de Entre-Ijuís.

Além do mais tu és uma pessoa que me parece muito transparente, verdadeira, pertinaz. Olha que tenho lidado com muitos ativistas ligados a órgãos e empresas públicas e outros que atuam no âmbito das ONG!

Dá pra apostar na seriedade de qualquer projeto que venhas a aprovar. É assim que te vejo, OK?

Por esta razão nada tenho a perdoar e nem achei que havia aridez em tua mensagem. Agiste como devem agir os administradores. Entendo perfeitamente. É o agente de política cultural que tem de ser preciso, conciso, sintético.

Pretendo ser poeta, e como tal tenho alguns cuidados no plano da intimidade, decorrente de meus enfrentamentos pessoais: há dragões por toda a parte. Vejo-os me fustigando há muitos anos. Mais de trinta longos anos, pra ser mais correto. São estes monstrinhos que originam o texto poético.

Recrio o mundo para ser feliz! Sirvo apenas como o desencadeador de suas próprias vontades, a partir de propostas em versos que o meu EU POÉTICO propõe.

O mesmo ocorre com a prosa, só que nesta a linguagem de apresentação textual não é tão codificada, por isso é mais facilmente acatável que o meu EGO INTELECTIVO funcione mais próximo de meu PRÓPRIO EU.

Transmito ao meu leitor alguma coisa, mas ele é o dono de sua cuca. A ele o que lhe aprouver.

No entanto, o oficineiro que me habita é prático, tem personalidade diversa dos EUS LITERÁRIOS. Aqui é o ativista cultural, também instigador dos espíritos, mas com uma finalidade específica: a produção do verso ou da prosa por terceira pessoa.

O ativista cultural promove o clima para os oficineiros escritores-poetas. Este obedece aos interesses locais, a aqueles que sabem o que é útil para o público local e em quem e onde aperta o sapato na hora de pagar a conta!

Cabe-me, como tal, indicar uma linha de oficinação, de correção de texto, de leitura de fontes coerentes com a inventiva dos oficineiros. Fica perfeitamente à vontade comigo, peço!

Pra teres uma idéia, dá uma olhada no projeto de oficinação que segue em anexo. Talvez ele se ajuste às necessidades locais.

- Do livro CONFESSIONÁRIO - Diálogos entre Prosa e Poesia. Porto Alegre: Alcance, 2008, p. 174: 6.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/992963