O STRESSADO FELIZ


O seu Joaquim era um homem estressado.
Na vida moderna o termo “stres” é usado para designar o conjunto de reações orgânicas e psíquicas emitidas pelo organismo quando exposto a estímulos que o excite, irrite, amedronte ou o faça muito feliz. Em alguns casos ocorre desgaste do organismo ao ponto de constituir uma ameaça para o equilíbrio interno e para a própria saúde.
O “stress” não é especificamente uma doença. É sim uma resposta a um estímulo. Suas manifestações dependem do estilo de vida, experiências passadas, atitudes, crenças, valores, doenças e predisposições genéticas. O ser humano está vulnerável a vários tipos de estímulos que podem influenciar positiva e negativamente na vida do indivíduo. O stress nem sempre é maléfico. Ele pode trazer benefícios ao emocional.
O seu Joaquim demonstrou um caso raro de stress. Stress de intensas alegrias. Ele teve cinco filhos e cinco filhas. São dez filhos resultantes de 5 partos. Todos os partos de sua esposa, d. Justina, foram duplos. Veja você que seu Joaquim e d. Justina passaram por situações de stress, mas não do tipo prejudicial porque embora as situações enfrentadas, tinham compensações de prazer e alegria.
Como e por quê?
A cidade onde moravam seu Joaquim e d. Justina chamava-se Amaralina, mas vulgarmente era conhecida como a “cidade dos orfanatos”. Morava nessa cidade cinco casais que não tinham filhos. Não tinham filhos gerados, mas tinham muitos filhos adotados. Cada casal ao chegar naquela cidade sentiu o desejo de fundar um orfanato. Era uma cidade muito pobre, porém populosa. Por isso, as famílias menos favorecidas eram alvos de assistência social.
Quando nasceram os primeiros filhos gêmeos do seu Joaquim, ele e sua mulher tiveram uma intensa preocupação, pois não estavam preparados para o recebimento dos gêmeos. Qual não foi a alegria deles quando foram procurados por um daqueles casais querendo adotar as crianças. Seu Joaquim aceitou a proposta, mas d. Justina não aceitou. Ele acreditava que assim como Deus dera os filhos, Ele mesmo daria condições para cria-los. O casal compreendeu e propôs ajudar os pais das crianças na educação dos mesmos até a idade adulta, quando poderiam adquirir vida independente. A preocupação transformou em alegria. A notícia correu e todos louvavam a atitude do casal solidário.
Decorridos dois anos, seu Joaquim e d.Justina tiveram outros dois gêmeos. Na extremada necessidade eles resolveram e foram ao encontro de outro casal dono do outro orfanato. Contaram a sua história para justificar o seu pedido. O casal para não ficar em posição inferior ao seu antecedente, fez o mesmo: ofereceu o sustento necessário aos gêmeos, enquanto precisassem, até conseguirem sua independência.
A história prosseguiu.
Mais dois anos decorreram e... depois mais dois anos... e depois mais dois anos.
Caro leitor, você pode até questionar. Você pode ou não, acreditar, mas aconteceu igualzinho com os demais gêmeos, os terceiros, quartos e quintos. Os outros casais, o terceiro, o quarto e o quinto foram procurados igualmente pelo seu Joaquim e d. Justina, para ter solucionado seu problema – a falta de condições para criar seus filhos. É interessante que todos aqueles casais tinham no coração o nobre sentimento de solidariedade. Os últimos, especialmente, perceberam que procedendo igualmente como os primeiros, além de já estarem fazendo parte da história de vida do seu Joaquim e d. Justina, estariam também fazendo parte da história daquela cidade.
Assim, todos os filhos gêmeos do seu Joaquim e d. Justina tiveram experiências bem semelhantes. Seus pais podem-se dizer tiveram muitas alegrias. Os stresses que tiveram foram de emoções positivas.
Fatos marcantes como estes são verdadeiros exemplos de solidariedade humana. Foram experiências prazerosas para os cinco casais que puderam ajudar; para o casal de velhos que tiveram a alegria de receber; para os filhos e suas famílias que também usufruíram de uma força para enfrentar a vida além de outras significantes dádivas.
Finalizando essa narração, é importante ressaltar que a alegria maior foi a realização da festa de “Bodas de Ouro” (sessenta anos de casados) do seu Joaquim e d. Justina com a presença de todos os filhos, noras, netos e bisnetos.
A essas alturas dos fatos, alguém poderia conjecturar: quem patrocinou o evento?
O evento familiar, não deu outra. Foi patrocinada pela direção dos cinco orfanatos . Alguns de seus donos já haviam falecido, mas o espírito de ajuda parecia estar impregnado entre eles e de bom grado assumiam mais essa participação benéfica social.
Foi uma festa de arromba!
Todos que moram em Amaralina sabem contar essa história.