MARIA PÃO DE MEL

 

Maria Pão de Mel morava a pouco mais de dez minutos de minha casa. O tempo para o percurso variava podendo ser maior quando o Sol estava muito quente e a areia aquecida ameaçava a pele das solas de meus pés. Nesse caso eu fazia um arco passando pelo viveiro dos pássaros e os pássaros me distraiam.

Coisa mais triste é passarinho preso e ainda mais triste quando a gente não pode abrir a portinha do viveiro.

Poder podia.

Era só esticar o braço.

Mas havia uma promessa terrível; se os pássaros do farmacêutico fugissem, ele cortaria o meu. Nessas condições não há quem estique os braços para ver passarinho voar livre.

Com Sol ameno eu cobria a distância em dez minutos em passos lentos, atravessando o areal.

Era uma velha a Maria Pão de Mel. O marido nunca estava em casa. Ela deixava a mão de pilão perto do pilão e abria os braços para me abraçar beijando. Já não me lembro dos assuntos, mas eu os tinha e ela ouvia embevecida, pondo os olhos em meus olhos.

A mulher com quem eu morava não gostava que eu saísse e Maria Pão de Mal sabia muito bem que não podia espalhar que eu a visitava. Era um segredinho nosso, meu e dela. Não chegava a ser um caso pensado, mas era mais ou menos isso.

Eu vivia dividido. Meu coração vivia machucado. Se não podia contar que visitava Maria Pão de Mel, como aparecer em casa com os pãezinhos deliciosos que ela fazia?

Muitas vezes voltei chorando por não poder levar aquela delícia para minha mãe.

Era justamente ela quem não queria que eu saísse.

Eu tinha menos de seis anos.

Lucas Menck
Enviado por Lucas Menck em 28/10/2008
Reeditado em 02/11/2008
Código do texto: T1251796