Os filhos dos outros

Demorou, como pai separado, a encontrar um clube que pudesse levar a filha de cinco anos. Era difícil ir ao shopping ou cinema e depois a menina ter vontade de fazer pipi. Viu pais entrarem com suas filhas em banheiros públicos masculinos. Nunca quis fazer isso. O clube tinha banheiro para crianças, era o único pai no meio de mães dando banho em seus filhos. Vida que segue.

Agora estava na piscina com sua garotinha. Dessas piscinas que tem uma parte rasa para as crianças e vai afundando, afundando.

Ela brincava de mergulhar por debaixo de suas pernas, se divertiam muito. Até que chegou perto uma outra menina e pediu para mergulhar também. Juju assentiu com os olhinhos que deixava, queria fazer amiguinhas. Revezavam-se agora as duas em passar sob o arco das pernas de Oscar.

Logo chegaram mais meninos e meninas, Juju entrou na fila, risonha. Espero que nunca odeie filas como seu pai. Sempre ansioso. Noites mal dormidas em correrias por hospitais para fazer salas de parto como pediatra a fim de subsistir e porque sempre gostou da profissão.

A fila não parava de aumentar. Uma criança encostava o peito na da frente.

"Onde está seu pai menina?"

"Ali!" , e o pai da menina estava lendo o jornal deitado numa dessas peças horrorosas de fibra de nylon de beira de piscina.

Outra a mãe estava na sauna, não sabia onde estava o pai. A moreninha mostrou o pai no bar bebendo seu chopp.

Os filhos dos outros são dos outros. Oscar sabia de seu carisma sob as crianças por ser pediatra. Lera toda obra do psicanalista inglês Donald Winnicott, inclusive o livro Da pediatria à psicanálise, em que o fundador do middle group da escola inglesa de psicanálise, criado para administrar as brigas entre Anna Freud e Melanie Klein, inseria conceitos novos na ciência, como o do objeto transicional, que Oscar tanto usava na clínica.

Os filhos dos outros são dos outros. Oscar notou que o salva-vidas olhava para a turma a sua volta. Pegou Juju no colo, apontou o indicador para o salva-vidas, depois para as crianças e foi caminhando para a parte mais funda, onde a filha poderia brincar sossegada com ele, sem a companhia dos filhos dos outros. Só via a menina de quinze em quinze dias, mas ao menos quando estava com ela, estava integral.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 07/02/2009
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