83 - UM DIA É DA CAÇA...

UM DIA É DA CAÇA...

Somos colegas de estria,(na verdade de chave de boca, paquímetros,torquímetros,cachimbos, chaves de fenda também) assim você não pode fazer isto comigo ora bolas!

_Me jogar no meio das flores do jardim.

É bem assim que dizia o Têia.

Ele não era um beberrão. Mas, de modo geral, quando havia uma confraternização lá na turma da oficina de motores, alguém sempre escapava do limite e ficava caindo pelas tabelas, precisando ser levado para casa. Olha que a turma gostava de uma confraternização; bastava haver um motivo ou até a falta deste e tome festa!

O violão do Edgard, sempre afinado, era o primeiro convidado. Afinal o seresteiro era requisitado até para festas lá das altas cortes. Aliás, tinha um diretor que não perdia a vez, aparecia aqui na fazenda e a seresta rolava até no outro dia. Passavam a tarde e a noite montados no cavalo branco, fosse on the rocks ou cowboy.

Têia trabalhava de mecânico lá na oficina e entre os loroteiros locais era o primeiro da lista. O Têia como apelido atendia sem nenhum mais mais. Era só dar corda para as mentiras e ele caia na farra, uma atrás da outra. Obviamente não foi batizado assim, mas se lhe chamassem pelo nome estranharia. Como Têia era mais conhecido que moeda de tostão ou centavos rolando ali na "Esquina dos Aflitos" ou boteco do "Ze dos Santos", recebera este codinome por causa da sua famosa história... Era caçador de tatu, mais famoso que o Bandeirante “Fernão Dias Paes Leme” o caçador de esmeraldas. Coisa que ele fazia todas as tardes quando encerrava o carpir, executando a rabilonga. Nisto sim, se dizia craque. Ele a executava no campo, no morro e no eito do cafezal. Já o irmão maior da dita ele executava no mandiocal. Não fique pensando besteiras ou bobagem, dizia o apontador seu irmão, o que era confirmado pelo outro que trabalhava na oficina de campo também.

_Lá em casa em Brejaúba todos nós executávamos aquilo que aparecesse, era o nosso ofício, sustento e ganha pão. Manejar vacas e cabras, tirar o leite da mandioca brava era coisa de todos os dias. Essa coisa de enxada, enxadão, pá e picareta estava acabando com a gente... Fomos saindo de fininho, cada ano vinha um de nós, quem quisesse que ficasse naquele rala-peito.

Difícil trajetória aqui, mas não se enganem: melhor, infinitas vezes melhor que o trabalho na roça. Lá era fazer farinha, rapadura e queijo de minas, bater o pasto de madrugada até a tarde. Na roça era assim mesmo, enquanto descansa carrega pedra, tratar de porco e do gado enquanto a noite não vem!

Vir para Itabira do Mato Dentro era sair do purgatório ao céu. Lá na terra do tatu, não havia muitas chances. Por falar em tatu o Têia se dizia o melhor caçador da redondeza. Não havia tarde que um ou dois ele deixasse de trazer. Dizia técnica e trato para tirar do buraco sem deixar o bicho escapar. Até na sexta-feira da semana santa estando à toa em casa resolveu pegar um bicho. Seus irmãos insistiram “hoje não é dia disto rapaz, veja bem o que a mãe diz respeite o dia sagrado”!

_ Vou rapidinho e volto. Pego o bicho, prendo na gaiola e amanhã vira farofa com tatu frito ou ao molho.

_ Deixe prá lá seu abusado não vá à caça em dia santo e feriado. Oscar pegou o carote de amburana na despensa do paiol entornou um grande trago na cuia mandou pra dentro, cuspiu de lado e jogou um pouco para o santo, bateu no peito: _ tatu de mim não escapa!

Encontrando com o bicho bem nas trilhas das pacas, o tatu se mandou com certa dificuldade tão gordo ele estava. Na toca da paca entrou, entalou-se bem no meio. Oscar tentando puxar o tatu resistindo. Mão esquerda segurando o rabo a direita tentando agarrar as patas traseiras. Puxa daqui, puxa dalí, incha aqui e acolá, de repente a mão escorrega e o tatu dá um grito. Saindo do buraco, apóia a mãos na cintura e diz: _Tome tento ô rapaz, assim deste jeito não há tatu que agüente! Oscar saiu quebrando o mato no peito.

Desta data em diante Oscar nunca mais quis saber de caçar.

Dizem que o Luiz Lua Gonzaga, parodiando o Oscar e o tatu, cantou baião e xote: Bem feito quem foi que ti mandou enfiar a mão no buraco do tatu!

Ze Torres diz que é verdade este caso foi confirmado pelo Chico Neto e Nercy, irmãos de pai e de mãe, portanto, dois loroteiros também. O Geraldo Pára-brisa chegava a rolar de rir, sabendo que a história era inventada. Ele também é de Brejaúba.

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 14/07/2009
Reeditado em 02/08/2011
Código do texto: T1698891