Quem Ama a Feia...

Ele entra no baile. Bitelo dum salão. Gente muita balançando o esqueleto e esfregando coisa com coisa. Mancebo olha pra cá, olha pra lá... imbica meio cambaleante rumo duma loirinha toda sirigaita.

- Bamo dançá?

- Vô nada!...

- Vamo, sá!...

- Vô nem vê! Tô ca perna dueno, sô!

Loirinha refugou convite. O moço bêbado, bafo espantante. Ele era gente de fora e mais feio que filhote de urubu cagado. Chama mais uma dama, mais outra e... nada. Nem a neguinha do cabelo alisado com alisaton e nem a loura oxigenada com uma pintona no queixo e catinga de cecê. Depois de várias tentativas encontra aquela que mais parecia um barril: baixinha, barrigudinha e cinto apertadinho segurando as banhas. Nem precisa falar que era feia. Medonha. Estava num cantinho do salão, olhando pra cá e pra lá, aguardando um corajoso. O nosso herói vendo-a assim, toda largada, diz pra si mesmo: "é com ela que eu vô". Menina atende rapidinho ao piscado do feioso e saem os dois rodopiando pelo salão. Cai aqui, cai ali, equilibra de cá, equilibra de lá, até que se ajeitam e entram num acordo dançante. E o feioso pensando: "tô feito!... é feia, mas dá uma boa meia sola... depois dum fim de noite cumigo ela pode até ficá apaixonada..." Aí a feiosa dama, para azar seu, resolve arrumar assunto.

- Ocê num é daqui, num é memo?

O mau hálito represado que saiu da boca da feia foi tanto que deixou o bêbado meio desorientado, já que era só acostumado com o bafo da canjebrina. E sem entender de onde vinha tanta fedentina, abaixou o cangote e cochichou no ouvido da sua paixão baixinha:

- Arguém peidaro!...

- Mai num fui'eu! - Respondeu precipitada a gordinha toda desorientada.

- Ih!!!... sujô!... peidaro de novo!...

Eurico de Andrade
Enviado por Eurico de Andrade em 26/12/2006
Código do texto: T328435