O Cabaré Gato Preto

O Cabaré Gato Preto

As coisas no cabaré só aconteciam nos finais de semana, talvez porque o consumo de bebidas fosse maior. Nos dias normais da semana quem não conhecia o lugar achava que nem era um cabaré, tal era o marasmo, e até em algumas noites o movimento era bem fraquinho. Chamavam de; O Gato Preto, porque ninguém nunca soube.

Era uma ruazinha com umas 16 casas coladas umas nas outras, oito de cada lado, quem entrava pela rua do Curral que ficava a direita, a cancela era logo em frente a primeira casa da esquerda onde funcionava um bar e na última do outro lado era o salão onde se dançava ao som de uma radiola ABC canarinho que tocava invariavelmente músicas de Waldik Soriano e outras do mesmo gênero.

Nos dias de meio de semana "as quengas" tinham a liberdade de irem á rua, no comercio como se dizia na época, e até na feirinha que tinha toda quarta-feira na rua ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores, algumas preferiam ir tomar banho de sol e se banhar no Lageiro das Cachorras, ninguém sabia porque tinha esse nome, mas todo mundo achava que combinava.

Nas festas tradicionais da cidade e nos fins de semana era um furdunço só porque vinha gente das redondezas e sempre tinha alguma briga, as garotas a maioria de fora da cidade, todas elas trazidas pelo Seu Budin o dono do cabaré. As brigas aconteciam mais nesses dias e quando acontecia da policia prender alguém o fulano só era solto na outra semana dependendo da gravidade da briga.

O Gato Preto foi por muito tempo o único cabaré da cidade, as mulheres que conseguiam ficar mais tempo trabalhando lá eram de fora do lugar e algumas logo se adaptavam aos modos da cidade. Muitas iam nas missas, procissões e nas novenas, embora não se metessem com ninguém eram olhadas de modos diferentes pela maioria das senhoras casadas ou em vias disso.

Na verdade ele ficava meio fora da cidade como se fosse um lugar maldito, e a não ser o Clube da cidade e os dois "inferninhos"que funcionavam como clubes não tinha outros lugares pra o pessoal se divertir. Um dos inferninhos ficava no local onde a Banda Isaías Lima ensaiava, ficava logo depois da farmácia de Seu Elias, por trás da Casa José Veríssimo, o outro ficava no beco do Açougue Municipal, próximo a saída dos fundos do Cassino e nesse as meninas do cabaré sempre davam um jeito de irem nos fins de semana, para desespero de Seu Budim que via nele um serio concorrente.

O Gato como era chamado por muitos frequentadores ou não, tinha uma importância vital na vida social da cidade, a começar pela molecada que estava chegando no ponto de procurar mulher, para desafogo dos solteiros que não conseguiam ou não queriam arranjar casamento e até de alguns casados que davam suas escapulidas.

Alimentava também as fofocas das solteironas e casadas mais recatadas ou não, de vez em quando despertava a irá do vigário da paroquia durante o sermão Dominical, e até no comercio ele tinha sua participação mesmo que pequena, mas de suma importância, pois durante as festas as meninas queriam estar sempre de roupas novas, sapatos e adereços afins.

Durante um bom tempo O Gato teve uma grande importância na minha vida, como minha mãe era costureira e sem falsa modéstia uma das melhores da cidade tinha sempre muito trabalho nas épocas de festas da cidade, era quando ficávamos até altas horas costurando pra entregar as roupas novas das meninas, como minha mãe chamava as algumas vezes.

Embora tivesse transito livre entre elas e até uma certa intimidade, como ver elas experimentar as roupas na minha frente, sempre me pareceu algo normal.

Hoje tenho saudades do velho e bom Gato Preto, como dos inferninhos que era onde a maioria da rapaziada se encontrava para aliviar o tesão e azarar as meninas, mas ai já é outra historia.

Fernando Alencar (Triunfense)

Texto do Livro Contos de Meninos E Outras Historias (inédito)

Camaçari, 26 de Novembro de 2012 // 00:48hs.