SINCERIDADE TOTAL? CÁLICE !

Eis uma história real, muito engraçada, enviada pelo meu grande amigo *Shey Miphody Nomico, de Paranaguá, PR.

Em Setembro de 2000, eu e a minha digníssima namorada, ela, convalescente de uma terrível depressão bipolar, viajamos a Pedro de Toledo, SP., para uma visita a seus familiares. Ao chegar-mos, após cumprimentar-mos a sua família e nos acomodar-mos, fomos convidados por alguns de seus familiares à visitar uma fazenda numa cidade próxima, Itariri. Partimos.., lá chegando, por volta das 10: horas, fomos apresentados aos anfitriões; um casal de idosos muito simpáticos. Após a recepção, nos serviram refrescos gelados de frutas frescas, produzidas naquela pequena fazenda. Já mais a vontade, nos sentamos e ficamos conversando sobre amenidades, alguns somente apreciando o ambiente bucólico. Após alguns minutos, levantando poeira, chega à casa principal uma caminhonete grande, dela desceu um rapaz sorridente, de aproximadamente 25 anos, amigo da irmã de minha (até agora) namorada, fomos apresentados a ele, era o filho do fazendeiro, perguntou-nos se estávamos à vontade e, se gostaríamos de conhecer a fazenda. Eu e mais dois dissemos que seria legal. Subimos na caminhonete e partimos para dentro dos pomares, durante o caminho, o simpático rapaz, tão solícito quanto prestativo, foi nos dando algumas explicações sobre a colheita dos vários frutos ali plantados, como também respondendo sobre nossas curiosidades. Após conhecer grande parte da fazenda, voltamos para um grande galpão de madeira, onde as mulheres e familiares do fazendeiro já se encontravam em um animado papo. Minha namorada, na fase mais amena da depressão, conversava animadamente com todos. Sentamo-nos ao redor de uma grande mesa rústica, de madeira, e iniciamos a bebericagem em meio ao animado papo, rimos muito e ficamos bem à vontade. Enquanto o rapaz acendia o fogo na enorme churrasqueira, as mulheres da família do fazendeiro iam recheando a grande mesa com saladas variadas; arroz, maionese, petiscos, farofas, bebidas, etc.

Ajudando o rapaz no churrasco, troquei algumas idéias sobre carnes, falamos um pouco sobre nós e, ali estabelecemos, sem dúvidas, uma grande amizade. Com tudo pronto nos sentamos, o churrasco começaria a ser servido.

O rapaz e sua família se desdobraram para que não nos faltasse nada. Foi muito bom, tomamos cervejas e caipirinhas de limão cravo colhidos ali. Confesso que ficamos um pouco altos, até as mulheres, com exceção de minha namorada que, devido aos seus remédios antidepressivos, não bebeu nada alcoólico. Ali gargalhamos, cantamos e nos confraternizamos animadamente.

Eu queria muito marcar aquele nosso encontro, se possível, com alguma lembrança que eu deixaria ali para aquela família que tão calorosamente nos acolheu, mas..., o que? Em meio à conversa, fui pensando..., quando..., lembrei-me que havia algo em minha maleta de miscelâneas no porta-malas do carro, um lindo pequeno cálice de cristal lapidado, de excelente qualidade; não tive dúvidas, sai da mesa calmamente, fui ao carro e o peguei.

Já postado à mesa, fiquei pensando em como iria entregar tão singela lembrança; bolei um discurso e mandei ver, com o cálice ainda escondido, levantei-me chamando a atenção de todos, iniciei o discurso enaltecendo a calorosa acolhida por aquela simpática família. Em meio ao discurso, no auge, saquei aquele pequeno e lindo cálice de meu bolso, levantei-o em posição de brindar e, entregando-o ao rapaz, dei-lhe um forte abraço, todos ficaram muito felizes. O rapaz com o pequeno cálice de cristal na mão, emocionado, disse que não merecia receber tão lindo presente, pois aquele mimo deveria ter uma linda história muito pessoal. Foi o gancho que eu precisava, quando ele fez menção de me devolver, eu levantei-me, o silêncio foi quase total, emocionado disse-lhe que aquele pequeno presente ficaria com ele e sua distinta família, pois marcaria o dia do início de nossa grande amizade e, emendei:

- Sim..., esse cálice realmente tem uma boa história, vou lhes contar.

- Em viagem de turismo a Cuba, em visita à Varadeiro, quando hospedado em um novo complexo turístico a beira mar, soube que o Comandante Fidel Castro viria para o coquetel de inauguração de uma das etapas do complexo, foi-me dito na recepção que como hóspede teria acesso ao coquetel, no horário marcado vesti um Blazer e fui para lá, assisti e escutei o magnífico discurso inaugural feito por Fidel Castro.

Todos calados, estavam prestando muita atenção ao meu empolgado e alcoolizado discurso. Causado o suspense, olhando calmamente para todos, continuei:

- Ao comandante Fidel, após o seu discurso, foi-lhe passada uma tesoura dourada para o corte da fita inaugural do complexo turístico, uma vez feito isso, eu..., já bem próximo a ele, vi quando ele bebeu e ergueu um lindo cálice de cristal, que após foi colocado sobre uma mesa, dando assim por inaugurada aquela etapa da obra.

Na mesa todos ficaram calados, atônitos, algumas mulheres cheias de "biritas" já estavam chorando, o rapaz e sua família visivelmente emocionados, estavam pasmos, já estavam adivinhando qual seria o cálice da tal inauguração. Aproveitando aquele momento de grande emoção, perguntei calmamente à todos:

- Vocês sabem qual foi o cálice que o Fidel usou na inauguração?

Todos, com exceção de minha depressiva namorada, gritaram em uníssono, apontando para o pequeno cálice:

- Aquele ali!!!!

Muito orgulhoso, respondi apontando:

- Sim claro! Foi aquele ali!

Todos ali, sentados, brindaram muito felizes, eu nem o diga, mas principalmente o rapaz que observava com carinho aquele lindo cálice recebido, quando..., para a nossa surpresa, a minha namorada levanta e pede a palavra, todos se calaram e prestaram muita atenção, ela pausadamente, com um leve sorriso irônico, iniciou o seu discurso elogiando os anfitriões, pela bela recepção oferecida em sua fazenda e, depois mandou:

- O *Shey, realmente esteve em Cuba, eu até vi uma foto trazida por ele; a do Fidel Castro na saída do lugar inaugurado, mas..., aquele..., aquele cálice ali...

Apontando para ele.

Meu D’us fiquei apavorado, conhecia bem a "fera", suei e gelei no ato, ela estava naquele momento em ESTADO DE SINCERIDADE TOTAL, buscando atenção, visibilidade, uma das característica dos depressivos quando na fase maníaca. E ela continuou já falando alto:

-..., não foi aquele o cálice usado por Fidel Castro na inauguração, aquele cálice ali foi comprado por nós na Cristaleria Moellman, em Blumenau, quando fomos a Octobeer Fest no ano passado.

Eu pensei que teria um ataque cardíaco naquele exato momento. Em meio ao silêncio, a decepção estava estampada no rosto de todos. Logo após ter estragado a festa, ela olhou para o teto com os olhos brilhantes, com eles arregalados gargalhou alto, com vontade, em meio à estupefação geral. Vi quando, calmamente, o rapaz levantou-se na cabeceira da mesa e, com o cálice apontando para mim, disse para ela sorrindo:

- Dona *Depreusina, com todo respeito que tenho pela senhora e a todos aqui, quero que me perdoem, mas..., eu prefiro a linda história contada pelo meu amigo Shey.

Eu, sem graça, mais aliviado, já amparado pelo pai do rapaz, pedi desculpas a todos e fui para o carro chorar. Sai e fui embora com a minha vergonha para a minha Paranaguá.

Naquele dia, juro por tudo quanto é mais sagrado..., tive a certeza que eu poderia tranquilamente estrangular alguém.

Foi o Fim.

*A fim de preservar a integridade dos personagens, os nomes usados são fictícios.

ZIBER
Enviado por ZIBER em 13/04/2007
Reeditado em 20/08/2007
Código do texto: T448494
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