Nem jamais nem sempre

Era de madrugada em Nova Iguaçu, o plantão estava calmo. Quando alguém entra na sala de atendimento andando com as pernas semiabertas o médico pensa, se no mais o estado geral do paciente for bom, que pode ser uma crise hemorroidária, que faz o sujeito sentir muita dor até para andar. Mas na medicina como no amor nem jamais nem sempre, ensinaram os franceses, então Dr. Stanislaw Balner pediu que o paciente (um homem na faixa dos trinta anos) sentasse não para avalizar sua primeira impressão, tantas vezes certa.
- Prefiro ficar de pé.
- Por quê?
- Porque tomei um tiro na cabeça.
Certas coisas acontecem em todo lugar onde se exerça a medicina, mas esse fato aconteceu no Pronto Atendimento Médico Ana Paula (Quem foi Ana Paula?) na Rua Dom Valmor, baixada fluminense, Nova Iguaçu. O senhor não quer sentar? Insistiu o médico.
- Não.
- Por quê? Aliás, por que o senhor está andando de perna aberta?
- Por que tomei um tiro na cabeça.
- E as pernas, por que...?...
- Porque estou com medo da bala andar dentro da minha cabeça.
- Mas o senhor nem está sangrando. Pode sentar, por favor.
- Foi tiro de espingarda de chumbinho.
- Ah... Onde?
- Aqui atrás da cabeça.
Ao exame Stan encontrou uma pequena laceração de couro cabeludo, procurou bala com pinça, mas não encontrou nada, pediu um Raio X, que revelou alojamento de bala imediatamente após calota craniana, isto é, entre o osso e a dura mater, membrana que forra todo o sistema nervoso central. Prescreveu antibiótico para evitar infecção, fez tricotomia e curativo. Deixou a bala por lá mesmo e orientou o paciente para uma vida normal.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 03/10/2016
Reeditado em 03/10/2016
Código do texto: T5779793
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