A VIAGEM - Parte I

A viagem - Parte 01. (Revisão 01)

Verão de 1976. Poste dois da Praia do Itararé em São Vicente - SP. Muito próximo fica o conhecido e badalado Ilha Porchat Clube.

O sol ofuscante e escaldante, como que pregado no ponto mais alto da abóbada celeste, emanava em forma de raios sua energia muito bem-vinda a todos que freqüentavam nossas lindas praias.

A brisa refrescante de ar marinho, misturada aos odores de cremes de bronzear, refrescava e perfumava a todos por igual.

O mar em marolas quebrando na praia em suaves espumas, convidava os mais acalorados a sentirem o frescor e a força de suas ondas.

Vista de cima, a simetria das cores dos guarda-sóis, sugeria a visão surreal do giro de um caleidoscópio ou de um belo quadro de Alfredo Volpi.

A praia superlotada, na sua grande maioria por gente muito bonita, alegre e educada, se mantinha de alguma forma em um enigmático alto astral. Com certeza, um residual da grande festa havaiana, "Mares do sul", acontecimento de sábado passado no Ilha Porchat Clube.

Na areia quente desfilavam belíssimas mulheres de corpos em bronze escultural, todas vestidas em minúsculos biquínis coloridos do tipo asa delta. Elas fascinavam a todos em suas constantes passagens rasantes frente aos nossos olhos atentos. Eram muitas, muitas “aeronaves”.

Em nossas mãos cilindros vítreos suados com cristais cintilantes flutuantes derretendo sobre boas frutas maceradas, eram dosados com muito álcool a fim de nos manterem descontraídos, alegres e falantes.

A nossa turma, exibindo o brilho bronzeado de seus corpos, e das línguas matracas, estava sempre traçando planos para armar alguma grande festa, uma viagem ou uma zoeira, que poderia acontecer a qualquer hora.

Como sempre, mantínhamos o vai e vem ao balcão de negócios do prestigiado Casarão da Tia Antonia, que em confiança nos vendia fiado: bebidas, peixes e camarões todos os dias. Despesas essas que eram marcadas em papéis de pães e papelões que seriam amarelados pelo tempo, perdidas num espeto enferrujado já sem ponta sob o balcão oleoso e descascado. Havia algumas contas cujos pagamentos eram semanais, outras mensais e, até, anuais, pagas pontualmente no próximo verão.

Depois de todo um ano suado na labuta, a fim de conseguir os recursos necessários para tirar alguns velhos sonhos da empoeirada "prateleira", estávamos dispostos a pagar um alto preço pela passagem de um dos nossos maiores desejos: Viajar e conhecer novos lugares e pessoas.

Todos, sempre muito esperançosos, alegres, com sorrisos largos, ansiosos, em movimentos sinuosos de um cardume, ficávamos ali aguardando um comando qualquer para fugir para algum novo lugar paradisíaco, afrodisíaco e restaurador. Enfim, conhecer algum lugar diferente e com outras paisagens. Sim, queríamos partir, ir!

Pronto! Bastou essa corrente para que alguém desconhecido ou (...) descuidado, gritasse alto: !Cabo Frio! Era o que nos faltava: o disparo, nada mal. E, assim ficou decidido o nosso destino para aquele carnaval: As praias maravilhosas de Cabo Frio, ao norte do Rio de Janeiro.

Com certeza, era mais do que todos esperavam, sem exceções. Todos nos queríamos ir. Bem, sem dúvida, havia começado a melhor parte dessa louca epopéia. Sabíamos que alguns seriam "passageiros de carona" até o dia da partida, mas deixáva-mos pra lá a cantar Alá lá-o Ooo, mas que calor (...)!

Com mais um brinde de toda a turma, a alegria definitivamente se instalou e nos contagiou. Esse era o tema e só faltava armar o esquema.

Quase que imediatamente, cada qual com seus palpites, iniciaram uma rápida e imediata análise da situação; Logo alguns se incumbiram da logística: 'Como iremos, a pé, de trem, de carro ou de avião? Quantos dias ficaremos e quantos irão? Quem conhece o lugar? Quais e quantas bebidas iremos levar? Quais alimentos levar? Vamos alugar uma casa? Vamos acampar ou nos hospedar em...? Etc. e etcs. Meu Deus, a loucura foi total, febril!

Todos muito solícitos e prestativos, se ofereciam para as mais variadas tarefas: faremos, providenciaremos, facilitaremos, estaremos, etc. Ao final, mais gente desconhecida foi chegando. Todos querendo saber qual o motivo de tanta agitação e euforia.

A “Diretoria”, cercada, agitada e já um pouco enciumada, também com a língua queimada, resolveu fazer uma sutíl seleção digna de Noé.

Veio o comando: "Vamos para o escritório". A fim de despachar, partimos ufanos, marchando com “mil pés”, em uma interminável fila Indiana, em rumo de colisão ao concorrido Restaurante Boa Vista.

Infelizmente, só alguns chegaram ao destino. O lugar sempre foi bom, de primeira, mas com os preços nas alturas. Dos que chegaram, aproximadamente quinze pessoas conseguiram nessa embarcar.

A viagem-Parte 02 (Em revisão)

Fomos chegando, nos acomodando e nos aliviando aos goles de cervejas geladas, caranguejos acebolados e lambe-lambe de mariscos.

Com essa boa idéia na cabeça, bebemos, brindamos e de tudo comemos. Conversamos e rimos muito de tudo que nos aconteceu hoje.

Ali, em meio a bebidas e comidas, combinamos uma reunião para a semana seguinte na casa do Zezão, a fim de acertar-mos os detalhes dessa possível viajem a Cabo Frio.

Só saímos do Restaurante quando alguém nos lembrou que haveria um baile à noite. Assim combinamos nos encontrar no Clube dos Ingleses.

O pessoal de “Depois da meia noite” começou a chegar e a se concentrar no bar da piscina do clube. Começou tudo de novo. Mais álcool, mas, desta vez, em “Drinks” mais requintados: Cuba libre, Gin Fizz, Hi-Fi, Uísque, etc. Na pose e ao som do “Blow up”, começavam os olhares, e os velhos comentários sobre as moçoilas presentes: "Essa eu já (...)", "Aquela eu vou (...)", "A outra está (...)", "Se ela der mole eu (...)", "Essa eu não vou (...)", etc...

Alguns mais atrevidos iam para o risco de um ataque frontal. Outros mais comedidos ficavam entrincheirados e tentavam acertá-las à meia distância. No final do baile alguns conquistavam o que desejavam. Outros, as que não queriam. Outros iam para o “Corredor da morte” agarrar as “galinhas mortas”. Os retardatários iam tentar impressionar algumas de carro, na saída. Caso não conseguissem, ainda existia mais um último e apelativo recurso: as belas strippers da Boate “Pink Panter” que se reuniam ao final do Show no agitado Restaurante “La Bambina”. Algumas a espera de seus cafetões e outras, de alguém para mais uma bebida ou, quem sabe, até um “Over Money”.

No Domingo, Praia do Itararé, o mesmo sol escaldante, a praia lotada de novo. Só gente bonita e muito fina, no mesmo alegre alto astral.

A nossa turma de ressaca, de olhos apertados e de rostos inchados, começava a se reunir, beber e a emitir os vários relatórios de atividades noturnas. Ninguém queria ficar para trás, as historias eram muito impressionantes e vantajosas - algumas eram muito hilariantes, outras por demais criativas e fantasiosas. Quanto maior fosse o teor alcoólico do narrador, maiores os detalhes do fato.

E, ao fim, nosso domingo, aos poucos, ia sendo vencido pelos presentes.

Para se despedirem, como sempre, era sugerido um almoço e uma interminável saideira no Restaurante Boa Vista - o nosso ponto de encontro. Ao final, em meio aos abraços de despedida e várias combinações, cada qual ia embora em busca de honrar seus compromissos pessoais e profissionais. Sexta seguinte nos reunimos em Santos, na casa do Zezão para acertar os detalhes de nossa tão esperada viagem a Cabo Frio

Continua...

ZIBER
Enviado por ZIBER em 21/08/2007
Reeditado em 02/08/2014
Código do texto: T617253
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