Sofia, ela e um médico

Sofia é minha amiga desde quando comecei a pensar e a sentir ao mesmo tempo. Casada, não vive com o marido de quem não se divorciou por razões tais como morar em uma casa de seis quartos, duas salas, três banheiros, amplo quintal arborizado com piscina e sauna. Só estive lá uma vez quando os filhos dela, um rapaz e uma moça, viajaram por uma semana à Trancoso. O marido de Sofia é empresário, mora na Praia do Canto, também numa ótima casa. Foi ótimo o dia passado na casa de Sofia. Tivemos tempo!

Agora não nos vemos há seis meses. Sofia mora com os dois filhos e sua irmã adotiva, amiga inseparável de todas as horas.

Nós falamos no celular ao menos uma vez por semana, mas, nos últimos sete dias, nós conversamos diariamente, desde a notícia do adoecimento de Diva causado pela COVID-19.

Stan, a minha irmã está doente.

Fale, por favor, como ela está.

Ela está febril com nariz entupido.

Ela precisa ser examinada por um médico, não adianta ir aí, pois é necessário realizar exames também.

Como assim?

Ela pode estar com COVID.

Ela é a irmã não me dada por minha mãe.

Leve-a em um Posto de Saúde.

Ela tem direito ao mesmo plano de saúde da UNIMED, sempre paguei.

Ela tem sorte de ter uma irmãzinha como você.

Ela é tudo para mim.

Ela vai melhorar, leve-a ao hospital e me mantenha informado.

Ela vai comigo agora mesmo, depois dou um retorno.

Ela foi ao hospital e foi orientada para tratar em casa. No terceiro dia em seu quarto, Sofia piorou.

Ela tinha de ter ficado no hospital, meu filho agora também está com COVID.

Sua casa é grande, fique o mais distante possível, converse apenas pelo celular, fique no quarto mais distante.

A outra moça não quer vir, se nega, estou fazendo todos os serviços da casa.

A moça está certa.

Quando levo o almoço para meu filho, deixo no corredor, ele pega e volta para o quarto e está dizendo: mãe eu quero abraçar você.

Você está usando máscara?

Sim.

Do tipo N95?

Não, comum.

Vou mandar a foto da máscara pelo whatssap, por favor, passe a usar, indicarei também o endereço da loja aí perto da sua casa.

Obrigado.

Vinte e quatro horas depois.

Ela está pior, vou levá-la ao hospital de novo.

No próximo e breve contato.

Ela está no hospital tomando oxigênio.

Horas adiante.

O médico disse ser necessário entubar minha irmã. Ela está com oitenta por cento do pulmão comprometido.

Ela está muito grave.

Ela vai ficar boa, o meu Deus é o Deus das causas impossíveis.

Com certeza. Ela vai ficar boa, se Deus quiser!

Mas o que faço eu aqui sem poder fazer nada, Stanilslaw?

Você vai poder fazer muita coisa quando ela melhorar, ela vai precisar de fisioterapia, cuidados especiais de convalescença, acompanhamento médico com consultas regulares.

Ouvir isso de você me dá esperança, meu Deus é o Deus das causas impossíveis.

Quanto anos tem ela?

Cinquenta.

Ela tem diabetes ou hipertensão?

Tem hipertensão, é comilona, obesa. Mas o meu Deus é o Deus das causas impossíveis.

Oremos, também vou orar. Como se chama ela?

Diva, ela é uma dádiva para mim.

Três horas mais adiante.

Minha filha agora também está com COVID.

Sua filha é moça, vai superar isso; como está Diva?

Está com febre.

A gente vai conversando, mantenha-me informado, por favor.

Preciso cuidar dos meus filhos.

Até logo.

Tchau.

Mensagem no whatssap, às nove horas da noite:

Preciso falar com você, já liguei, mas você não atendeu.

Oi, não liguei porque deixei o celular em casa enquanto ia ao mercado. Como estão as coisas.

Acabou.

Ai, que pena! Meus mais profundos sentimentos. Conte comigo, ligue para mim.

Vou tomar um alprazolam, já tomei um comprimido hoje à tarde.

Cuidado com a dose, não tome em dose excessiva, é perigoso.

Eu preciso. Foi bom ter você nessas horas difíceis. Vou me recolher por alguns dias.

Compreendo, mais uma vez meus sentimentos.

Tchau.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 20/01/2021
Código do texto: T7164380
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