O tapa na bunda

Quem ama gafieira não perde um baile. Ainda mais se o homem for carioca, o que é o caso de Stanislaw Balner, desde sempre branco no samba, porém com razoável a ótima competência para dançar samba, bolero, forró ou soltinho (foxtrote). Não foi fácil conseguir alguma proficiência na dança de salão. Quando morava no Rio de Janeiro, o Stan chegou a ter aulas com Maria Antonieta Guaycurus, a primeira dama da dança no salão no Brasil. No Rio, contumaz, frequentava a Estudantina Musical, o Circo Voador, a Gafieira Elite, entre outros salões menos famosos.

Antonieta ensinou-o a sentir a música; dizia: Rapaz não mexa o corpo antes de sentir o ritmo, calma, seu apressadinho. A verdade é que há o momento de tirar a dama para dançar, ajustar a dama ao abraço e se ajustar ao abraço da dama, sentir a música e fazer o primeiro movimento da dança, que pode ser um molejo do corpo, antes do primeiro passo.

Vitória, capital do Espírito Santo, é onde o Stan mora desde dois mil e cinco, local onde frequenta salões de dança desde então. Entre eles estão a academia de dança Arquitetura da Dança, o Clube 106, o Correria Bar, o Arrasta-pé da Ilha, entre outros. Um deles era a academia do Djavan, quando ela era situada em Jardim da Penha.

O tapa na bunda duma dama ocorreu por uma razão nobre, consequente à decisão rápida. A academia do Djavan tem dois andares com dois salões: um no térreo, menor que o do primeiro andar, bastante amplo. A entrada é, obviamente, por uma porta, que dá no corredor de acesso ao primeiro andar, aonde ocorriam os bailes de sextas-feiras. Depois da entrada, à direita tinha um banco, depois do banco, também à direita, ficava o balcão. Naquele dia, quatro damas estavam sentadas no banco à espera do início da venda dos ingressos. A mais perto do banco, uma bela loura, usava um vestido preto.

Foi dado o início da venda dos ingressos.

As quatro damas se levantaram, a loura virou de costas para o Stan, que estava de pé, quando aconteceu de enxergar uma periplaneta americana (barata grande) na pomposa nádega direita da loura! Se fosse uma blatella germânica (barata pequena), não teria enxergado coisíssima nenhuma.

Gritou para a loura:

Quieta!

E mandou-lhe a tapa na bunda! Cuja eficiência foi fazer a barata cair ao chão para tentar fugir. Inútil! Stan correu um metro e meio atrás dela e pisou-a, impiedosamente, pois só a morte da barata revelava o herói e suprimia a possibilidade dele ser um tarado. A barata era a prova do gesto nobre da tapa na bunda.

Durante o baile, a loura tirou-o para dançar. Constrangido, dançou apenas uma música: um bolero; sem muita conversa. Antes de se esconder nos braços das amigas para conseguir ir até o fim do baile, esgueirando-se de quaisquer possibilidades de trocas de olhares com a loura. Muito grata, por sinal. Apenas no dia seguinte, o homem conseguiu falar do assunto para si mesmo e rir, pedindo que ficasse registrado o fato na memória do riso honesto.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 20/03/2021
Reeditado em 30/03/2021
Código do texto: T7211628
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